Por Poeta em Buenos Aires

Resenha do livro El asco: Thomas Bernhard en El Salvador, de Horacio Castellanos Moya. Editora Tusquets, 1997, 139 páginas.

Em uma de suas estadias no México, trabalhando como jornalista, Horacio Castellanos Moya escreveu um pequeno exercício estilístico inspirado em Thomas Bernhard. Se trata de um austríaco nascido no entreguerras, conhecido pela crítica ferrenha da cultura de seu próprio país espalhada por sua produção literária, entre novelas, peças e outros escritos.

Embora Moya tenha nascido em Honduras, em 1957, aos quatro anos sua família se mudou a El Salvador. Abandonou o país durante a guerra civil, passando primeiro pelo Canadá, e depois por México, Costa Rica e de volta a El Salvador.

A publicação daquele pequeno exercício literário (era 1997) em uma semana rendeu frutos: uma ameaça de morte. Moya, que estava de visita em outro país da região, chegou a visitar sua mãe e amigos pouco tempo após a ameaça, de forma discreta, mas todos lhe recomendaram não pisar novamente o país, e assim o fez.

Que tipo de livros podem resultar em uma ameaça de morte? Devemos considerar que se trata de uma das regiões com as maiores taxas de homicídio no planeta, cenário de muitas guerras civis. A vida de um homem vale pouco em lugares assim, como também valem pouco os que ameaçam e não cumprem.

Um amigo fictício, autobiográfico, vive no Canadá mas teve de retornar a El Salvador devido à morte de sua mãe. O livro é um relato da conversa entre os dois num pequeno bar, onde o exilado conta ao autor todos os padecimentos que está sofrendo em sua visita. Sentados no bar vazio mas com os copos cheios, o amigo passa a relatar episódios e a tecer comentários ácidos a respeito dos costumes e da vida pátria. O jeito de vestir-se, os pratos populares, as aspirações mundandas, a falta de interesse pelas artes, a miséria da política, por esquerda e por direita, o futebol, a televisão… O exilado fictício descreve pormenores de seu asco pelos piores (e predominantes!) aspectos do ser nacional salvadoreño, guiados pelos desencontros com seu irmão, seu anfitrião até então na viagem.

O tom cáustico do relato se descomprime e ganha mais cores quando o próprio narrador dos padecimentos revela seu lado neurótico e esnobe, o que nos permitiria enquadrar o texto como uma comédia. No entanto, o tiro é tão certeiro que foram muitos os que não deram risadas…

A edição da Tusquets tem a vantagem de trazer também um breve texto de Roberto Bolaños introduzindo o autor, e um texto também breve do próprio autor onde ele conta sobre a escrita e publicação deste livro, e da posterior ameaça que recebeu, com alguns detalhes interessantes sobre a recepção do livro por gente próxima.

 

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