Por Milton Lopes (*)

 

1-de-maio-1919-pca-da-seNo 1º de Maio de 1918, com o Brasil já tendo entrado na guerra desde outubro do ano anterior, os operários realizam grande comício no teatro Maison Moderne na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, com a presença de cerca de 3 mil pessoas, em que expressam votos para a conclusão de uma paz em separado entre os proletários de todo o mundo. A revolução ocorrida na Rússia no ano anterior mobilizava os anarquistas e sindicalistas revolucionários, que acreditavam que esta seguiria rumos libertários. Assim, os operários reunidos no Maison Moderne também manifestam sua “profunda simpatia pelo povo russo, nesse momento em luta aberta contra o capitalismo e o Estado”.[52]

A atitude resoluta dos anarquistas em pregar o internacionalismo proletário em tempo de guerra, assim como a inserção em lutas populares como a que foi empreendida contra a alta do custo de vida e o desemprego que se alastrava pelos meios operários em função de menores horários nas fábricas, provocados pela superprodução, assim como a já citada eclosão da Revolução Russa, que enchia de esperanças de transformações sociais os oprimidos, serão os fatores que levarão a que o 1º de Maio de 1919 tenha uma intensa participação dos trabalhadores, principalmente no Rio de Janeiro. O barbeiro e militante anarquista de origem portuguesa Amílcar dos Santos (nascido em 1900), que delas participou, mais tarde relataria:

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Manifestação operária em 1º de Maio de 1919 no Rio de Janeiro. Reproduzida da Revista da Semana, 10 de maio de 1919.

“O 1º de Maio de 1919 foi uma manifestação sem precedentes no Rio de Janeiro. A polícia e o governo ficaram preocupados seriamente. Na Avenida Rio Branco, cheia desde a Praça Mauá até a Praça Floriano Peixoto, havia várias tribunas, onde oradores anarquistas defendiam as suas doutrinas sociais, sem o menor constrangimento. Essa grande massa humana, ao longo da Avenida, dava vivas à liberdade e à igualdade. Como a polícia limitou-se, apenas, a observar sem nenhuma interferência ou restrição, as manifestações terminaram em paz. Floresciam, então, as associações operárias. A polícia fechara a Federação (Operária), mas havia o Centro Cosmopolita, a União dos Tecelões, a União dos Operários em Construção Civil, a dos Sapateiros, as duas últimas na Praça da República 45.”[53]

O 1º de Maio daquele ano, já definido como “o mais brilhante do Brasil” teve comício-monstro no Rio organizado pelo Partido Comunista, fundado a 9 de março daquele ano. Apesar do nome, este partido possuía características libertárias e se dissolveria em pouco tempo, ao perceberem os anarquistas os caminhos autoritários e estatais que os bolchevistas imprimiam aos acontecimentos na Rússia, apoderando-se da revolução popular ocorrida naquele país. A então capital federal assistira em novembro de 1918 a uma tentativa insurrecional anarquista, abortada pela repressão policial. Este comício realizou-se em torno da estátua do Visconde do Rio Branco na Praça Mauá, na região portuária do Rio.[54] Os militantes presos em conseqüência da tentativa insurrecional de 1918 foram soltos a tempo de assisti-lo, menos cinco operários detidos em Magé, que foram objeto de uma das moções aprovadas no comício, protestando contra sua detenção. Ao comício, seguiu-se passeata, tendo à frente a comissão do PC libertário com seu pavilhão. Cálculo da época indica que dela teriam participado 60 mil pessoas. Esta se encerrou com novo comício, desta vez de encerramento, com os oradores falando das escadarias do Teatro Municipal.[55]

Mas não só no Rio houve manifestações grandiosas dos trabalhadores. Elas também ocorreram em Niterói, na praça em frente à estação das barcas que fazem o trajeto Rio-Niterói, palco de violentos conflitos entre grevistas e a polícia no ano anterior. Em Recife, operários cantaram em coro a Internacional na sede da Federação Operária de Pernambuco. Em São Paulo não houve comemoração da data, pois 20 mil operários encontravam-se em greve, travando-se numerosos conflitos com a polícia, na capital e em cidades do interior.[56]

Manifestações de tal magnitude voltariam a ocorrer no Rio durante o 1º de Maio de 1922. Embora naquele ano tivesse sido fundado um partido comunista de orientação marxista-leninista, este se uniu aos anarquistas nas comemorações, obedecendo a instruções para formação de frentes únicas, emanada da 3ª Internacional de Moscou.[57]

Em 1923, as comemorações ressentiram-se do estado de sítio vigente no país. Os protestos daquele ano ficaram marcados pela campanha internacional pró-Sacco e Vanzetti, os dois anarquistas italianos presos nos Estados Unidos sob falsa acusação de assalto ao pagamento de uma fábrica e que penariam na prisão durante anos até serem executados na cadeira elétrica em agosto de 1927, em um ato que abalou todos os recantos do mundo. O número de 1º de Maio do jornal A Plebe de São Paulo publicou uma carta de Sacco e Vanzetti dirigida originalmente ao jornal francês Le Libertaire, que foi lida em diversas assembléias operárias durante o dia 1º.[58] Ainda no Rio, à noite houve comícios em várias sedes sindicais.[59] O 1º e Maio de 1923 marcou ainda o lançamento do jornal A Revolução Social, editado pelo grupo de comunistas libertários do Rio de Janeiro e que se organizava desde o início do ano. O grupo levava o título do romance de um de seus principais membros, o escritor Fábio Luz (1864-1938) e se propunha a manter um “anarquismo puro”, considerando que o jornal A Plebe de São Paulo apresentava cada vez mais tendência a adotar o sindicalismo como ideologia, em substituição ao anarquismo, depois da saída de Edgar Leuenroth (1881-1968) de sua redação. O jornal lançou poucas edições, mas provocou polêmica nos meios anarquistas e operários.[60]

