Por Passa Palavra

Nesta terça-feira, 17/09/2010, a cantina desativada do Instituto de Artes da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas, uma das mais importantes do Brasil] foi recuperada pelos estudantes de vários cursos desta universidade.

Ocupada inicialmente uma semana antes (e trancada e vigiada pela segurança da universidade), a cantina foi recuperada com uma pauta qualitativamente distinta de uma série de ocupações já realizadas em distintos momentos e em variadas universidades.

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Recuperaram o espaço, dito público, para denunciar que empresa e sociedade não são sinônimos e que esta última tem como substantivo os excluídos (da terra, do emprego, dos direitos, da universidade). Estão na cantina para criar um espaço de outra convivência e outra sociabilidade, utilizando-a para a venda de produtos da reforma agrária e de outros processos que financiem a luta, para a discussão de temas que não se encontram nas grades curriculares e também com pessoas que não possuem registro acadêmico, pessoas que, contudo, estão na sociedade e sustentam a universidade, como os sem terra, os sem emprego, os trabalhadores terceirizados e precarizados…

ocupa141Com este espírito, a recuperação da cantina ocorreu junto com trabalhadores do MST. Juntos, estudantes e sem terra construíram barracos de lona preta, plantaram mudas de árvores frutíferas e canteiros de ervas. Debateram as dificuldades e as necessidades das lutas para além dos muros da academia, para a melhoria das condições de vida da maioria da população.

Curiosamente, a recuperação do espaço foi beneficiada pelo fato dos vigilantes terceirizados estarem em greve pela falta de pagamentos, irregularidades de contrato de trabalho, perseguições e, invariavelmente, a demissão e renovação do quadro de funcionários após 3 meses.

Os agentes da repressão sendo reprimidos contestaram a ordem. Os estudantes, reprimidos e tolhidos constantemente, mas com um mundo sempre mais generoso para eles, mostraram que o saber não está totalmente a serviço do poder (capitalista) e que nem todos os acadêmicos são delinquentes que fazem fé de apolíticos, para servir a política do poder.

Uma tática antiga dos poderosos é lançar categorias profissionais umas contra as outras, minando sua unidade. Viu-se isso claramente na greve dos professores e funcionários das universidades estaduais paulistas neste mesmo ano. Os estudantes ocupados da Unicamp parecem ter aprendido esta velha lição ao tentarem na prática, e não meramente em seus discursos, distanciarem-se de reivindicações somente corporativas e, pelo contrário, ampliarem sua ação para a unidade de luta com movimentos sociais, como o MST, e setores populares.

Veja abaixo algumas fotos do ato:

4 COMENTÁRIOS

  1. DEMOLIRAM A CANTINA OCUPADA DO IA-UNICAMP

    Por que demoliram a cantina do Instituto de Artes?

    No último sábado, dia 21 de agosto, demoliram o prédio da cantina do Instituto de Artes (IA). Esse prédio estava ocupado por estudantes, movimentos sociais e artistas independentes desde o dia 9 de agosto. Nesse espaço estavam sendo realizadas atividades culturais diárias – como rodas de samba, oficina de história em quadrinhos, grafite e break; e apresentações de poesia, como as do Raimundo, de Monte Mor, um poeta que nunca freqüentou faculdade. Tudo gratuito, pra comunidade, funcionários, professores e estudantes participarem. Mas a principal causa da ocupação foi um protesto contra a política de extensão feita pela reitoria atualmente. O dinheiro que a universidade gasta é público. Vem do imposto de todos os trabalhadores e trabalhadoras do estado. Mas é gasto principalmente pra beneficiar grandes empresas. Os pobres pagam impostos enquanto os ricos lucram. Os donos de empreiteiras faturam com as obras da Unicamp enquanto a comunidade é esquecida.

    Dúvidas que surgem: os funcionários da Unicamp que ocupam cargo de chefia ganham alguma coisa com essas obras? E os professores?Quanto ganham os professores envolvidos nos projetos? Por que os salários dos funcionários das empreiteiras são tão baixos se as obras são tão caras? Por que demoliram tão rápido a cantina do IA e outros prédios desocupados não são demolidos?

  2. Amigos e amigas,
    Já que é assim, não seria uma boa ideia ocuparem a Reitoria? Quem sabe se a Reitoria decidiria a sua autodemolição…

  3. Cara Lívia,

    Como pode ver pelo primeiro comentário, a Universidade (enquanto instituição) não apenas não apoiou como demoliu a cantina, com a desculpa da construção de uma biblioteca de obras raras no local.
    De toda forma, esta ocupação não tinha como objetivo a necessária permanência neste espaço, mas criar espaços para outras relações e sociabilidades, vinculando estudantes e movimentos sociais. Ainda que não nesta antiga cantina a tentativa de construção destes outros espaços e formas continua, com diversas iniciativas, como um prosa que teve esta semana sobre as políticas de urbanização na cidade e na Unicamp e a ligação destas políticas com os interesses de professores e gestores da universidade via empreiteiras e empresas. Bem como, continuam as vendas dos produtos feitos pelos movimentos, entre outras coisas.

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