Os limites das fábricas foram rompidos não para libertarem os trabalhadores do trabalho e da vigilância dos inspetores, mas para incorporar todas as dimensões da vida na mesma lógica da produtividade. Por Passa Palavra

O coletivo Passa Palavra recebeu a seguinte mensagem de Pablo Capilé, do Fora do Eixo:

«Olá,
Gostaria de convidar o coletivo Passa Palavra para um debate público sobre a “Esquerda Fora do Eixo” e a Marcha da Liberdade, que foi tema de artigo do site na semana passada. Acredito que o objetivo de vocês ao escrever a referida reportagem tenha sido o de ampliar o debate, portanto gostaria de dar sequência a essa iniciativa com um debate aberto, público e com transmissão ao vivo, na data que escolherem e no local que escolherem. Estaremos a disposição. Fico no aguardo.
abs!»

Enquanto espaço de debates do campo anticapitalista, não participamos de eventos organizados por entidades do “ativismo empresarial”, já que para nós as classes existem e são bem definidas. Porém, nos preocupamos com o caminho que seguirão daqui para a frente as lutas sociais. Por isso, a continuidade da reflexão – pública e ampla – segue aqui, em forma de uma série de artigos, e não numa atividade a ser protagonizada por aqueles que se colocam como os novos gestores das redes.

O tropicalismo fora do eixo

— Escrever sobre o tropicalismo? Ai! Ai! Mas vamos ser atropelados por este e por aquele exatamente aqui, porque um é o teórico do tropicalismo e o outro é mais tropicalista ainda.

— Mas o tropicalismo não é teoria, é puro blablabla, ele não tem nada a dizer além daquilo que já está dito.

— O tropicalismo foi vazio enquanto movimento político, não teve tempo, só se realizou no plano estético, por isso não deveríamos embarcar nele.

— Mas precisamente por isso devemos embarcar, porque é vazio, é o discurso do presente, a antropofagia do que está aí. Enfim, casa-se perfeitamente com a nova tendência do capital.

— Olhem, eu não entendo nada disso, a minha música é outra.

“Você não está entendendo
Quase nada do que eu digo
Eu quero ir-me embora
Eu quero é dar o fora
E quero que você venha comigo”

— Paciência, venha com a gente que a gente explica, ou não.

Quando Gilberto Gil subiu ao palco para disputar a final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, no já longínquo ano de 1967, não era apenas o lançamento do grupo “Os Mutantes” que estava acontecendo. “Domingo no Parque”, a música que não saiu vencedora, conseguiu fazer no plano estético-cultural o que não se podia fazer pela política: abrir o país para o mundo. Estava ali um baiano a contar uma história nordestina ao som do que viria ser a mais importante banda de rock do Brasil. O nacionalismo que dominava tanto a esquerda quanto a direita não entendeu bem aquilo e tudo o mais que viria a acontecer em volta de [Gilberto] Gil e de seus companheiros e os isolou.

É verdade que, como fala Caetano Veloso no documentário “Uma noite em 1967”, Gil estava um tanto ou quanto inseguro aquela noite, era algo muito ousado a se fazer e as consequências não estavam claras. Caetano, que também foi finalista neste mesmo festival com a música “Alegria, alegria”, em outra já havia declarado o que pretendia fazer desde lá. “Eu organizo o movimento / Eu oriento o carnaval” era umas das frases mais fortes da música “Tropicália”, de 1968, que daria nome ao que estava acontecendo.

Rejeitados tanto pela esquerda (http://www.youtube.com/watch?v=mCM2MvnMt3c) quanto pela direita, inclusive pelos representantes destes dois lados da cena artística e cultural brasileira, seguiram a mando da Ditadura rumo ao exílio, e os representantes do tropicalismo não conseguiram consolidar o seu movimento, se diluíram naquilo que hoje se chama de MPB, mas não sem antes deixar em toda a música brasileira algo de irreversível. O Brasil estava no mundo e o mundo deveria também estar no Brasil.

Ora, havia outra coisa em comum entre a esquerda e a direita do período da ditadura. Ambos eram, além de nacionalistas, extremamente autoritários. E o tropicalismo, independentemente de ser liberal ou libertário, não caberia em nenhum dos dois extremos. Como no mesmo período havia um movimento cultural ainda mais forte que agradava à esquerda, não se chegou a configurar uma cisão entre a política e a cultura, mas os ressentimentos surgidos daí parece nunca terem sido remediados.