1924 será o ano em que os comícios de 1º de Maio no Rio de Janeiro passarão a dividir-se entre dois logradouros públicos. O Partido Comunista do Brasil, a central sindical comandada pelo líder pelego Sarandy Raposo e a União dos Operários em Fábricas de Tecidos conclamam seus filiados a comparecerem a comício na Praça Mauá. A Federação Operária do Rio de Janeiro, sob orientação anarquista, convida os trabalhadores em geral a comício na Praça 11 às 14 horas, após sessão na sede da FORJ ao meio dia. Os participantes do comício da Praça 11, após seu término, dirigem-se em passeata para o da Praça Mauá.[61] No entanto, os dois comícios foram fracos, já demonstrando o quanto as divisões internas nos movimentos sindical e operário, causadas pelos pelegos e pelo PCB, já haviam começado a miná-los no que possuíam em termos de capacidade luta para transformações.

Em São Paulo, os anarquistas denunciaram no texto do manifesto relativo ao 1º de Maio as violências praticadas pelos bolchevistas na Rússia. No entanto, os comunistas fizeram com que estas passagens fossem cortadas da redação final do documento. Os anarquistas demonstraram a seguir como o PCB exercia controle sobre o comitê das associações operárias, por tal motivo tendo censurado o texto original do manifesto. Sucedendo ao orador João da Costa Pimenta (que tinha abandonado o anarquismo pelo PCB) durante os discursos no Salão Celso Garcia, em São Paulo, o militante anarquista Florentino de Carvalho (1878-1947) voltou às acusações contra o PCB, cujos integrantes presentes tiveram que se retirar da reunião sob vaias da platéia.[62] Edgard Leuenroth, por sua vez, respondendo a artigos aparecidos na imprensa do PCB destaca, em A Plebe, a obra de dezenas de anos de luta incessante dos anarquistas.[63]

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O Cosmopolita, Rio de Janeiro, número 9, 1º de maio de 1917. Acervo do AMORJ, coleção ASMOB.

Algum tempo depois do 1º de Maio daquele ano, explodiu em São Paulo o chamado “segundo 5 de julho”, alusão aos dois levantes militares que se insurgiram contra os governos da Primeira República (1889-1930). Artur Bernardes, eleito presidente da república e tomando posse em 1922, será o alvo desta segunda e também fracassada tentativa de tomada do poder pelos militares revoltosos. O segundo 5 de julho (o primeiro fora em 1922) significará a decretação de uma série de medidas repressivas por Bernardes, que, na verdade, só ampliará medidas neste sentido que já haviam começado a ser adotadas no governo de seu antecessor, Epitácio Pessoa (1919-1922).

Epitácio, por sua vez, também dera continuidade a antecessores ao deportar grande número de militantes operários de origem estrangeira. Ainda no governo de Pessoa o decreto 4.247, de 6 de janeiro de 1921 sobre a entrada de estrangeiros também regulava medidas de deportação. A 17 de janeiro do mesmo ano era emitido o decreto 4.269 que regulava expressamente a repressão ao anarquismo. A 6 de novembro de 1922, em final de governo, Epitácio Pessoa decretou um “Regulamento Geral de Polícia”. Bernardes logo ao tomar posse, a 20 de novembro de 1922, assinou decreto que, entre outras medidas relativas à polícia, institui a 4ª delegacia auxiliar, formalizando assim a existência de uma polícia política na então capital do país.[64] Como chefe da nova repartição policial foi colocado o major Carlos da Silva Reis, significativamente mais tarde enviado à Itália Fascista, para estudar sua legislação trabalhista, com vistas à sua adaptação ao Brasil.

Para os anarquistas do Brasil, o período Bernardes (1922-1926), sob estado de sítio, vai caracterizar-se por prisões em massa, deportações e, acima de tudo, por serem enviados para o campo de concentração de Clevelândia, no então território do Amapá, próximo à fronteira com a Guiana, onde vários virão a morrer em conseqüência de fome, doenças e maus tratos. E é na própria Clevelândia que um grupo de militantes ácratas reúne-se no 1º de Maio de 1925 para comemorar seu dia de luta, segundo depoimento de um deles, Domingos Passos, publicado no jornal anarco-sindicalista A Batalha de Lisboa.[65] Na mesma data, era lançado no Rio de Janeiro um Partido Socialista Brasileiro, com o apoio do PCB, com vistas a eleições que se realizariam no ano seguinte.[66]

Já em 1926 a vertente libertária do movimento operário tenta recuperar-se, mas o 1º de Maio deste ano apresenta pouca expressividade, em comparação com o brilho de maios anteriores. Algumas poucas publicações libertárias em São Paulo e do Rio Grande do Sul (menos atingido pela repressão) relembram o verdadeiro significado da data.[67] No comício da praça Mauá no Rio de Janeiro, o ex-anarquista Pedro Bastos, agora a serviço do PCB, vocifera contra o anarquista Carlos Dias por este ter sido escolhido para representar os trabalhadores brasileiros no congresso da Organização Internacional do Trabalho em Genebra.[68] Dois anos depois, Bastos estaria envolvido em um episódio no Sindicato dos Gráficos do Rio de Janeiro, em que membros do PCB atiraram sobre militantes anarquistas indefesos, matando um deles, o sapateiro Antonino Dominguez.

