CARTA ABERTA AOS ESTUDANTES

Os estudantes da FFC Unesp – Campus de Marília, deliberaram em Assembléia Geral Ordinária, dia 26 de maio último, pela mobilização sob forma de greve imediata com ocupação do prédio de aulas até o completo atendimento de sua pauta de reivindicações.

As universidades públicas do estado, particularmente a UNESP, vêem-se diante de um quadro de ataques não só lesivos à qualidade de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, mas à sua própria característica enquanto universidades públicas. Bem entendido, estamos a dizer do PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) e da UNIVESP (Universidade Virtual do Estado de São Paulo).

O PDI é um plano, praticamente imposto pela reitoria da Unesp, que define ações e objetivos para a UNESP pelos próximos dez anos. Dentre essas ações, devemos destacar a completa reestruturação acadêmico-administrativa da UNESP, a adoção do ensino à distância como forma de expansão de vagas e a mais completa submissão da universidade a um punhado de grandes empresas, banqueiros e monopólios capitalistas. De fato, o PDI coloca que toda UNESP deverá se centrar em torno da vinculação prostitutiva da UNESP à empresas: a pesquisa entendida como forma de captação de recursos; a graduação tomada como meio de formação de mão-de-obra especializada e barata às grandes industrias; a própria estrutura acadêmica e os curricula adaptados às necessidades de interesses capitalistas notoriamente contrários aos interesses da maior parte da população que financia a UNESP, enquanto universidade PÚBLICA.

Quanto a UNIVESP, a Assembléia dos Estudantes da UNESP de Marília, compreende-a como o mais grave ataque à qualidade da educação jamais visto na historia do Estado de São Paulo. A UNIVESP (assim como o PDI) é continuação direta dos Decretos do Serra, na medida em que foi a Secretaria de Ensino Superior — herança maldita daqueles decretos — que propôs e executará este programa chamado UNIVESP. Tal programa se propõe a oferecer, por meio da estrutura já existente das Três Públicas Paulistas, cursos modalidade à distância de formação, especialização e atualização, seja na graduação seja na pós. Em último caso, o objetivo da UNIVESP é desobrigar o Estado em relação à Educação Pública, Gratuita e de Qualidade, já que o Ensino à Distância não requisita, para sua implantação, nem da contratação de professores, nem de funcionários, tampouco de construção de bibliotecas e de salas de aula, muito menos a adoção de políticas de permanência estudantil. Dentre os cursos já distanciados conta-se Pedagogia (cinco mil vagas!!!), Biologia, Ciências e Filosofia; mas não é tudo, pois já se cogita Física, Química, Biblioteconomia, Letras, Ciências Sociais, dentre outros. A UNIVESP dá ensejo para o aprofundamento da falta crônica de professores e funcionários no ensino superior; abre espaço para o completo esfacelamento da cultura e da educação em nossa sociedade, além de deixar claro os interesses do governo do Estado em substituir todos os cursos presenciais não diretamente produtivos (quer dizer, capazes de gerar lucros para empresas e bancos) por cursos à distância.

Os estudantes da UNESP-Marília têm claro que o PDI e a UNIVESP colocam a mesma política e o mesmo destino às Universidades Públicas e ao Ensino Publico do Estado de São Paulo. Assim, combater um significa necessariamente combater o outro.

Aos funcionários, professores e estudantes que até agora se colocaram contra as políticas neoliberais do governo do Estado, das Reitorias e das Diretorias dispensou-se sindicâncias, perseguições, expulsões, demissões e, até mesmo, ameaças de morte. A forma como a burocracia acadêmica e os políticos se propõem a tratar as legítimas reivindicações e os posicionamentos dos estudantes, funcionários e professores é absolutamente inaceitável!!! Neste sentido, a demissão ilegal, arbitrária e ditatorial de Claudionor Brandão, trabalhador e dirigente democraticamente eleito do Sindicato dos Trabalhadores da USP (SINTUSP) é a expressão mais cabal da falta de disposição das reitorias e do governo para o diálogo e do excesso de disposição para punição e enquadramento daqueles que se lhes opõem.

Não devemos, no entanto, defender a antiga universidade contra a que os burocratas estão a nos impor por meio do PDI e UNIVESP. Não devemos ser conservadores, ao contrário, os conservadores são os políticos, os reitores, a burocracia universitária. A universidade é, de fato, fechada, restrita, elitista e racista; de fato, ela necessita romper com as barreiras do academicismo e das pesquisas estéreis, dobradas sobre si. O PDI e a UNIVESP se propõem a resolver isto, mas de modo precário, demagogo e deplorável. Os estudantes da UNESP-Marília defendem uma nova universidade, que seja pública, gratuita, laica, de qualidade, paritária em seus órgãos de deliberação e eleições internas; os estudantes defendem uma universidade cujos conhecimentos produzidos sejam apropriados e destinados para a maior parte da população e não para a mesma velha classe dominante mesquinha e exploradora. Se há um imenso déficit de vagas no ensino superior, que os governos estatizem, sem ressarcimento, todas as universidades particulares, tornando-as públicas do início ao fim; assim, não só garantiremos vagas para todos (como em diversos países da Europa e, inclusive, na maior parte dos países da América Latina), como teremos dados largos passos para garantir o caráter público da educação.

Dado o sombrio contexto de privatização e destruição do patrimônio público, somado a constante e irrestrita perseguição política e disciplinar aos professores, funcionários e estudantes, esta Assembléia Geral dos Estudantes da FFC UNESP-Marília compreende que não nos resta outra saída para barrar os ataques ao movimento e a Educação Pública, senão a adoção de métodos radicalizados e efetivos de luta. Neste sentido o caminho que os estudantes da UNESP-Marília escolheram para construir sua mobilização foi a Greve com Ocupação.

Ainda que muitos possam criticar nossos métodos, historicamente foram eles os únicos a darem resultados e conquistas de vulto: bolsas, aumento de vagas, aumento de repasse de verbas, moradias estudantis, restaurantes universitários, etc. Somente com o forte movimento de Ocupações de reitorias e diretorias em 2007 pudemos barrar os ataques do governo privatizante e neoliberal de José Serra. Como estes ataques não param, como mudar os métodos de luta? Se o horizonte da destruição completa das universidades públicas se aprofunda e torna-se mais claro, como se furtar a utilizar esta via?

Os trabalhadores da USP optaram pelo mesmo caminho que os estudantes da UNESP-Marília. Apoiamos vigorosamente a greve deste setor, sempre tão combativo e desperto contra os ataques. Que a luta dos trabalhadores da USP seja nossa luta. Que a luta dos estudantes desta UNESP-Marília seja vossa luta, estudantes. A melhor demonstração de solidariedade para conosco, neste momento, é a adoção de nossos métodos de ação; é o encampamento de nossa batalha contra os terríveis ataques das reitorias e do Governo do Estado.

É isto que dizemos, estudantes de São Paulo, particularmente da USP, UNESP e UNICAMP.

A derrota de nossa greve com ocupação e a derrota da greve dos trabalhadores da USP significará o esgotamento político daqueles que se levantaram contra o arbítrio e a precarização. Apóiem-nos e nós os apoiaremos. Todos nós, unidos, podemos deter os ataques.

É isto que dizemos, estudantes de São Paulo, particularmente da USP, UNESP e UNICAMP.

É vosso apoio que estamos a requisitar e esperar.

Marília, 27 de maio de 2009, Sala 64

Comando de Greve dos Estudantes da UNESP-Marília

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