Quarenta anos depois o tropicalismo volta a encontrar-se com a política, mas como a esquerda mudou menos do que a direita — pior, aquela esquerda de lá é o Estado de hoje — não fica difícil adivinhar para qual lado o tropicalismo, ou pelo menos seus símbolos, foram ganhos. Chegou a hora, finalmente, de organizar o movimento?

Como a juventude sempre mudou o mundo

A cada novo ciclo de lutas impulsionado pelos trabalhadores, os capitalistas se colocam diante de um dilema: como aceitar as reivindicações sem perder o poder. Se as classes dominantes não respondem rapidamente à insatisfação geral, então esta transforma-se em revolta e, de revolta em revolta, pode se chegar a uma revolução. Mas se eles aceitam o que é reivindicado em sua totalidade, então as taxas de lucro e o poder das instituições que os sustentam podem ruir, e perde-se tudo da mesma forma.

Na maior parte dos momentos críticos da história destes dois últimos séculos o impasse foi resolvido de uma forma que não poderia ser melhor: o capitalismo conseguiu assimilar boa parte das reivindicações dos trabalhadores e ainda por cima elevar as taxas de lucro. Os trabalhadores exigiram o direito de se organizar, e assim foram permitidos partidos e sindicatos que, ao longo do tempo, se transformaram mais em capatazes da força de trabalho do que em instrumentos dos trabalhadores para conduzir as próprias lutas. Exigiram melhores condições de trabalho, direito à educação e ao lazer, previdência e tudo mais e, em troca, se tornaram mais produtivos. Por fim, disseram que pensam, que sentem, que têm desejos e ganharam em troca o direito de se “auto-explorar”. Nem por isso esse processo aconteceu sem tensões e incertezas e houve quem duvidasse que seria impossível assimilar mais uma vez as exigências colocadas em pauta.

Se fizermos as contas, veremos que a juventude de hoje está tão longe de 1968 quanto a de 1968 estava das revoluções da década de 20. Mas esta distância não se mede pela soma dos anos e sim pela forma como cada uma questionou o mundo e o seu passado, decretando o novo. Na década de 20 os trabalhadores, mesmo morando nas cidades, eram em sua grande maioria camponeses, e muitos ainda estavam a trabalhar na atividade agrícola. Em 1968 as formas de se construir as lutas já não poderiam ser as mesmas para uma geração que nasceu e se formou nos grandes centros urbanos e a fábrica era o destino certo da grande maioria. Nos primeiros anos do século XXI nem o campo nem as fábricas existem mais no imaginário da juventude, a forma de se relacionar com o trabalho é outra e é esta outra forma que explica como se dão, ou não se dão, as lutas atuais.

Hoje, vive-se num momento da história no qual a formação para o trabalho acontece desde o nascimento de uma criança. Não se trata somente de inculcar no pequeno ser alguma “ética protestante” que dome o seu espírito para o trabalho dócil ou uma visão fatalista do seu papel no mundo. As coisas vão além e desde cedo, cada brincadeira já é em si um treinamento, uma “formação” ou “capacitação”. Qualquer um espanta-se ao ver uma criança antes de aprender a ler e a escrever operar um computador ou um celular, esses que serão, qualquer que seja a sua profissão, se é que terão uma, os seus principais instrumentos de trabalho.

Daí para a frente, a cada inovação tecnológica, novos aprendizados são incorporados à formação dos sujeitos. Os que, por outro lado, não tiveram acesso a esta formação estão automaticamente excluídos do novo mundo do trabalho, vão viver sob as relações de produção mais arcaicas e opressoras, e das forças produtivas mais obsoletas. Reparem na mudança que aconteceu em um século: no início os trabalhadores não precisavam saber nada do seu próprio trabalho, bastava apertar um parafuso, bater o martelo em alguma lâmina ou acionar alavancas. De meados do século passado até o seu final as fábricas e o sistema educacional se encarregaram de preparar os trabalhadores para atividades mais complexas, chegando a explorar a criatividade e as emoções dos mesmos no estágio mais avançado deste processo. Hoje os pais se encarregam desta formação, as mídias, as redes sociais virtuais e, na maior parte do tempo, é o trabalhador que está a se autoeducar, quando não a criar as ferramentas da sua própria exploração. Cada um é um trabalhador desde que nasce, continua sendo-o nas suas horas de lazer e não deixa de ser quando na inatividade.