As comemorações de 1927 no Rio de Janeiro ainda apresentam um certo brilho, mas continuam mantendo a separação entre os comícios da Praça 11 (anarquistas) e Praça Mauá (comunistas e pelegos). Publicações libertárias dão destaque à data em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Em São Paulo, A Plebe havia voltado a circular, mas por pouco tempo, pois seria novamente proibida ao dar destaque às manifestações contra a execução de Sacco e Vanzetti nos Estados Unidos (agosto de 1927).[69] No comício da Praça 11 comparecem mais de 60 mil pessoas (depoimento do militante anarquista Manuel Lopes).[70]

Até 1929 continuaram no Rio de Janeiro as manifestações do 1º de Maio, mas sem a mesma expressividade de outros tempos. Uma nova era prenunciava-se com o advento da década de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.

As oligarquias que comandavam a Primeira República, instituída em 1889, passam a desentender-se. A ruptura final ocorre em torno da sucessão presidencial de Washington Luís (1926-1930); Getúlio Vargas, governador do Rio Grande do Sul, candidata-se à presidência pela chamada Aliança Liberal contra o paulista Júlio Prestes, candidato da situação. Prestes vence o pleito, em eleições fraudulentas, o que precipita um movimento armado em outubro de 1930, que levaria Getúlio ao Palácio do Catete, sede presidencial no Rio, por um “curto período” de quinze anos, complementado por outros três (1951-1954), quando eleito por voto direto antes de seu suicídio, em meio a grave crise política.

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Vargas desfilando na concentração trabalhista de 1º de Maio no estádio do Pacaembu, São Paulo, 1944. (CPDOC/AMF foto 008/7)

Durante a era Vargas o sindicalismo livre, que havia permitido um formidável vetor social aos anarquistas, sofrerá duros golpes, de certa forma antecipados no governo de Bernardes. A década de 1930 verá surgir no Brasil um poderoso partido de inspiração fascista, a Ação Integralista Brasileira, que chega a se constituir em movimento de massas com centenas de milhares de filiados por todo o Brasil. Vargas, por sua vez, embora com uma aproximação cada vez maior dos governos das potências nazifascistas, que contavam com numerosos simpatizantes entre a elite política e social brasileira, acabará enganando os fascistas locais, e instalando sua própria ditadura em 1937, após esmagar tentativa insurrecional do PCB em 1935. A ofensiva varguista em relação aos sindicatos se dará em três frentes:

1. Repressão policial. Com o aperfeiçoamento do aparato policial de caráter político herdado da antiga república (vide Bernardes), tomando como modelo aparelhos repressivos montados pelas polícias fascistas européias. Tal repressão terá grande incremento a partir dos acontecimentos de 1935, com prisões em massa, torturas e assassinatos de liberais e militantes de esquerda (os anarquistas entre eles).

2. Emissão de legislação incidindo sobre o movimento sindical. Tal legislação criou de imediato o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (Decreto 19.443, de 20 de novembro de 1930), basicamente encarregado de controlar pelo governo a questão sindical. Outras leis emitidas no período Vargas restringiam o acesso aos cargos sindicais apenas a pessoas previamente avaliadas pelas autoridades, obrigando os trabalhadores a possuírem um único sindicato para cada categoria e instituem o imposto sindical. Após o golpe de estado de 1937, apenas os sindicatos reconhecidos pelo governo (ou seja, sob seu domínio) teriam existência legal reconhecida.[71] Para adoçar estas e outras medidas, diretamente copiadas da legislação fascista italiana, Vargas decreta em 1943 a Consolidação das Leis do Trabalho, que garantia direitos básicos ao trabalhador, no mesmo ano em que falando no rádio no 1º de Maio insiste sobre a necessidade da sindicalização obrigatória, lançando campanha neste sentido.[72]

3. Apropriação do 1º de Maio por Vargas. Para efeito de propaganda, principalmente a partir da implantação do Estado novo em 1937, o 1º de Maio torna-se uma festa getulista, recheada de cerimônias e desfiles, com Vargas discursando aos “Trabalhadores do Brasil”, enquanto mulheres, colegiais e desportistas marchavam disciplinadamente para agradecer direitos recebidos de Vargas “pai dos pobres” e “mãe dos ricos”.

