Arizona, Estados Unidos. Armas, agentes policiais, helicópteros, invasões a casas, prisões, detenções, separações de famílias, pontos de revisão. Por Matteo

Isto não é uma cena da Guerra do Iraque ou do Afeganistão, isto é a vida diária no estado do Arizona, nos Estados Unidos. A SB (Senate Bill, que significa projeto de lei do Senado) 1070 foi aprovada em ambas câmaras da legislatura do Arizona e foi convertida em lei pela governadora republicana, Jan Brewer, no dia 23 de abril passado.

A nova legislação, entre outras coisas, permite que a polícia peça uma prova de cidadania a qualquer pessoa de quem tenha uma “suspeita razoável” de que é não documentado. Isto criminaliza o simples fato de encontrar-se no estado do Arizona sem autorização e converte em ilegal um trabalhador por dia, e também quem o contrata.

“Esta lei é de temer; não sabemos o que fazer. Tenho medo inclusive de ir à loja porque não sei se voltarei para casa”. Este é o sentimento de uma mãe de três crianças, que pede para permanecer em anonimato. O medo de prisões, deportações e separações familiares é real. Atualmente, muitas famílias estão se autodeportando ante uma lei que chega sob um amplo contexto de leis e políticas anti-imigrantes.

storyAo longo da fronteira México-Estados Unidos, cerca de 5 mil homens, mulheres e crianças morreram devido às políticas fronteiriças norte-americanas. O comissário Joe Arpaio acusa comunidade e viola direitos humanos diariamente no Condado de Maricopa. Foi adotada uma lei de sanções a empregadores em 2008, criminalizando os trabalhadores. A HB 2008 entrou em vigor em novembro de 2009, requerendo que o Departamento de Segurança Pública exija um estado da cidadania quando as famílias solicitam benefícios públicos.

A operação streamline (ou dinamizar) criminaliza as pessoas que cruzam o deserto, fazendo-as prisioneiras e sentenciando-as, para logo deportá-las sem processo algum. A SB 1070 legaliza a diferenciação racial e incrementa o estado de terror policial em comunidades latinas. A HB 2281, por sua vez, elimina os estudos étnicos nas escolas do Arizona. Assim mesmo, a lei SB 1097 requer que todos os estudantes informem à escola sobre seu estado de cidadania. Estes são só alguns exemplos dos ataques que as comunidades do Arizona estão enfrentando.

“Se o Arizona é o epicentro dos ataques da ala direita, deve ser também o epicentro da resistência”, observa Lilani Clark, de 21 anos, uma dos nove estudantes que se aprisionaram, na porta do Capitólio do estado do Arizona, no dia 20 de abril passado, em protesto pela SB 1070. Eles e elas convocaram “um movimento nacional para usar ações diretas não violentas e desobediência civil como a fase seguinte do movimento de direitos dos imigrantes”.

No dia 1 de maio, dezenas de milhares marcharam no Dia Internacional dos Trabalhadores ao longo do país, em solidariedade com os movimentos de resistência no Arizona. O congressista Luis Gutiérrez, de Illinóis, foi um dos 35 ativistas detidos esse dia por não se distanciar da Casa Branca durante os protestos da SB 1070.

03-390x247Em outro ato de protesto simbólico, cerca de trinta residentes de El Paso, Texas, algemaram a si mesmos e se entregaram à prisão da circunscrição, declarando-se culpados por não terem seus papéis, em violação à SB1070. Um comissário, de forma cortês, lhes disse, um a um, que a circunscrição de El Paso não se ajustava à lei federal de imigração e que eles estavam no Texas, não no Arizona.

No dia 6 de maio, em Los Angeles, 14 pessoas se algemaram juntos em uma rua do centro da cidade, de acordo com a informação da agência jornalística Associated Press. Os ativistas bloquearam durante horas a entrada do edifício onde os imigrantes são processados para sua detenção e deportação. Logo foram presos pela polícia do distrito em função da negativa a dispersarem-se.

Assim como aumenta a opressão contra as minorias nos Estados Unidos, cresce a desobediência civil. As pessoas podem permanecer oprimidas até que se insurjam das sombras, das margens, do esquecimento.

Original: http://desinformemonos.org/2010/06/arizona-racismo-y-resistencia/
Tradução: Lucas Morais para o Passa Palavra.

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