Por Ivaldo Gomes

Como pai de filhos na escola municipal de João Pessoa, tenho me solidarizado com os professores e participado ativamente das Assembléias Gerais que têm acontecido. Fui a anterior e a que ocorreu hoje (07/05/09), que por manobra da diretoria do sindicato, praticamente decidiu pela categoria. O mau exemplo dado hoje à tarde terá que ser refletido pela categoria para perceber que o sindicato não é da diretoria e sim da categoria profissional. É preciso historiar tudo para que os possíveis leitores possam perceber como a manipulação pode desmoralizar toda uma luta e um esforço coletivo de professores desrespeitados em seus direitos e aspirações.

sintem_1O SINTEM – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Município de João Pessoa é dominado pelo Partido dos Trabalhadores. O qual apóia de forma burra e adesista o atual prefeito de João Pessoa. A maior ‘liderança’ da categoria tem sido o vereador Benilton Lucena. Reeleito para um segundo mandato, sob a acusação de receber da PMJP milhares de contratos de prestadores de serviço para colocar nas escolas do município, garantindo-lhe assim, a última eleição. Afora a postura de ser considerado um dos ‘homens’ de confiança do prefeito. Pois bem, ele se juntou com a atual diretoria do Sintem, que o substituiu na atual direção – pois ele foi o seu presidente anterior até se eleger vereador pelo PT – no seu lugar deixou também um homem de sua total confiança chamado: Daniel de Assis.

A Greve dos Professores se arrastava há mais de dez dias. Com a diretoria sempre apresentando posturas de conciliação com a PMJP. Mas a categoria resistiu e fez a greve acontecer, mesmo com um sindicato se escorando e querendo o tempo todo evitar o confronto com a PMJP. Nas duas últimas assembléias a postura da diretoria foi sempre de tentar convencer a categoria de suspender a greve, com o argumento de que ‘o prefeito assim exigiu para que tivesse alguma negociação’. Mas na assembléia de hoje o presidente do sindicato e vários diretores se superaram na cara de pau de acabar com o movimento, mesmo sem o apoio da categoria. Pra isso prepararam um golpe que surtiu o efeito desejado.

Pela manhã, sem o conhecimento da categoria, o presidente e alguns diretores conversaram com agentes da prefeitura e fecharam um acordo para pôr fim na greve, apesar da categoria. Hoje à tarde a diretoria do sindicato acabou com a greve – que estava causando estragos consideráveis à imagem ‘socialista’ do prefeito – e aí sim, o prefeito, num reentré, posará agora de bom moço e responsável, e dará algumas migalhas a mais do que já havia sido anunciado. Mas para isso precisa parar a greve. Desmoralizar os professores com sua petulância de fazer greve no seu governo. O presidente não se fez de rogado e levou para a assembléia uma ‘proposta’ já discutida com o prefeito, com a pré-condição de que a greve acabasse. Claro, o prefeito antes listou o que poderia ser discutido. Ou seja, quem manda é o prefeito e a categoria aceita calada, com a ajuda sacanamente luxuosa do Sintem.

sintem_2O presidente inicia a assembléia, apresentando a ‘proposta’ do prefeito. Achando pouca uma primeira leitura fez uma segunda, mostrando ‘as vantagens’ em se parar a greve e conversar com o prefeito. Manipulou a mesa de inscrição e colocou umas dez inscrições iniciais – TODAS – a favor da proposta de suspensão da greve para negociar, como queria e impôs o prefeito. A cada fala na assembléia um grupo de professores, estrategicamente espalhados no meio da multidão, puxava o coro de ‘vamos parar com a greve’ e tome aplausos. Quando os professores perceberam que os discursos de carta marcada, falavam numa nota só – tudo combinado nos bastidores – começou a reação dos presentes na Assembléia. Mas aí já era tarde, o golpe já tinha se iniciado. A reação veio com vaias e com inscrições de professores que não concordavam com a suspensão da greve. Esses professores argumentavam que não tinham nenhuma garantia concreta de nada e que nada tinha sido de fato conquistado até agora. Apenas a ameaça do prefeito para parar a greve e depois, e só depois, sentar pra conversar. Quando começam a falar os professores contra a proposta da diretoria do sindicato e a favor da continuidade da greve, o presidente de forma autoritária tomou a palavra e perguntou de forma desrespeitosa aos inscritos se eles ainda queriam manter as inscrições.