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Concentração trabalhista de 1º de Maio no estádio do Pacaembu, São Paulo, 1944. (CPDOC/CDA Vargas)

Apesar desta ofensiva autoritária sobre o sindicalismo livre, há resistência por parte dos trabalhadores pela domesticação e cooptação de seu movimento. A 1º de maio de 1931, a União Operária do Paraná relembra a origem do 1º de Maio como dia de protesto e luta em seu jornal O Operário, mais uma vez protestando contra:

“uma das mais clamorosas injustiças registradas nas páginas da história: o enforcamento, numa das praças públicas de Chicago, nos Estados Unidos, dos idealistas proletários”.[73]

Significativamente, o 1º de Maio de 1931 passou-se entre conflitos entre a polícia e os manifestantes, principalmente no Rio de Janeiro (com dois feridos à bala) e em Recife. Em 1932, mesmo com uma cena política tumultuada, que culminaria em junho com uma revolta da oligarquia paulista, que se sentia preterida por Vargas, na chamada Revolução Constitucionalista, o 1º de Maio é comemorado na capital daquele estado com diversos comícios promovidos pela Federação Operária e os sindicatos a ela filiados em vários bairros da cidade.[74] Naquele ano, chamam novamente a atenção as comemorações em Curitiba, que apontam para a origem classista da data, relembrando os mártires de Chicago, contrapondo-se àqueles que dela pretendem fazer apenas um momento festivo.[75] No Rio de Janeiro, os trabalhadores distribuíram um manifesto conclamando os operários a manterem-se à margem da política institucional e eleitoral, apelando pela sua união, pela liberdade sindical, contra os fascistas, a Igreja Católica, “os pseudo-socialistas, pseudo-comunistas, provocadores e ambiciosos”.[76]

É ainda em Curitiba que a Federação Operária do Paraná, ainda sob forte influência anarquista, lança seu jornal 1º de Maio, no 1º de maio de 1933. Em São Paulo, na mesma data, os chapeleiros lançam seu jornal O Trabalhador Chapeleiro, sob a bandeira anarco-sindicalista, totalmente dedicado aos Mártires de Chicago. Mas as manifestações foram proibidas pelas autoridades. Mesmo assim, a Federação Operária de São Paulo convocou um comício na Praça da Sé. Com a suspensão do comício pela polícia, centenas de trabalhadores marcharam até à sede da Federação cantando a Internacional. A polícia então invadiu a sede da Federação Operária de São Paulo, interditando-a por dois dias e prendendo todos os que ali se encontravam, só os libertando à noite.[77] No Rio de Janeiro, a escalada fascista resultava na fundação, durante o 1º de Maio, de uma publicação destinada a combatê-la, um jornal também denominado Primeiro de Maio.[78]

No ano seguinte, em um primeiro de maio denominado de “maio sem sol”, as comemorações em São Paulo iniciaram-se a 30 de abril, com um festival de confraternização no Salão Celso Garcia, com a presença dos sindicatos filiados à Federação Operária de São Paulo, conferência e representação de peça de teatro social. No dia seguinte, as comemorações transferiram-se para a sede da Federação, onde se constituiu um Plenário-Conferência Pró Organização da Confederação Operária Brasileira, central sindical de inspiração anarco-sindicalista, e visando à realização do 4º Congresso Operário Nacional.[79] As comemorações ocorrem regularmente em cidades como Jundiaí, Campinas, Santos e Rio de Janeiro.[80]

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Manifestação cívica no Dia do Trabalho em homenagem a Vargas no estádio do Vasco da Gama, Rio de Janeiro, 1941. (CPDOC/ CDA Vargas)

O projeto dos anarquistas de, em meio à crescente violência da repressão policial e de limitações de liberdades públicas e sindicais, refundar uma central sindical de matriz libertário não obtive êxito, em vista da perseguição ainda mais violenta que se abateu sobre os movimentos sociais a partir do final de 1935, de que muitos anarquistas também foram vítimas. As comemorações de 1º de Maio com caráter de luta tendiam cada vez mais a decair ou a sumir de cenário. Até mesmo os fascistas da Ação Integralista tentam apoderar-se da data, como se confere por proclamação integralista em Porto Alegre, no 1º de Maio de 1937, apontando para Convenção Trabalhista que teriam realizado no Rio em dezembro de 1936.[81] Mas para os fascistas ideológicos será inútil. Getulio os usará como suporte para seu próprio golpe de estado a 10 de novembro de 1937, instaurando uma ditadura que irá até 1945. No decorrer do Estado Novo, como já observado, o 1º de Maio será comemorado com desfiles e paradas de agradecimento ao regime e sua glorificação, com os sindicatos totalmente atrelados à máquina estatal e sendo dirigidos por elementos de confiança do governo. Para os verdadeiros construtores e mantenedores de um 1º de Maio de luta e protesto, só restava a perseguição e a prisão, se colocassem oposição ao projeto autoritário varguista.

Com a deposição de Vargas e o fim do chamado Estado Novo em 1945, a situação em relação ao controle dos sindicatos praticamente em nada se modificou. Mantida a legislação getulista, copiada do fascismo italiano, os mecanismos para o domínio de pelegos e reformistas continuaram a asfixiar qualquer tentativa de um sindicalismo livre, apolítico (no sentido de não participar da política partidária), classista e combativo. Os anarquistas, que haviam sido decisivos na sua construção e manutenção, continuaram a ser deles alijados, embora tentassem voltar a inserir-se nos sindicatos. No entanto, se estas condições objetivas impediam um renascimento do sindicalismo revolucionário, que desde a década de 1920 sofreu dura repressão e esvaziamento por via legislativa, é preciso também notar que, historicamente, os anarquistas do Brasil ressentiram-se da falta de organizações específicas e orgânicas (embora algumas tenham existido), diluindo-se seus militantes em meio ao sindicalismo, muitas vezes sem uma visão clara dos fins da militância anarquista.

