Timor-Leste é beneficiário de múltiplos programas de ajuda ao desenvolvimento, mas serão eles realmente benéficos para a população?

timor-intO ideal prosseguido com a criação das Nações Unidas em 1945 continua belo e meritório – a paz e a segurança internacionais, a solidariedade e cooperação entre os povos –, mas a forma como é concretizado no terreno deixa muito a desejar. Timor-Leste nasceu como Estado independente sob a protecção das Nações Unidas e é beneficiário de múltiplos programas de ajuda ao desenvolvimento, em áreas como a produção legislativa, o sistema judicial e a educação. O que se afigura duvidoso é que a ajuda seja realmente benéfica para a população timorense, que continua a viver em condições extremamente precárias, com menos de 1 dólar diário, sem saneamento básico ou energia eléctrica.

Quando a Administração Transitória das Nações Unidas para Timor-Leste (UNTAET) cessou funções, em 2002, tornou-se patente a falta de correspondência entre a estrutura administrativa criada e a realidade do país, carecido de recursos humanos que pudessem preencher os lugares deixados vagos pelos assessores internacionais (juristas, economistas e outros). Timor-Leste recebeu das Nações Unidas um esqueleto de Estado que a população timorense não podia preencher, pelo que os assessores que partiram rapidamente foram substituídos por outros. E esses por outros. Continuamente. Até hoje.timor-dest

A presença constante de uma bolsa de assessores internacionais a auferir salários milionários (os valores oscilam entre um mínimo de 4 mil dólares mensais e um máximo que chega aos 40 mil dólares) tem por resultado a subida meteórica dos preços dos bens de primeira necessidade (sobretudo a habitação e a alimentação) que inevitavelmente afectam os timorenses, mesmo que persista uma economia paralela com preços mais baixos para eles. Dili, a capital, onde se concentra a esmagadora maioria desta “elite importada”, é claramente uma cidade a duas velocidades, com pequenos guetos (bares, restaurantes) reservados para os malai (a expressão usada pelos timorenses para referir os estrangeiros), à porta dos quais os timorenses aguardam, com exasperação crescente, a oportunidade para entrar.

Não são os salários milionários destes assessores estrangeiros o que mais suscita a indignação dos timorenses, porém. O principal problema reside no facto de estes parecerem pouco ou nada preocupados com a transmissão do know-how aos timorenses com quem trabalham e que deveriam estar a procurar “capacitar”. Bem como no facto de, via de regra, revelarem um profundo desconhecimento (e desinteresse) sobre a história, a cultura e as aspirações das populações cujas vidas se propõem alterar por decreto. Passa Palavra

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  1. Segundo a Oxfam, uma conhecida Organização Não Governamental (ONG) britânica, em Moçambique os projectos de ajuda económica, tanto de ONGs como de governos, gastam em conjunto 350 milhões de dólares por ano para remunerar 3.500 assessores técnicos estrangeiros, o que, calcula a Oxfam, seria suficiente para assalariar 400.000 funcionários moçambicanos. Veja-se a este respeito The Economist de 6 de Setembro de 2008, pág. 64.

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