Uma das características, portanto, desta nova forma do mundo do trabalho já está clara. Os limites das fábricas foram rompidos não para libertarem os trabalhadores dos rígidos turnos de trabalho e da vigilância permanente dos inspetores, mas para incorporar todas as dimensões da vida na mesma lógica da produtividade, desta vez ainda mais intensa. Outras características, entretanto, só começam a ficar nítidas agora, com a emergência das primeiras lutas organizadas por essa nova geração.

O segmento do proletariado que mais produz valor para o capitalismo e, por isso, é a fração mais poderosa em termos de negociação, está dissipado. É esta nova geração de trabalhadores, ainda jovem, que opera as novas tecnologias da produção e está encarregada de manter em pleno funcionamento os centros mais lucrativos do capitalismo moderno. O que produzem, em muitos casos, não está sujeito à lei da gravidade, são produtos intangíveis, mas nem por isso fugiram da lei do valor. Pela infinidade de formas que o trabalho ganhou e pela infinidade de produtos que se cria cotidianamente, além, é claro, da proximidade que mantêm dos gestores do próprio trabalho, a identificação entre eles como pertencentes a um mesmo grupo social, ou uma fração da classe trabalhadora, é prematura, se tivermos uma concepção otimista do processo, ou extremamente difícil, se quisermos ser mais realistas.

Entretanto, não é por não se articularem para as lutas, que não se articulam para produzirem seus próprios símbolos e espaços de convivência. Esta articulação não acontece nas praças ou nos refeitórios, mas principalmente pela internet, nas redes sociais e outras ferramentas virtuais. O espaço do encontro físico, “presencial” como se costuma falar nestes meios, para que cada um possa se reconhecer enquanto parte de uma totalidade, ainda não estava dado. É uma geração de trabalhadores que consegue interagir numa velocidade e numa dimensão nunca antes imaginada por nenhum outro movimento do proletariado, mas em compensação têm uma dificuldade nunca antes vista de se organizar, de sistematizar seus anseios e construir uma pauta que movimente todos numa direção comum. A interatividade, portanto, por mais colaborativa que chegue a ser em alguns momentos, não leva a uma organização de classe.

Por último, e talvez o mais fundamental porque o mais contraditório. Desde que a época dos artesãos foi superada para se instituir o trabalhador moderno que não tem nada além da sua força de trabalho, é a primeira vez que os trabalhadores também criam suas próprias ferramentas de trabalho, ou pelo menos modificam profundamente aquelas criadas pelas empresas. Essa adaptação das ferramentas de trabalho, geralmente softwares mas não só, dá aos trabalhadores um profundo conhecimento sobre os processos produtivos. E é esse conhecimento apropriado e ressignificado pelos trabalhadores que permite em alguns espaços criar produtos e serviços sob uma lógica distinta da imposta pelo capitalismo e, em outros tantos, construir até produtos do anticapitalismo.

Permitir que os muros das fábricas fossem rompidos elevou a produtividade e manteve vivo o capitalismo por mais um ciclo, mas ao mesmo tempo deu à questão do controle sobre os trabalhadores o tamanho do planeta.

(Continua aqui)

17 COMENTÁRIOS

  1. Deixa eu ver se entendi, a introdução tropicalista foi apenas pra chamar a atenção do leitor corajoso que conseguir chegar até o fim do texto?

    Me desculpem, mas de verdade, onde quem chegar com toda essa teoria? Porque nao topam o debate com o Fora do Eixo, gente, PESSOAS debatendo com PESSOAS, e nao uma série de artigos com um publico ja cativo. É isso que vocês entendem por “discussão publica e ampla”?

    Enquanto vocês estao escrevendo sobre classe proletária e usinas, o capitalismo de seculo XXI ta ai no browser Google Chrome de vocês.