Ao final da ditadura varguista, o movimento operário independente havia sido esmagado pela máquina estatal e pela atuação aparelhista e política do PCB. O anarquismo tende cada vez mais a concentrar-se em um número menor de militantes, porém mais conscientes ideologicamente. As comemorações do 1º de Maio continuam a ter um cunho oficial, já que os sindicatos continuam atrelados ao Estado.

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A Plebe – São Paulo, número 1, nova fase, 1º de maio de 1947. Acervo do AMORJ, coleção ASMOB.

A 1º de maio de 1946, o jornal anarquista Ação Direta, que começara a ser editado no Rio de Janeiro pouco tempo antes, procura esclarecer seus leitores sobre o real significado da data, contrariando o tom cada vez mais festivo que se procura imprimir a esta, como continuavam gritando “os políticos malandros da velha burguesia, ou da burguesia novíssima, a tal progressista”. Os militantes anarquistas que conseguiram escapar à fúria repressora dos últimos anos reuniram-se no dia 30 de abril em um espetáculo de teatro social em São Paulo. No dia seguinte, houve uma sessão no Salão das Casses Laboriosas naquela cidade. Comemorações anarquistas ocorreram em outros pontos do Brasil, com a distribuição de manifestos.[82] No 1º de Maio de 1947, ressurge em São Paulo A Plebe, antiga publicação anarquista grandemente influenciada pelo sindicalismo revolucionário, que não era publicada desde 1945, agora em sua última fase, que iria até 1951.[83] Os anarquistas manterão procedimentos similares nas comemorações do 1º de Maio dos anos seguintes, com sua imprensa alternativa alertando os trabalhadores sobre o real significado da data. Em 1958, passarão a editar um jornal voltado para o sindicalismo, Ação Sindical. Um dos trabalhadores que ali colaboravam, o sapateiro anarquista Pedro Catalo (1901-1969), analisava em texto publicado na 1ª edição daquela publicação:

“Os sindicatos, tal como estão hoje aqui no Brasil e em boa parte do mundo (…) desencantam e amortecem as mais vivas paixões que possam povoar os anseios proletários. São peças justapostas de uma máquina montada pelos governantes, com a finalidade única de manobrar os trabalhadores, reduzindo-os a conglomerados numéricos, sem vontade própria e sem expressão ideológica. São órgãos desvitalizados, anêmicos de pensamentos, paupérrimos de pretensões, sujeitos terminantemente à intervenção ministerial.”[84]

Catalo continuava seu texto exprimindo a esperança de que este “ciclo de hibernação” dos trabalhadores estivesse por terminar, acrescentando, no entanto, que este seria “um despertar lento, porém marcante e decisivo”. Catalo, no mesmo texto, manifestava ainda a crença de que aos sindicatos caberia ainda “organizar a produção, o consumo e a distribuição. A missão histórica dos sindicatos proletários é a de moralizar o gênero humano (…).”[85]

Nos anos seguintes, pouco mudou o panorama sindical brasileiro e, consequentemente, o 1º de Maio. O sindicalismo reformista continuou fortalecendo-se, com o PCB tentando auferir vantagens para si dentro desta estrutura. A situação piorou com o golpe militar de 1º de abril de 1964, resposta da direita ao populismo do presidente João Goulart, herdeiro direto da tradição varguista, golpe que contou com o apoio do imperialismo norte-americano e instalou no poder uma ditadura militar que se estenderia até 1985. Neste período, militantes anarquistas também foram presos e torturados, assim como os de todas as correntes de esquerda. Ao final da década de 1970, já na fase terminal da ditadura, com o surgimento de um movimento sindical no ABC paulista, com greves de enfrentamento à ditadura, com o surgimento de um sindicalismo que questionava o papel oficial dos sindicatos, houve alguma esperança entre os libertários de que houvesse a retomada de um sindicalismo independente. Tal esperança manteve-se por muito curto espaço de tempo, com a fundação logo em seguida do Partido dos Trabalhadores (PT), que conduziu os operários para a via política partidária institucional. Os resultados que vemos hoje, são de um PT que agora é partido de governo e está aliado ao que há de mais deletério na política institucional brasileira. Sua central sindical, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), cumpre novamente o mesmo velho papel de correia de transmissão dos governantes para os trabalhadores.

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Os Mártires de Chicago.

Por outro lado, o fim da ditadura significou a emergência de outros espaços de luta social (associações de moradores por um curto espaço de tempo, movimentos de sem-terra, sem-teto, desempregados, etc.) onde hoje se inserem os anarquistas organizados, sem haver abandonado suas tentativas de inclusão no movimento sindical. Nestes espaços, os anarquistas podem e devem realizar significativa participação, fiéis aos princípios que orientaram os Mártires de Chicago em 1886.

(*) Jornalista, coordenador do Núcleo de Pesquisa Marques da Costa (dedicado à preservação e defesa da memória anarquista), integrante da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ).

