A trajetória anarquista do primeiro comandante da Força Aérea Soviética. Por Nick Heath

Era necessário organizar um serviço de aviação. Eu convoquei um piloto-engenheiro, Akashev, que, apesar de ser um anarquista convicto, estava trabalhando conosco. Akashev mostrou iniciativa e rapidamente montou um esquadrão aéreo. No fim das contas, nós tínhamos um quadro completo do front inimigo; o comando do 5º exército havia saído das trevas. Os pilotos faziam incursões diárias em Cazã, e um furor de desespero tomava conta da cidade.” (Trotski, Minha Vida)

K. Akashev

Konstantin Akashev nasceu em 22 de outubro de 1888 em Mahalino Lyutinskogo, na região de Vitebsk na Belorussia, filho de uma família camponesa. Ele progrediu atavés do sistema educacional e graduou-se em Dvinsk. Em 1906, estava ativo entre os social-revolucionários, envolvendo-se no trabalho educativo entre o campesinato de Lyutinskogo. Mudou-se para São Petesburgo em função de uma ameaça de prisão. Tornou-se um anarco-comunista no final do ano. Durante 1907, esteve extremamente ativo conduzindo a agitação e propaganda anarquista na cidade e em Kiev. Envolveu-se na distribuição ilegal do jornal anarco-comunista Buntar (Rebelde). Foi preso no dia 14 de abril em Kiev, portando documentos falsos de um certo Alexander Petrovich Milyaev, e foi acusado de estar envolvido na tentativa de assassinato do Primeiro Ministro Stolypin. Ficou na prisão de Lukyanovskaya até fins de julho de 1907, sendo transferido à São Petesburgo, onde tinha liberdade provisória sob vigilância policial. Em 1908 foi absolvido por falta de provas mas, ao final de maio, o exilaram por 4 anos em Turukhansk na Sibéria sob supervisão policial.

Os relatórios policiais descreviam-no como tendo cabelo castanho, olhos azuis, um nariz longo e reto, um bigode pequeno e ruivo, elegante e em geral usando ternos de passeio cinza-claros e um chapéu de feltro cinzento.

Avião alemão derrubado pelas forças soviéticas

Em março de 1909 ele escapou e fugiu para a Algeria, depois viveu em Berlim e Munique, até mudar-se para Paris. Mudou-se para a Itália em agosto de 1910 e, em dezembro, se matriculou na escola de aviação de Caproni, em Milão, recebendo seu diploma em junho de 1911. Entre 1912-14, esteve no Instituto Superior de Aviação e Mecânica de Paris, onde obteve diploma de engenharia. Um relato de um agente dos serviços secretos czaristas na França acusou-o de estar envolvido num plano anarquista de construir cinco aviões de metal leve. Esses aviões seriam usados para montar um ataque contra o Czar em seu iate real no Golfo da Finlândia! Se isso era verdade ou só uma tentativa do agente auto-justificar seu serviço, ainda estamos por descobrir, uma vez que não houve nenhuma tentativa de ataque como esse. Akashev era um dos “anarco-patriotas” que, como Kropotkin, tomou o lado dos Aliados na Primeira Guerra Mundial. Ele se voluntariou nas forças aéreas francesas e se inscreveu numa escola de aviação militar, participando em seguida de algumas batalhas no front. Em maio de 1915, voltou à Rússia, onde foi preso.

Em junho daquele ano, ele protocolou com uma petição pedindo o arquivamento de seu caso, e tentou entrar na indústria aeronáutica e na força aérea russa. Sua fidelidade era questionada. Trabalhou então como piloto de teste em São Petesburgo até o início de 1916, e em seguida foi diretor técnico da indústria aeronáutica. Ele parece ter mantido sua conexão com os anarco-comunistas, sendo secretário do Clube Anarco-Comunista de Petrogardo, que se estabeleceu secretamente entre 1916-17.

Comandantes vermelhos: ao centro, Akashev.

Participou da Revolução de Fevereiro e esteve ativo na agitação anarquista durante os dias de julho e, depois, na Revolução de Outubro. Os objetivos anarquistas e bolcheviques coincidiam quanto à derrubada do regime de Kerenski e Akashev serviu no comitê que coordenou o levante. Disfarçado de oficial, ele levou duas baterias de artilharia para fora do Palácio de Inverno, acontecimento crucial para a Revolução de Outubro. No mês seguinte, ele se tornou Comissário do Departamento da Aeronáutica Militar. Em 1918, foi eleito representante do Colégio de Administração Aeronáutica de Toda URSS. Em dezembro do mesmo ano, recebeu indicação para ser comandante-chefe da aviação no front sul. Em agosto-setembro de 1919, comandou um grupo aéreo formado para combater a cavalaria do general branco Mamontov. Ele pilotou pessoalmente o avião Ilya Muromets, bombardeando a cavalaria inimiga. Entre março de 1920 e fevereiro de 1921, Akashev serviu novamente como comandante das Forças Aéreas Soviéticas. Em 1922, participou de conferências internacionais de aviação em Londres e Roma. Passou os últimos anos de sua vida em cargos de administração nas fábricas da indústria aeronáutica de Leningrado e Moscou. Aparentemente, ele nunca aderiu oficialmente ao Partido Comunista.

Foi preso em 1929, acusado de atividade contrarrevolucionária, mas liberado após uma greve de fome. Prenderam-no novamente no começo de março de 1930. No dia 3 de março, Akashev foi “reprimido”, acusado de espionagem e preso sem qualquer outro fundamento – e morreu, ou após um severo espancamento da NKVD [nova Cheka], ou por execução em 4 de setembro de 1931. Postumamente, foi reabilitado.

Traduzida do original no Libcom pelo Passa Palavra, esta biografia integra o esforço de traduções de 100 anos da Revolução Russa (confira aqui o chamado e a lista completa de obras).

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