Na semana passada morreu o terceiro trabalhador nesse ano em acidente de trabalho. “É o lucro falando mais alto do que a vida”. Por José Luiz Ribeiro e Victor Martins
“…você já ouviu falar em vale da morte…”
Psychic Possessor
Manhã de céu cinza e rebeldia no chão. Na terça-feira, 23 de Novembro, cerca de 500 trabalhadores que iniciam o turno, por volta das 5h40 da manhã, não entram na Usiminas de Cubatão, não bateram cartão [não marcaram o ponto]. Esse foi um número alto para a quantidade dos que produzem a riqueza no dia-a-dia da indústria, que até então desciam dos cerca de 15 ônibus fretados, já enfileirados poucos minutos depois na Rodovia Cônego Domenico Rangoni.
Não demorou muito para que os presentes vestissem as camisas assinaladas “Usimorte” e cruzes manchadas de sangue (de tomate) estivessem em riste em frente às portarias da “usina da morte”. Trabalhadores da Usiminas, aposentados, metalúrgicos de outras empresas, estudantes da Unifesp que está em greve há mais de um mês e sindicalistas de outras categorias trancavam as portarias e dialogavam com os “peões” [trabalhadores de base] da Usiminas.
Isso tudo porque na semana passada morreu o terceiro trabalhador nesse ano em acidente de trabalho, sem contar os inúmeros casos de mutilados: “É o lucro falando mais alto do que a vida. Só isso pode explicar o que vivemos hoje na Usiminas” dizia o boletim do sindicato.
Entre empurra-empurras e bate-bocas com os seguranças privados da empresa, os fretados vinham descendo e a multidão de trabalhadores se aglomerando. Alguns fura-greves passando pelos bloqueios, não ouvindo, não lendo, não sentindo o mesmo que os do lado de fora de braços cruzados que gritavam pra eles sem dó: “Pelegos! Amanhã você vai ser o 52º”, se referindo às 51 mortes na usina desde que a Cosipa foi privatizada, em 1993, passando a ser chamada de Usiminas. Centenas de acidentes brutais como mutilações, e um “corte” muito bem articulado pela cúpula da empresa no plano médico dos aposentados e da ativa.
Expressões reais, não menos brutais que da antiga estatal Cosipa, que sentem na pele só os que produzem, porém com uma “roupagem nova” na qual a “produtividade é intensificada para o crescimento da empresa”, ou seja, suor, sangue, escalpo e a vida dos trabalhadores continuam sendo a garantia de saúde e segurança que os capitalistas cumprem!
Sassá, atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e Siderúrgicos da Baixada Santista, ao microfone ironizou o outdoor da empresa que diz: “Alta liderança está empenhada na busca pela excelência em saúde e segurança. Vamos juntos buscar o acidente zero em todas as nossas atividades.”
Solidariedade de classe
A disposição do ato foi inegavelmente mandar um recado para a empresa. E no dia do aniversário de fundação da extinta Cosipa, 57 anos. “A Usiminas comemora hoje 57 anos, mas os trabalhadores não têm motivo para comemorar, senão lamentar as mortes que vêm acontecendo aí dentro, além dos ataques aos direitos dos trabalhadores dessa empresa”, bradou Zé Marcos, dirigente do Sindicato dos Radialistas do Estado de São Paulo, em solidariedade aos trabalhadores paralisados da Usiminas. “Enquanto não pararmos a produção, as mortes vão continuar impunes aqui dentro”, exclama Ana Paula, também dirigente sindical, da categoria metalúrgica de São José dos Campos. Ricardo “Big”, do Sindicato dos Bancários de Santos e Região, deu o recado à Usiminas: “Isso é assassinato! isso é assassinato!”.
Mesmo com a revolta de boa parte dos trabalhadores, muitos não sensibilizam-se diante das mortes. Poucas dúvidas ou nenhuma de que o processo de privatização limitou e muito a organização da luta em Cubatão. Muitas empreiteiras, muito trabalho terceirizado. Fragmentação, direitos díspares, os conquistados, pois na hora de retirar direitos os patrões não diferenciam terceirizados de primeiros.
A paralisação foi organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos e Siderúrgicos da Baixada Santista.
Fotografias de Marcos Senhorães
Assista abaixo um vídeo sobre esta luta
Para os brasileiros que não o saibam, a música que acompanha este vídeo é do maior compositor e cantor da revolução portuguesa de 1974-1975, Zeca Afonso. Infelizmente, no vídeo não é ele quem canta. Mas quem quiser ouvir a composição pela voz de Zeca Afonso e vê-lo a cantar, pode seguir este link
http://www.youtube.com/watch?v=2yZkC3YCU20
Os anos passaram, os países são diferentes, a luta prossegue.
O Capital incorpora as pautas econômicas (de negociação da mais valia), mas resiste para negociar a exploração, a intensificação do trabalho.
Borá construir as lutas a partir da base, com (e não em nome dos) trabalhadores.
Obs: JB, obrigado pelas informações sobre o companheiro “interprete e compositor” das lutas.
E assim trabalhadores perdem a vida no trabalho em Santos SP… enquanto outros perdem a vida por causa do estado mínimo que o capitalismo exige em todos os cantos do Brasil.
Até quando vamos ouvir e deixar a impresa dizer que a culpa é do tráfico e não de sistema capitalista falido que se vende para as drogas, que droga né!
A Usiminas foi fundada no início dos anos de 1960 e logo em 1962 fica famosa como sendo sede de um dos maiores massacres de que se tem notícia na história recente brasileira, o massacre de ipatinga , perto de completar 50 anos e muito pouco estudado e entendido. ( http://queijonamoqueca.blogspot.com/2008/10/45-anos-do-massacre-de-ipatinga-mg.html )
Ali se deram execuções sumárias de trabalhadores que estavam em greve geral, com um número oficial de 30 feridos e 8 mortos, sendo um deles um bebê de 3 meses que estava no colo da mãe. Os números estimados são muito maiores, atingindo os centenas de mortos. Como se vê, a Usiminas têm uma história de mortes e de ataque aos direitos dos trabalhadores.
Atualmente, diz ser uma das empresas com o menor numero de acidentes de trabalho. Sabe-se porém, que sempre que se completa um ano sem acidentes há uma festa para os funcionários, que motiva que estes não denunciem os acidentes que sofrem,…
então a soluçao é estado máximo?
Encontrei pela internet a discografia completa do Zeca Afonso.
Pelo site: http://pdclinks.net/forum/index.php?showtopic=22482
Empresa cretina,a maioria dos supervisores e gerentes são todos ordinarios e safados.Tenho fé em Deus que essa empresa feche as portas.