Não houve a limpeza do sangue, houve somente a social mesmo. Por Paola Camargo

Nem foto nem rosto, um descaso. O senhor vem do interior para fazer um tratamento médico, devia estar preparando para pegar uma fila imensa, já que o serviço de saúde é público… Logo, chega a noite na grande cidade de Goiânia e não tem dinheiro para dormir em um hotel, somente o dinheiro da sua passagem. Ele resolve dormir no ponto de ônibus, pois não há transporte após a meia noite. E, convenhamos, quem necessita de transporte “público” e fica solto na noite sem dinheiro para o táxi em algum momento da vida dormiu no ponto, esperando o ônibus que somente começa seu serviço às cinco da manhã. O que não esperamos é que passe alguém e atire. Isso foi o que ocorreu com o senhor que esperava o ônibus para chegar até o hospital. E cá entre nós, não me parece novo esse modo de tentar “limpar” a cidade, atirando fogo ou bala em mendigos ou possíveis mendigos pelas ruas e pontos das capitais. E todos se calam, a empresa de transporte, o poder público… “Minha janela de frente pro crime”. Pela manhã, passei para pegar meu ônibus e só havia um monte de areia que escondia o sangue, mas o cheiro não. Os trabalhadores continuavam sua luta diária. Menos o senhor que ficou lá com seu corpo estendido no chão e foi retirado antes que o sol nascesse, para que a cidade continuasse seu fluxo “normal”. Não houve a limpeza do sangue, houve somente a social mesmo. O que geralmente acontece todas as noites na capital. “Sem pressa foi cada um pro seu lado.”

Os trechos grifados são parte da letra De frente pro crime de João Bosco e Aldir Blanc.

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