Acesse aqui as partes 1 e 2.

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NOTAS

[52] Roio, op.cit., p. 135.

[53] Edgar Rodrigues, Nacionalismo e Cultura Social. Rio de Janeiro: Laemmert, 1972, pp. 265-266.

[54] Moniz Bandeira, Clóvis Melo e A. T. Andrade. O Ano Vermelho A Revolução Russa e seus Reflexos no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967, p. 181, citando o jornal do Rio A Razão de 2 de maio de 1919.

[55] Ibidem, pp. 182-183.

[56] Ibidem, pp. 183-184.

[57] John W. Foster Dulles. Anarquistas e Comunistas no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.

[58] Uma Carta de Sacco e Vanzetti ao Proletariado Revolucionário. In: A Plebe, São Paulo, Ano VI, número 208, 1º de maio de 1923.

[59] Edgar Rodrigues. Novos Rumos. Rio de Janeiro: Edições Mundo Livre, 1976. pp. 67-71.

[60] Dulles, op.cit., p. 173.

[61] Dulles, op. cit., pp.184-185.

[62] Ibidem, p. 185.

[63] Ibidem, p. 186, citando A Plebe número 238, de 31 de maio de 1924.

[64] Alexandre Samis, Clevelândia: Anarquismo, Sindicalismo e Repressão Política no Brasil. São Paulo: Editora Imaginário; Rio de Janeiro: Achiamé, 2002, pp. 93-98.

[65] Samis, op.cit., p. 324.

[66] Dulles, op.cit., p. 231.

[67] Edgar Rodrigues. Novos Rumos, p. 256.

[68] Dulles, op.cit, p. 240.

[69] Edgar Rodrigues. Novos Rumos, p. 264.

[70] Ibidem, p. 267.

[71] Evaristo de Moraes Filho. O Problema do Sindicato Único no Brasil Seus Fundamentos Sociológicos. 2ª ed., São Paulo: Alfa-Ômega, p. 216 e seguintes.

[72] Ibidem, p. 256 e segs.

[73] Cardoso e Araújo, op.cit., p. 50.

[74] Edgar Rodrigues. O Ressurgir do Anarquismo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1993, p. 19.

[75] Cardoso e Araújo, op.cit., pp. 50-51; Edgar Rodrigues. Novos Rumos, p. 341.

[76] Edgar Rodrigues. O Ressurgir do Anarquismo, p. 20.

[77] Dulles, op.cit., pp. 407-408.

[78] Edgar Rodrigues. Novos Rumos, p. 375.

[79] Edgar Rodrigues. Alvorada Operária. Rio de Janeiro: Edições Mundo Livre, 1979, pp. 300-302; Novos Rumos, pp. 374-375.

[80] Rodrigues, O Ressurgir do Anarquismo, p. 27.

[81] Sílvia Regina Ferraz Petersen e Maria Elizabeth Lucas (org.). Antologia do Movimento Operário Gaúcho 1870-1937. Porto Alegre: editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1992, pp. 484-485.

[82] Edgar Rodrigues. A Nova Aurora Libertária (1945-1948), Rio de Janeiro: Achiamé, 1992.

[83] A Plebe, São Paulo, Ano 30, número 15, 1º de maio de 1947.

[84] Edgar Rodrigues. Entre Ditaduras (1948-1962). Rio de Janeiro: Achiamé, 1993, pp. 170-171.

[85] Ibidem.

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BIBLIOGRAFIA

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A Voz do Trabalhador. Coleção Fac-Similar do Jornal da Confederação Operária Brasileira 1908-1915. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, 1985.

JORNAIS

O Amigo do Povo, São Paulo, Ano I, número 4, 25 de maio de 1902; Ano III, número 53, 14 de maio de 1904.

A Greve, Rio de Janeiro, Ano I, número 2, 15 de maio de 1903.

A Voz do Trabalhador, Rio de Janeiro, Ano VI, número 30, 1º de maio de 1913; Ano VII, números 53-64, 1º de maio de 1914.

A Revolta, Santos, Ano II, número 7, 1º de maio de 1914.

A Luta Social, Manaus, 1º Ano, número 2, 1º de maio de 1914.

Na Barricada, Rio de Janeiro, Ano II, número 4, 1º de maio de 1916.

A Plebe, São Paulo, Ano 30, número 15, nova fase, 1º de maio de 1947.

8 COMENTÁRIOS

  1. CARTA À FARJ SOBRE A HISTÓRIA DO ANARQUISMO E DO 1º DE MAIO NO BRASIL.

    Lamentável que tenhamos que apontar o uso distorcido das fontes, principalmente do material do historiador Edgar Rodrigues, o jornal a PLEBE, o jornal a Voz do Trabalhador, o Amigo do Povo, a Greve, a Revolta, a Luta Social, a Barricada, num ato intencional de ataque a memória do movimento operário no Brasil.

    1- O texto tem um viés ideológico muito grande que muda o conteúdo da interpretação dos fatos históricos.
    Existe uma visão equivocadamente especifista como forma de justificar a traição da FARJ em não aderir às resoluções da Primeira Jornada Libertaria, em Florianópolis (1986) que lançou as bases para reorganização da COB e da organização dos anarquistas; e o Primeiro Congresso Anarquista pós ditadura, realizado no 1º de maio de 1986, nas sede do Centro de Cultura Social, à Rua Rubino de Oliveira, 85 – Brás, São Paulo.
    A resolução primeira foi a da Reorganização da COB no Brasil.