    Saudações tropicalistas

  2. Pô, bicho, você está com pressa, ou não. Há um “continua em breve” no final do artigo ou não entendi direito? Deve ser por isso que tudo parece incompleto, ou não. A incompletude, em si, já é uma totalidade, ou não. Mas esse negócio de começo, meio e fim é rancoroso, fordista, ou não. Esse negócio de “presencial” também. A revolução é 2.0! Me disseram que a internet é onde tudo acontece hoje e estou gostando disso. E é feriado. E o que está no browser é o pós-capitalismo. Você escuta Caê, mas continua sem entender nada do que eu digo. Eu vou dar o fora e, por favor, venha comigo.

  3. Eu também não vejo como um debate pode ser ruim. se o problema é que fara a produção do evento, formamos um comite sem o FDE e sugerimos isso para eles. GENTE O QUE FALTA NA ESQUERDA É SÓ DIÁLOGO.
    Chmamos o CMI pra dialogar
    Do meu ponto de vista como artista o FDE me parece bem revolucionário e abre porta para vários músicos que jámais entrariam no mainstream.
    Como militante de esquerda o FDE me parece muito pantanoso e arriscado.
    Pelo sim, pelo não, porque não dialogar, vaamos chamar todos os coletivos: Marchas da liberdade, maconha, vadias, dar, mpl… chamem o Ativismo Abc, a Nu-sol, a OPA…chamem o pstu, o psol, o pco a nn, chamem o hippies harebol da permacultura o Mst, o Mtst.
    CARALHO!!! O CAPITALISMO FAZ FUSÃO (ITAU&UNIBANCO, ANTARTICA&BRAHMA)
    PORQUE NÓS TEMOS QUE FICAR FRAGMENTADOS???
    NÃO USAMOS O JORNAL A NOSSO FAVOR QUANDO PROTESTAMOS CONTRA O AUMENTO??? PQ NÃO USAMOS O FDE A NOSSO FAVOR???
    SUN TZU – A ARTE DA GUERRA, A FORÇA DO INIMIGO CONTRA ELE MESMO.
    Fuma maconha nunca foi pauta da esqurda, quanto menos dos movimentos populares.
    O Melhor que a Marcha da maconha pode fazer pela esquerda é se aliar a parcela empresarial que quer liberar e assim
    fragmentar setores históricamente unidos do capital:

    Imaginem a coca-cola patrocinando a marcha d maconha: a extrema-direita e os evangélicos iriam boicotar a coca-cola,
    enquanto as demais famílias felizes começariam a fumar maconha que seria servida no mac donalds.

    Eu acho um grande retrocesso se recusar a dialogar com quem quer que seja, nesses ultimos 40 anos foi só isso que as esquerdas fizeram: recusaram dialogar e se fecharam em suas bolhas…lamentável!

  4. publicado no ANTITEXTOS:

    A minha análise, bem simples é verdade, conclui que Ivana Bentes acerta, confirmando seu profundo e amplo conhecimento sobre os temas em pauta, em todos os argumentos aos quais recorre para oferecer um panorama conceitual dos atuais processos sócio-políticos e culturais, que se baseiam e se alimentam de movimentos transversais e heterogêneos. Mas erra ao aplicar todos esses argumentos também às ações e escopos do Coletivo Fora do Eixo, como se o Coletivo fosse um exemplo suficiente desses novos processos.

    Eu creio que o Fora do Eixo ocupa um lugar importante no cenário cultural e sobretudo no mercado criativo do Brasil de agora, mas essa defesa entusiasmada de Ivana Bentes falha ao corroborar o artigo do Passa Palavra ao mesmo tempo em que quer negá-lo: afinal, acaba por centralizar e personificar todos os potenciais dos movimentos livres no modelo de atuação do Fora do Eixo, tornando-o protagonista de um processo em que ele é apenas coadjuvante! O afã de defender as estimulantes e múltiplas possibilidades de um novo capitalismo acabou por resultar numa defesa desnecessária e sobretudo superestimada do Coletivo Fora do Eixo!

    Vejo com clareza que o Coletivo Fora do Eixo não é de esquerda nem de direita, mas uma rede de entidades (inclusive empresariais) que realiza e participa de ações que mantêm escopos relacionados ao mercado da cultura e acabam por percorrer esferas diversas da participação política, seja colaborando com o Governo na elaboração dos editais em que eles mesmos concorrem, seja centralizando a articulação de movimentos livres, de classes médias, com bandeiras ativistas amplas (ainda que resumidas na ideia central de Liberdade).

