Indignai-vos, por Pinheirinho!

 

Por Zé Max e Ricardo Gomes

Domingo que passou é tudo menos um dia comum. Há uma semana, na madrugada, quem pôde ver assistiu, em Pinheirinho, a saudação do governo paulista, e do Estado policial que nos governa, para um 2012 que mal começa e já vem cobrando da militância política muito mais do que indignação de facebook, marchas, comiseração e efêmera revolta.

Não faz um mês e cumpríamos a tola tradição de presentear uns aos outros, dopados de cegueira e morfina, lançando votos de um ano feliz e próspero, como se a felicidade ansiada, a plena felicidade, necessitasse da pobre representação do shopping de plástico e dos ocultos amigos reunidos em saraus de condomínio.

Quantos Pinheirinhos serão necessários para romper com o show de Truman e notar que a vida não é bonita nem bela, muito menos feliz?

Há muito a se fazer politicamente.

A greve de fome teve início na noite de ontem. O local? Jardim Botânico, em frente da Central de Jornalismo da Rede Globo. A razão é simples: cobertura que considera criminosa sobre a gravidade de Pinheirinho.

Até aí nenhuma novidade. Nós sabemos a quem nossa mídia representa e a quem ela serve. Mas o novo tempo pede algo novo de nós, uma nova mídia, novos direitos, e um novo jornalismo. Faça você mesmo, seja mídia.

O nome do nosso militante é Pedro Rios Leao — “Caboclo Menino” para os mais chegados do OcupaRio. Na última segunda, Pedro aprontou sua mochila e partiu para São José dos Campos. Viveu e narrou o massacre e a extensão da barbárie, que prossegue.

Se Pinheirinho somos todos nós, Pedro também é Pinheirinho. Algemou-se diante da Globo, numa atitude autônoma e radical — que alguns julgarão inconsequente —, trazendo a política, e a necessária resistência, para mais perto de si, para o seu próprio corpo.

“Para mim, não importa o que vai acontecer. Me importa, sim, o que está acontecendo.”

Estivemos com ele.

Pedro não precisa de pena, pré-ocupação ou tapinha nas costas. Muito menos de descrença ou o torcer do seu nariz. Tem com ele tudo de que precisa, na precariedade do que somos.

Água, livros, um colchão fino, tinta, cartazes, também a camisa do Flamengo, sua barba por fazer, indignação, muito ódio e a sua loucura! Porque os loucos capazes de achar que podem mudar o mundo são os que, de fato, mudam.

Não esqueça Pinheirinho.

Se o século passado tem uma lição a nos ensinar, mais do que ser um palácio memorial moral de tudo que foi utopia e barbárie, é que as homenagens, os monumentos de pedra, os tributos, os museus, as efemérides, os cenotáfios e a louvação aos mortos, não são para que lembremos; mas para que esqueçamos.

Pedro, hoje, com seu corpo, roto e gasto, é uma pixação nos muros da Rede Globo. Um canto dissonante, um rasgo numa janela de vidro, o açoite de uma tela de van Gogh para uma estética suja ou o deboche da prosa de Rimbaud para uma nova poética. Uma voz que diz a quem passa você não me vê, mas eu estou bem aqui.

Não esqueça. Não esqueça Pinheirinho.

Veja aqui os vídeos.

2 COMENTÁRIOS

  1. A cobertura foi diferente nas outras emissoras??? Ou ele foi fazer greve de fome na porta da Globo pq dá IBOPE??
    Alguém se lembra do início da ocupação?? Alguém sabe o q de fato houve pra que a ocupação e o processo de reintegração de posse chegassem no ponto que chegaram???

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