Um grupo de militantes aproveitou uma conferência da Internacional em 1922 para denunciar a situação do partido russo. Por 22 militantes bolcheviques

1921 foi um ano decisivo para a revolução russa. A guerra civil chegava a seus últimos estágios, e os bolcheviques consolidavam-se no poder. A revolta dos marinheiros em Kronstadt foi esmagada a ferro e fogo, e os makhnovistas foram dispersos e exterminados pelo Exército Vermelho. Mas a fome grassava nas cidades, e a prodrazvyorstka (confisco da produção de grãos dos camponeses) nem bastava para suprir as necessidades, nem servia como instrumento para angariar a simpatia do campesinato pela revolução. Em meio ao turbilhão, o Partido Comunista Russo (bolchevique) realizou seu 10º Congresso em março, e lá teve lugar uma das últimas lutas internas ao partido em prol da coletivização da produção e da democracia proletária por meio da corrente Oposição Operária, que refletia, por meio de suas teses, um crescente descontentamento nas bases do partido com os rumos que a direção unipessoal das empresas e o retorno dos técnicos do antigo regime a seus antigos cargos impunham à economia socialista. Acusada de “anarcossindicalista” no congresso, a Oposição Operária foi forçada a se dissolver, e foi adotada uma resolução proibindo a existência de tendências e grupos dentro do partido bolchevique. Neste contexto, vinte e dois militantes bolcheviques, integrantes ou próximos da extinta Oposição Operária, aproveitam a oportunidade de uma conferência da Internacional Comunista em 1922 para denunciar a situação interna do partido por meio de um apelo. Esta é uma tradução do apelo, tal como foi impresso nas notas estenográficas do Décimo-Primeiro Congresso do Partido Comunista Russo (Odinnadtsatyi s”ezd RKP(b), mart-aprel’ 1922 goda: stenograficheskii otchet, Moscow, 1961, pp. 749-50). Traduzido para o inglês por Barbara C. Allen; e para o português, pelo Passa Palavra como parte do esforço de traduções do centenário da Revolução.

Aos membros da Conferência Internacional da Internacional Comunista

Com cópia para o Comitê Central do Partido Comunista Russo (bolchevique)

Caros camaradas!

Soubemos por meio de nossos jornais que o Comitê Executivo da Internacional Comunista está debatendo a “frente única operária”, e consideramos nosso dever enquanto comunistas informá-los de que em nosso país a “frente única” está mal das pernas, não apenas no sentido lato do termo, mas mesmo em sua aplicação junto às fileiras de nosso partido.

Enquanto as forças da burguesia nos pressionam por todos os lados, chegando mesmo a infiltrar nosso partido, cuja composição social (40% de trabalhadores e 60% de não-proletários) o favorece, nossos principais centros travam uma luta desmoralizante e implacável contra todos, especialmente proletários de opiniões firmes, e aplicam todos os tipos de medidas repressivas contra a expressão de tais opiniões no seio do partido.

A tentativa de trazer as massas proletárias para perto do governo é declarada como sendo “anarcossindicalismo”, e seus defensores são perseguidos e desacreditados.

No movimento sindical, o quadro é o mesmo – supressão da espontaneidade e iniciativa operárias, luta por todos os meios contra a heterodoxia. As forças unificadas das burocracias partidária e sindical, tirando vantagem de sua posição e autoridade, ignoram nossas decisões congressuais acerca da construção dos alicerces da democracia operária. Nossas frações comunistas sindicais, mesmo as frações de congressos inteiros, são privadas do direito de manifestar sua vontade na eleição de seus próprios líderes. A pressão e a tutelagem da burocracia chegam longe, ao ponto de membros do partido serem ameaçados de expulsão e outras medidas repressivas se elegerem quem quiserem ao invés daqueles indicados pelos de cima. Tais métodos de trabalho levam ao carreirismo, intrigas e servilismo, e os trabalhadores reagem a tal situação saindo do partido.

Compartilhando da ideia de uma frente única operária, tal como interpretada no ponto 23 das teses, apelamos a vocês, com o sincero desejo de pôr fim a todas estas anormalidades que se colocam no caminho da unidade desta frente, antes de tudo em nosso próprio PCR(b).

A situação no seio de nosso partido é tão difícil, que nos impele a voltarmo-nos a vocês em busca de ajuda, para deste modo eliminar a ameaça iminente de uma cisão em nosso partido.

Com saudações comunistas, membros do PCR(b):

M. Lobanov, membro do partido desde 1904
N. Kuznetsov, “ 1904
A. Polosatov, “ 1912
A. Medvedev, “ 1912
G. Miasnikov, “ 1906
V. Plashkov, “ 1918
G. Shokhanov, “ 1912
S. Medvedev, “ 1900
G. Bruno, “ 1906
A. Pravdin, “ 1899
I. Ivanov, “ 1899
F. Mitin, “ 1902
P. Borisov, “ 1913
M. Kopylov, “ 1912
Zhilin, “ 1915
Chelyshev, “ 1910
Tolokontsev, “ 1914
A. Shliapnikov, “ 1901
M. Borulin, “ 1917
V. Bekrenev, “ 1917
A. Pavlov, “ 1917
A. Tashkin, “ 1917

Eu apoio [este apelo]. A. Kollontai, membro do partido desde 1898.

Eu apoio a declaração dos 22 camaradas. Zoya Shadurskaia[1].

Sergei Medvedev, Mikhail Chelyshev, Alexander Shlyapnikov: três signatários apelo, fotografados em 1926.

Nota
[1] Shadurskaia também era integrante do partido, mas seu ano de ingresso foi omitido do documento por um lapso.

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