    Prende-se mais a necessidade de afirmar-se no campo ideológico, modificando intencionalmente a realidade dos fatos.

    A CONFEDERAÇÃO OPERÁRIA BRASILEIRA, NUNCA FOI ANARCO-SINDICALISTA!

    Foi criada, dentro de uma visão anarquista, como um instrumento aglutinador do movimento operário e não para atender segmentos ideológicos do movimento.

    Como comprovam as bases de acordo da COB.

    BASES DE ACORDO
    1º Congresso Operário Brasileiro, 1906, Rio de Janeiro.

    “a) A Confederação Operária Brasileira organizada sobre as presentes bases de acordo tem por fim promover a união dos trabalhadores assalariados para a defesa dos seus interesses morais e materiais, econômicos e profissionais.

    b) Estreitar os laços de solidariedade entre o proletariado organizado, dando mais força e coesão aos seus esforços e reivindicações, tanto moral como material.

    c) Estudar e propagar os meios de emancipação do proletariado e defender em público as reivindicações econômicas dos trabalhadores, servindo-se para isso de todos os meios de propaganda conhecidos. Nomeadamente de um jornal que se intitulará A Voz do Trabalhador.

    d) Reunir e publicar dados estatísticos e informações exatas sobre o movimento operário e as condições de trabalho em todo país.”

    2 – Apontamos também o esquecimento, entre outros, do importante fato histórico que foi o Decreto do Estado de sítio, que suprimiu os direitos civis no país, para reprimir o movimento operário em detrimento as amplas Conquistas Sociais alcançadas pelos trabalhadores organizados.

    Salientamos também o desconhecimento da legislação que tornou obrigatório o uso da Carteira Profissional de Trabalho, onde o Estado e a ditadura através do seu aliado o Partido Comunista do Brasil, agindo como interventores do movimento, se valem da sua implantação com a finalidade de: a) fichar os trabalhadores, b) fechar sindicatos e a COB, c) perseguir os anarquistas e desarticular o sindicalismo livre. Impedindo sua sobrevivência enquanto proposta sindical nos “novos” sindicatos, criados pela Revolução burguesa de 1930. Com base na Organização Internacional do Trabalho-OIT (1919) regulamentada pela ideologia fascista na Carta do Trabalho (1927) adotada por Vargas.
    Decreto nº 21.175, de 21 de março de 1932 e regulamentada pelo Decreto nº. 22.035, de 29 de outubro de 1932

    CONFEDERAÇÃO OPERÁRIA BRASILEIRA
    SEÇÃO DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES

  2. Primeiro: “o uso distorcido das fontes, principalmente do material do historiador Edgar Rodrigues, o jornal a PLEBE, o jornal a Voz do Trabalhador, o Amigo do Povo, a Greve, a Revolta, a Luta Social, a Barricada”

    Os jornais que você cita não são PROPRIEDADE DO HISTORIADOR EDGAR RODRIGUES, mas sim jornais operários que podem ser encontrados em diversos arquivos públicos, de livre acesso (CEDEM, UNICAMP, AMORJ, BIBLIOTECA NACIONAL) e portanto são patrimônio da classe trabalhadora.

    Segundo. Problema de anacronismo grave, talvez até PATOLÓGICO: A FARJ foi fundada em 2003, não há como trair determinadas resoluções em 1986 se a referida organização não existia (mero detalhe obviamente). “justificar a traição da FARJ em não aderir às resoluções da Primeira Jornada Libertaria, em Florianópolis (1986)” E outra pergunta capciosa, Traição a quem e ao que?

    Terceiro, coisa de historiador: “modificando intencionalmente a realidade dos fatos.” E quem diz o que é a realidade dos fatos? Os próprios fatos? Se for há um problema de interpretação histórica; os fatos por si só não dizem nada: toda fonte história requer interpretação. Não se modifica a realidade dos fatos, pois o passado é um objeto estrangeiro: o que se faz (sempre) no ofício histórico é interpretação dos fatos. Não há uma “essência pura” contida no documento histórico, isto é positivismo, se alguém pensa assim, deve reavaliar imediatamente seu ofício historiográfico.

    Quarto: Parabéns ao Milton Lopes pelo artigo, que contribui imensamente para compreendermos a história dos trabalhadores. O artigo é extremamente verossímil e foi construído com um intenso e árduo trabalho de investigação.

  3. ALGUMAS QUESTÕES:

    Traição da FARJ por não aderir às resoluções da Primeira Jornada Libertaria, em Florianópolis (1986) que lançou as bases para reorganização da COB e da organização dos anarquistas; e o Primeiro Congresso Anarquista pós ditadura, realizado no 1º de maio de 1986!?!?!?!

    Por acaso é obrigatório que todas as organizações anarquistas sejam anarco-sindicalistas?????

    Por acaso tudo que de bom existe e existiu na história do anarquismo está vinculado ao anarco-sindicalismo????

    Tudo o que não é ou foi vinculado ao anarco-sindicalismo nao presta???