    Romantizar o Coletivo Fora do Eixo também não é caminho pertinente. Se Pablo Capilé queria o patrocínio da Coca-Cola para realizar a marcha da Liberdade, eu não vejo motivo para discussão (embora eu considere isso lastimável: o patrocínio não aconteceu, mas cogitá-lo revela algo…). Mas para quem acompanha minimamente as ações do coletivo no que se refere às articulações ativistas nas redes, fica patente a posição hierárquica de liderança assumida por Pablo Capilé, demonstrando, pelo menos na dimensão prática, uma estrutura hierárquica bem definida (e legítima, sem dúvida). Logo, o Coletivo constitui um exemplo de inovação e de exploração de novas potencialidades de mercado cultural dentro do sistema, mas não vai muito além disso – muito menos alcança um patamar de vetor político dos jovens que usam Twitter e Facebook.

    Por fim, acho que o artigo do Passa Palavra não merece a desqualificação conjuntural que Ivana Bentes tentou justificar apontando, inclusive, a falta de um arsenal teórico e afirmando que o artigo reflete medo e ressentimento de uma esquerda ultrapassada diante das mudanças estruturais. Ressentimento, sinceramente, percebi em ambos os artigos (cada um a sua maneira e por razões diversas), mas o artigo do Passa Palavra traz sim reflexões pertinentes que exigiriam não uma refutação apressada, mas sim um debate mais cauteloso.

    Por exemplo:

    As Marchas da Liberdade trazem em si – para além do seus significantes simbólicos – um efetivo poder de transformação política e social das atuais estruturas de poder? Claro que a marcha e as suas dinâmicas de articulação (que envolvem diretamente ferramentas da web) contribui para, quem sabe, o fortalecimento de novos processos de participação – mas não acho justo argumentar que as classes médias conectadas, interessadas em consolidar estilos de vida consumistas/sustentáveis – sem objetivar uma mudança estrutural nos modelos de produção hegemônicos – são o novo vetor da ação política verdadeiramente transformadora. (Ivana Bentes até argumenta que esse modelo de organização da Marcha da Liberdade pode vir a envolver “os pobres e precários das periferias e favelas” – esse argumento merecia mais do que uma linha! :( ).

    O Coletivo Fora do Eixo é mesmo o melhor emblema desses novos movimentos e possibilidades que estão surgindo dentro do capitalismo chamado cognitivo? O Coletivo tem como base a autonomia, liberdade e um novo “comunismo”, como afirmou Ivana Bentes? (e o fez, aliás, num trecho de sua resposta que é obscuro e cheio de talvezes, que é o item 4 dos problemas que a autora enumera).

    Há, na abordagem de Ivana Bentes, contradições importantes dos movimentos em questão que foram ignoradas. O objetivo deste pequeno texto, portanto, é unicamente ampliar o debate para que os movimentos livres nascentes cresçam em potência e em alcance e, sobretudo, consigam o êxito de se inserirem, com algum grau de efetividade, nos reais processos de transformação social que são, pensando nas novas tendências, autenticamente autônomos, independentes e inevitáveis!

    por fabricio kc

  5. O artigo do passa-palavra expõe a preocupação de várias pessoas em relação ao grupo Fora do Eixo querer protagonismo em um momento em que essa palavra não é exatamente bem vista. Eu vejo como saudável nesse processo expor essas coisas, porque se existe alguma intenção escondida, ela já é detectada e neutralizada no começo, e não por que foi proibida, mas porque quem a tinha, se dá conta e se recoloca dentro do movimento, sem grandes traumas, espero. Pois se vamos rumo a um modo de fazer política mais transparente, as coisas entre nós, autores e atores dentro desse movimento, precisam estar claras. Porém, ao meu ver, que as coisas estejam claras não significa que todo mundo tenha que concordar se é melhor, esquerda, ou centro, ou extrema esquerda, ou revolução 2.0 ou tempos líquidos, cada um vai continuar sempre tendo a sua visão porque cada pessoa recebe no seu dia-a-dia informações diferentes, e busca informações diferentes, e isso é super importante e saudável, porque gera riqueza, à medida que muitos pontos de vista convivem e interagem.

