Independentemente das especificidades locais, têm sido os trabalhadores temporários a suportar todo o peso do reajustamento do mercado de trabalho.
A revista The Economist de 14 de Março de 2009 publicou nas págs. 64-66 um artigo acerca dos efeitos exercidos sobre o desemprego pela actual crise económica, e o conhecimento de alguns dos dados fornecidos parece-nos indispensável para que os trabalhadores precários formulem a sua estratégia de luta.
Em Espanha, um dos países europeus mais atingidos pelo desemprego, os despedimentos ocorridos em 2008 incidiram apenas nos trabalhadores temporários. É certo que o recente crescimento económico espanhol se baseara em grande medida na construção civil, um dos sectores mais atingidos pela crise, e além disso The Economist considera a Espanha como o caso mais extremo, na União Europeia, de divisão do mercado de trabalho em estáveis e temporários. No entanto, malgrado as diferentes condições económicas, o padrão de desemprego é exactamente o mesmo em França, onde os contratos de trabalho temporário diminuíram 1/5 e os empregos permanentes não foram praticamente atingidos.
Assim, o ónus das modificações no mercado de trabalho tem recaído nos trabalhadores menos qualificados, nos imigrantes e nos jovens, que formam o grosso do contingente dos assalariados temporários na Europa.
A situação esclarece-se melhor ao sabermos que, apesar de o número de imigrantes ser diminuto no Japão, nem por isso os trabalhadores temporários deixaram de ser as principais vítimas, e praticamente todos os despedimentos no sector industrial deste país recaíram sobre os temporários. Aliás, já desde há muito que era bastante pronunciada a clivagem do mercado de trabalho japonês entre os estáveis e os temporários, mas a divisão agravou-se nos últimos anos, representando os temporários 1/5 da força de trabalho em 1990 e 1/3 em 2008. Como a maior parte destes temporários não tem direito a subsídio de desemprego e como a crise afectou o crédito imobiliário, um funcionário do Ministério do Trabalho calculou que 1/3 dos 160.000 trabalhadores temporários que ficaram sem emprego nos últimos meses perdeu igualmente a residência.
Vemos, portanto, que independentemente das especificidades locais, têm sido os trabalhadores temporários a suportar todo o peso do reajustamento do mercado de trabalho.
Entretanto, nos países menos desenvolvidos, alguns estudos elaborados pela Organização Internacional do Trabalho prevêem que, com o agravamento da crise económica e o aumento dos despedimentos, muitos milhões de trabalhadores transitem da economia oficial para o sector informal, precisamente aquele onde a ameaça de desemprego se revela agora mais grave. Passa Palavra