sintem_3Todos foram unânimes em dizer aos gritos que queriam falar; que se respeitasse a democracia e fosse dado o direito a fala de quem já estava inscrito. Foi aí que o presidente, mais uma vez de forma autoritária provocou a platéia para que ela decidisse se queria ou não ouvir ainda os inscritos, com o argumento fajuto de que ‘tudo já estava mais do que esclarecido’. Dado o golpe de misericórdia, colocou em votação sua proposta sem debate algum. Claro, como a assembléia já tinha sido preparada, manipulada, enrolada pela diretoria do sindicato, votou pelo cancelamento das inscrições, legitimamente feitas em momento oportuno para isso. Terminada a votação extemporânea, o presidente se viu cercado por dezenas de professores aos gritos de ditador, pelego, golpista. Foi preciso a turma do deixa disso retirar o presidente do Ginásio de Esportes do Liceu paraibano para que o mesmo não fosse agredido, tamanha a raiva de alguns professores.

Ficou a lição.

Aos professores da rede municipal de ensino de João Pessoa, ficou mais do que claro que não basta ter um sindicato. É preciso que a diretoria esteja em sua defesa. É o que não acontece com a atual diretoria do sindicato. Corre a boca miúda que a maioria dos diretores possui gratificações dadas pela atual gestão da PMJP. O que torna, na prática, esses diretores chapa branca da atual gestão municipal. É preciso que a categoria retome o controle do seu sindicato e, por conseguinte a direção de suas reivindicações e a garantia de que o sindicato realmente a represente em seus interesses. Os professores tentaram ainda pressionar o presidente e a diretoria para que fosse garantida a presença dos professores na reunião que acontecerá na próxima segunda-feira com o prefeito. Como não se teve tempo – pelo tumulto causado – os professores ficaram a ver navios. Nem a proposta de ir à prefeitura e ficar do lado de fora em concentração, para pressionar o prefeito, teve condição de ser votada.

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Benilton Lucena

Na próxima quinta-feira, teremos outra assembléia. E esperamos que a categoria retome sua autonomia e analise inclusive, a postura dos seus dirigentes e as reais propostas que serão discutidas com o prefeito. Esperamos, torcemos, para que tudo termine bem. Mas ficou mais do que claro que a categoria vai ter que mudar a atual direção e trazer o sindicato para uma condição de mais confiança e respeito aos anseios justos da categoria. Destaco aqui a postura silenciosa, quase despercebida, da presença do vereador Benilton Lucena – PT, que não fez uso da palavra nenhuma vez para analisar com os professores as questões que os mesmos enfrentam na atualidade. Parecia que o vereador não queria falar pra não ficar mal na fita com o prefeito. Mas as máscaras já estão postas e com o andar da carruagem ficará cada vez mais claro quem realmente apóia os professores e quem de fato merece representá-los. É só uma questão de tempo.

Finalmente os professores estão passando por uma capacitação política, de forma intensa e acelerada. Estão tendo que descobrir que o prefeito não era quem dizia que era e que a diretoria do seu sindicato está mais do lado do prefeito do que da categoria. Resta saber até quando isso continuará assim e o quê os professores vão fazer, depois que descobriram que na prática, a teoria socialista da PMJP e da diretoria do sindicato é outra. O processo deverá se aprofundar nos próximos dias e a sociedade pessoense – principalmente os pais e os alunos da escola pública municipal – terão que continuar aprofundando sua solidariedade com seus professores e ajudando os mesmos a desmascarar quem diz uma coisa e faz outra completamente diferente.

Quem viver verá!

2 COMENTÁRIOS

  1. A grande verdade é que ninguém luta por representação. Não são as direções mas sim as bases o motor das mobilizações. Base forte e unificada, significa direção com poder reduzido e obediente à base. Base fraca e fragmentada, significa direção forte e pelega. As bases tem de enfiar arreios nos dirigentes e assumir o controle sobre eles, literalmente ocupar os sindicatos (até fisicamente).
    Me parece muito bom que haja essa união entre luta docente e comunidade. Algo que aqui, no Estado de São Paulo, não existe, pois não há nada mais podre e corporativista que a APEOESP – dominada também pela Articulação do PT. Basta dizer que os partidos políticos enxergam sindicato como trampolim para as eleições, como comite de campanha para vereadores, como meio de ascensão social.

  2. Sobre os grandes sindicatos, basta ver:
    Quem coleta a grana que os financia?
    São so trabalhadores que se reunem, e vão ao sindicato pagar seu carnê para mantê-lo? Caso seja assim, temos uma organização de luta solidária, que se mantém com dificuldade e na base de trabalhadores combativos.
    Ou a contribuição sindical já é automaticamente descontada do associado na fonte, pelo patrão ou estado que o repassa ao sindicato? Caso seja assim, temos um departamento auxiliar de RH ou uma repartição pública cheia de funcionários!

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