    O individualismo, é muito importante nesse laboratório democrático também, é herança do capitalismo que alguns criticam, mas uma herança que seria legal cultivar e ir adaptando. Por favor, não confundam aqui individualismo com egoísmo. O individualismo que eu chamo e acho importante, é a ferramenta com a qual vamos nos LIBERTAR de querer saber ou controlar qual a concepção de vida de cada participante do movimento, e vamos enfim, levar a nossa causa às ruas para que essa possa ser representada por nós mesmos. Talvez, neste aspecto, o FdE esteja mesmo a frente, porque levou a sua própria causa à política, e de uma maneira ou de outra, participam desse sistema todo, pra criar algo novo no campo da cultura, em que este determinado grupo acredita. Que dentro da sua hierarquização e como eles resolverem agir enquanto grupo, é problema deles, ninguém está falando que agora vai todo mundo se basear no modelo que eles acham que é legal, se eles se movem de maneira hábil no campo da cultura e contribuem para que o cenário nacional seja mais diverso e alternativo, ótimo, mas ninguém vai votar no Capilé por isso, ou eu pelo menos não penso em fazê-lo. Isso já seria outro tiro no pé…a institucionalização do movimento é o FIM do movimento.

    O melhor exercício seria que na próxima manifestação, fossem todos os que da última participaram, como indivíduos, sem seus grupos, que fizessem seus cartazes em casa, e aparecessem nas ruas assim. Isso seria maravilhoso! Se não forem capazes de ir como indivíduos que querem uma democracia de fato, que se juntem com os seus coletivos, mas que ao chegar na rua, façam esse exercício mental, de pensar por si mesmo, no porque de estar ali, ocupando o seu espaço na avenida, como pessoa, não como extensão de um grupo, que venha ou não a ter líderes. A Marcha da Liberdade mostrou estar institucionalizando-se em vários momentos….Ninguém responde por isso. Eu perguntei em todos os grupos de discussão, quem estava administrando a página do facebook da ‘Marcha’, nunca me responderam. Ninguém sabe? Porquê? Libertem-se realmente, o primeiro passo é libertar-se da zona de conforto que um grupinho pode trazer. Joga essa zona de conforto no lixo porque ela não serve pra nada. É auto- engano! E nas ruas reúnam-se com os seus, com os que estão ali por transparência, pela verdade, contra a opressão da hierarquia, contra as instituições que tomaram conta da nossa vida de modo que não sabemos mais viver sem elas….nem em um movimento social, como está sendo comprovado.

    Uma coisa bem interessante e a ser observada, é que alguns estão tendo muita energia para defender os grupos a que pertencem Com unhas e dentes defendem e argumentam de maneira que convença os outros de que realmente, este grupo deve ter razão, defendem a seus próprios sentimentos de pertencer a tais grupos. Mas estes mesmo, não estão gritando por justiça, verdade e transparência, ou se o fazem, fazem mais como slogan para seus próprios grupos, do que para o bem do país. Eu me sinto livre de tudo isso e recomendo tal exercício, dá outro sentido ao movimento, fica mais bonito ainda, e traz as pessoas pra rua, porque elas sentem que vem de dentro e vêm a beleza, não porque viram um flyer com um super logo bacana feito por tal designer…Novamente, LIBERTEM-SE.

  6. Onde as imagens que ilustram o artigo (muito bom por sinal até aqui) são de placas de cirucuitos eletrônicos, parece que alguém viu nelas ‘usinas’.

    Alguns comentaristas que não gostaram do que o PP escreveu sobre o FdE se apegam a dizer que isso é coisa de marxistas ortodoxos, apegados ao fordismo ou a usinas, sendo que em momento algum os textos do PP negam essa nova realidade do capitalismo.

    Procuram assim desviar o foco de uma discussão sobre gestores e empreendimentos capitalistas no pós-fordismo (que é o que os textos levantam) para uma discussão de quem é mais ‘moderno’ na retórica.

  7. Os artigos do Passa Palavra estão ótimos, trazem uma sacada próxima: as relações capitalistas se dão aqui, pertinho. Falar dos proletarios, mais-valia…esquerda isso, partidos…todo mundo fala, contudo, de uma coisa que está pertinho da gente, nunca vi. Concordo com os artigos. Asim como o capitalismo é fluido, a crítica tem que ser. Se, através de grupos que angariam recursos públicos, monopolizam o acesso a esses recursos, criam uma lógica qua age por baixo dos panos, novas formas de capitalismo estão surgindo, acho que a denúncia tem que ser feita mesmo.

