Veio ontem pelas esquinas o novo som/ para abolir aquele velho trem:/ NÃO DÁ MAIS!/ Vamos armar o bonde, o bonde/ da nossa cidade/ e rodar e rodar para além/ de qualquer insidioso trilho. Por Lucas Gordon

Teu nome é São Paulo, São Paulo Chamas.
De manhã se desperta com insânia
nos vagões apertados da boa vontade,
ainda escuro, às 4 da manhã.

Pulsa a cidade que é corpo sem fé nem cadência:
são músculos brutos que espremem o sangue rubro
pelas vias arteriais.
Os nervos urram: NÃO DÁ MAIS!

Num pôr-do-sol borrado,
a massa gasosa alérgica alaranjada
horizonte incandescente,
São Paulo Tarde.

Veio ontem pelas esquinas o novo som
para abolir aquele velho trem:
NÃO DÁ MAIS!
Vamos armar o bonde, o bonde
da nossa cidade
e rodar e rodar para além
de qualquer insidioso trilho.

À noite, São Paulo Uiva.
Por detrás dos prédios e
das luzes acesas, do clarão de
bombas e rojões. São Paulo uiva
com horrores mortos-vivos que
esquecemos de enterrar.

As ratazanas cinzas correm para
todos os lados, mordem e cospem.
Estão tontas com o brilho
da fornalha que faz nosso bonde rodar.

E nosso bonde toma as ruas e não
nos cansamos de gritar:
NÃO DÁ MAIS!

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