    O que o “Fábio Luz” (coitado do Fábio Luz original) tem na cabeça?

  4. Rafael e Alvaro!

    Lamento por vc que não conheça um pouco dos acordos e da história do movimento libertário brasileiro. Pois se assim o fosse, muitos mais poderíamos andar juntos.
    – Os remanescentes do movimento libertário e dos sindicatos livres da confederação operaria brasileira, nos seus ideais, acordes, congressos e aspirações não morreram nos anos das ditaduras militares, primeiro a de Getulio Vargas e segundo a do Castelo Branco.
    – Os militantes se reuniam como podiam para permanecerem articulados e assim contribuíram para os acontecimentos históricos que se sucederam.
    O Centro de estudos professor José Oiticica, com seus militantes, Ideal Peres, Edgar Rodrigues, Diamantino, Ester Redes e outros foram um esteio no Rio de Janeiro. Assim como o Cuberos e outros em São Paulo, o Manolo em outros no RS, o Antonio e outros na Bahia. Poderia citar o Domingos Stamatto e outros no Pará, …
    A retomada nas ruas da expressão anarkista, tem seus marcos também em alguns acontecimentos, como em 1967/68/69, contra o acôrdo Mec/usaid, onde poderiamos citar o Movimento Estudantil Libertario no Rio de Janeiro e o Jornal O Protesto no RS.
    Como poderiamos citar a iniciativa dos militantes bancários do Jornal O protesto, de porto alegre, para a derrubada da intervenção no sindicato dos bancários da Capital e a sua denuncia, em 1969, em Brasília, durante o Congresso da Contag, do regime militar, do Fundo de Garantia FGTS como instrumento de Derrubada da estabilidade no emprego dos trabalhadores e da necessidade de recuperação da história do sindicalismo livre e da Conquista dos Direitos sociais dos trabalhadores no Brasil com a ação sindical da COB e dos anarkistas, destruída por Getúlio Vargas.
    Vamos citar também as iniciativas em São Paulo, da recuperação dos arquivos do movimento sindical e anarquista. Da transformação do jornal O Libertário, em O Dealbar para continuar atuando mesmo durante o AI5.
    No, RS, em Porto Alegre,nos anos de 1967 a 1971, o jornal mimeografado “AUTOGESTÃO OPERÁRIA” e as edições de livros, pelas Edições Proa da Gráfica Trevo (empasteladas pela repressão).
    Todas essas iniciativas articulavam-se com solidariedade e expressões nacionais, através de acordos que dadas as dificuldades vinham a acontecer anos após.
    É importante também a ação libertaria na derrubada da “direita que controlava o dce da puc/rs nos anos de 1973/75. É importante citar a contribuição do Centro Acadêmico Visconde de Mauá/PUC RS (eco/adm/contabeis), na reconstrução da UNE e dos Primeiro Encontro Locais, Regionais e Nacionais de Estudantes de Administração, 1975/76/77, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Florianópolis, Curitiba.
    Assim como podemos falar da Reabertura do Centro de Cultura Social de São Paulo, o Jornal O Inimigo do Rei, com suas editorias autogestionárias, sustentadas por BAHIA, RIO DE JANEIRO, SÃO PAULO, RIO GRANDE DO SUL (1977 a 1982), antes da infiltração do Morelli (1986).
    O encontro anarkista, de 1982 em Florianópolis, noticiados no Jornal O Inimigo do Rei e que levaram a formulação da Primeira Jornada Libertária Brasileira de 1986, em Florianópolis.
    (Os acordos pela reconstrução dos sindicatos livres, das organizações anarkistas, da pedagogia libertaria, da saúde mental, da ecologoia etc,).
    A jornada dos 100 anos de luta pela redução da jornada de trabalho, que aconteceu em maio de 1986 na cidade de São Paulo.
    Nesse meio tempo, em 1983/85 a fundação com estudantes da UCS do Centro de Estudos em Pesquisa Social na cidade de Caxias do Sul.
    Os anarkistas com a proposta de uma CUT pela base, na fundação da CUT, através do Movimento de Oposição a Estrutura Sindical, no 1 CONCLAT, nos dias (23a26/agosto/1983) (veja o Inimigo do Rei).
    E a decisão da primeira jornada libertaria de florianópolis, são paulo, porto alegre, brasilia, ante o fracasso da CUT e o seu atrelamento politico-partidário, na prioridade da reconstrução da Confederação Operária Brasileira e da posterior organização pública, específica, dos anarkistas, com elementos provados nas lutas sociais e sindicais, como forma de evitar as infiltrações reformistas-paralelistas dos agentes capitalistas que buscam dividir e desorientar a classe trabalhadora dos caminhos que levam à liberdade, à revolução social e a Autogestão Operária.
    A criação, unilaterial da FARJ, no Rio de Janeiro, sem apoio do Movimento Libertario Brasileiro e do RJ, numa época (a década perdida) de intensas infiltrações suscitadas pelo assédio moral e repressão (prisões e demissões) aos militantes históricos, gerando divisões e expulsões praticadas pelo Morelli e seus agentes (a partir na Secretaria nacional dos Núcleos pró-COB em SP). caracteriza-se como uma expressão local, do reformismo-paralelista, que invadem a Internacional dos trabalhadores (ait) e dos anarkistas (ifa).

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