    A respeito de ‘unir a esquerda’, tal qual faz a direita, acredito que não é bem assim. Que esquerda? O que diferencia este ou aquele grupo? O fato de não ter sucumbido ( e ser considerado retrogrado, rancoroso…), ou ‘dizer sim’ pra tudo, aceitando que é possível se unir, sem o mínimo de critério, aceitando inclusive que empresas também façam parte?

    Tem bastante gente que está nas periferias, porque fazem parte delas que nunca ouviu falar de ‘ponto de cultura’. Essas pessoas preferem atuar de um modo diferente, elas também são retrogradas, amarguradas?

  8. Concordo com a Aline, um encontro, para um debate pessoalmente, seria muito benvindo. Um porém: tem certeza que a esquerda mudou menos que a direita??

  9. Vão pro debate ou não vão? Parem com essa lenga-lenga, só sabem falar, falar, falar! O fora do eixo se organizou e cresceu em um campo vasto, onde vocês, gênios políticos, nunca pisaram, o campo da ação. Vocês só sabem falar!

  10. a nova burocracia brasileira: fora do eixo
    alias, um belo nome para a burocracia brasileira
    “FORA DO EIXO”

    outra lastima do tropicalismo carnavalesco: blog do ROVAI-VAI…agora é X9

    será q é tão dificil compreender a diferença entre gestor e trabalhador?, caros amigos do fora da esquerda, ops…fora do eixo

  11. E continuarão falando, e falando, e falando, até que se perceba que o debate é impossível, especialmente por causa da “ação” que se faz em cada campo. Não foi isto o que se disse na segunda parte deste artigo? Ou este comentador anterior não lê o que se escreve?

  12. caro amigo veterano,

    estive lendo primeiramente a segunda parte deste artigo, e foi justo na primeira que postei este comentario. Tens razão em dizer q o debate é impossivel, e continuará sendo dessa forma…e alias concordo com a posição do Passa Palavra..
    talvez tu nao entendesse a ironia..do seu destino..,!
    ou melhor, aqui, robada não tem destino..

    um abraço

  13. jah jah, parece que embolaram nossos comentários. Me referi ao Roger, não a você. Ele acha possível o debate, enquanto eu, pelo que leio neste blog e pelo que conheço do Fora do Eixo, sei que não há o que debater. São grupos com práticas tão diferentes que nem há pontos em comum por onde começar. Mas o Roger vai em cada artigo e reclama, xinga, esperneia e exige debate. Alerto ao blog: isso é típico de agents provocateurs.

  14. acompanho diversos debates que surgem aqui no Passa Palavra, e muitos deles, compartilho em listas, grupos e outros espaços virtuais. atribuo minha “fidelidade” aos conteúdos aqui expostos à credibilidade das análises e das colocações, com as quais ora concordo (e geralmente concordo), ora discordo, e sempre respeito. no entanto, acho uma falta de coragem imensa levantar o debate, se posicionar sobre o outro de forma a estigmatizá-lo ou mesmo demonizá-lo (mesmo que sem intenção, creio), e não se propor a um debate real, ao vivo. vejo como uma atitude autoritária. é como se o Passa Palavra reservasse o limitado espaço dos comentários para suprir o debate entre as partes.

    como leitor, digo que não fui convencido. e pergunto: QUANDO e ONDE será o debate?

  15. parabéns pela excelente matéria! acompanho desde 2003 esse movimento descrito pelo artigo sob a perspectiva de cooptação de grupos de software livre, mídia ativismo até mais libertários e compartilho 100% de suas reflexões sobre os novos agentes da dominação cultural-digital.

    jah era hora!

  16. Sugestão aos camaradas:
    revejam a idéia do debate com o Capillé.
    Creio que João Bernardo seria um ótimo representante num debate presencial com transmissão on line.

    Grande abraço

  17. Respeito muito o que é publicado aqui mas realmente não entendi o ponto. A ideia é criticar a poesia? ou criar um moralismo poético? E qual é o problema de dialogar com o pessoal do Fora do Eixo? Também não entendi o que é “ativismo empresarial”, você se referem a tentativas de criar uma nova economia que ainda não foi descrita nas cartilhas?

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