Descendo rápido do caminhão, o presidente se misturou aos operários. “Faz tempo que não entrego panfleto, mas como vou perder o emprego no dia 1º, é melhor mesmo eu voltar a entregar panfletos para os trabalhadores”. Por Passa Palavra (com agências de notícias)

“Segunda-feira essa mulher vai fazer a primeira experiência dela, às 5 horas da manhã, na porta de uma fábrica lá em São Bernardo do Campo, pra ela saber onde começou a mudança da história deste país”, avisou o presidente na sexta-feira à noite, dia 20 de agosto, em comício em Osasco, no cordão industrial de São Paulo.

Pouco antes das nove da noite do domingo, a candidata tuitou: “Agora, dormir cedo porque tem panfletagem na porta da fábrica da Mercedes em S.Bernardo. Depois, café c/ presidente Lula e o pessoal”.

Em 2006, pouco depois de sua reeleição, Lula tinha estado na fábrica, comemorando os 50 anos de sua instalação no Brasil. Na ocasião discursou: “Eu que venho à porta desta fábrica desde a década de 70, eu que já vivi momentos de glória na porta desta fábrica, já vivi momentos de tristeza, já vi filas de trabalhadores sendo contratados, já vi filas de trabalhadores sendo demitidos”.

Agora, às 5:30 horas da manhã de um 23 de agosto de 2010, vai de novo à fábrica, na entrada do turno de cerca de seis mil trabalhadores. O presidente está sob um caminhão adaptado para comícios, mas disse que não queria estar ali em cima, para desassossego de seus assessores e da entourage de candidatos vip que o acompanhava. “Ralhou” publicamente com os organizadores: “Tinha que fazer uma coisa normal, que era ir para o corredor da fábrica para a Dilma cumprimentar a companheirada. Não é sempre que a gente tem uma candidata pra ir à porta de fábrica pra abraçar os companheiros. Não é sempre que uma presidente da República pode vir aqui!”. Desculpou-se em seguida pela comemoração antecipada: “Eu digo nossa presidenta porque sabe, se Deus está conosco, quem será contra a gente?”.

Dirigiu-se à assistência: “Trouxe ela para pegar um pouco de energia na porta de fábrica, que foi onde tudo começou”. E emocionado, explicou-se para Dilma: “Aqui, passamos um pouco de tudo”.

Lula prontificou-se a ser o intermediário dos trabalhadores no governo de Dilma: “Vou ajudar esse pessoal a telefonar para o Marinho [Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo] ou o Nobre [Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC] e falar: ‘Ô presidenta, sabe aquilo que a senhora falou na porta da fábrica às 6h da manhã? Nós não esquecemos’”.

Ao final, despedindo-se da “companheirada”, o presidente bradou, inovador: “Gentalha, que Deus abençoe cada um de vocês”.

Enquanto os operários iam entrando, os candidatos aos vários cargos eleitorais se sucediam nas falações [discursos]. A candidata Marta dirigiu-se à candidata Dilma: “Não dava para você, Dilma, ser presidente do Brasil antes de vir aqui, neste local e nesta região onde se forjou a liderança de Lula, sem vir olhar nos olhos desse povo lutador”.

Após a crisma, Dilma prometeu categórica: “Os governos têm de ter lado e o nosso lado é um só. É o lado do crescimento econômico com emprego”. Depois olhando nos olhos do “povo lutador” pareceu incorporar Evita: “Milhões e milhões de mulheres trabalhadoras prepararam o Brasil para este momento. Eu serei a primeira presidenta do nosso País. A presidenta de vocês”.

Descendo rápido do caminhão, o presidente se misturou aos operários. “Faz tempo que não entrego panfleto, mas como vou perder o emprego no dia 1º, é melhor mesmo eu voltar a entregar panfletos para os trabalhadores”, brincava feliz enquanto pregava adesivos [autocolantes] de Dilma na roupa dos metalúrgicos.

No cometa lulista na porta da fábrica tudo era um alegre bulício. Um repórter do Diário do Grande ABC registrou: “A primeira-dama Marisa Letícia, sempre em blazer vermelho, se diverte com o assédio.”

4 COMENTÁRIOS

  1. E agora, companheiros?

    Três dúvidas pairam sobre minha cabeça:

    (1)Podemos abster-nos dessas eleições ou anular votos, mostrando assim uma das faces de nossa indignação à essa falsa democracia?

    Ou…

    (2)…seremos mais uma vez obrigados a votar no “menos pior” tendo em vista que o candidato tucano é um fascista com uma roupagem democrática?

    Sou educador e tenho medo de um candidato que sucateia o ensino público e trata a questão da educação como caso de polícia. Isso nos leva à terceira questão:

    (3)Votar em um candidato com discurso trabalhista por mais “tático” que pareça não seria alimentar o discurso da socialdemocracia?

    Um abraço a todos.

  2. Se eu estivesse preso e me dessem a opção de ficar numa cela comum ou numa solitária, eu escolheria a cela comum.

  3. Boa parte dos militantes que nos anos 60 e 70 defenderam a necessidade de uma revolução armada como caminho ao socialismo, passado o período das ditaduras militares passaram a adotar um discurso menos revolucionário e mais “humanista”. Esses militantes, hoje social-democratas assumidos, afirmam que sentiram na pele a violência de uma ditadura e descobriram que a violência é ruim pois todos merecem viver – do favelado sem comida ao dono da United Fruits. Isso envolve o abandono do discurso revolucionário e a defesa dos ideais democráticos, convencendo as gerações que nasceram após a abertura democrática que aprofundando a democracia podemos chegar ao socialismo sem a necessidade de uma ruptura com a institucionalidade(!). Dessa forma boa parte dos jovens acreditam que não há outra saída – ou é ditadura ou é “democracia”. Os políticos aproveitam a brecha, dizendo que tentar romper com a institucionalidade hoje seria loucura, pois não há um “projeto socialista” para a América Latina e portanto qualquer tentativa radical de tomar o poder ou abolir o Estado é rotulada como utopia da “extrema esquerda” pois poderia colocar em risco a “democracia” que eles ajudaram a construir. O interessante é que esses social-democratas defendem partidos cujas bandeiras tem um “S” de socialista ou um “C” de comunista, convencendo os jovens de que a via democrática é sim o caminho para o socialismo e que enquanto não surgem novos intelectuais capacitados para gerir a sociedade (leia-se: dar continuidade ao capitalismo) temos que aprofundar a democracia e pouco a pouco abrir caminho para o socialismo. Interessante também é ver que o argumento de “não matar” é mais furado que peneira, porque a “democracia” mata milhares todos os dias. Mas morrer de fome, frio ou baleado pela polícia ou pelo exército pode.
    Porque é uma morte em “pluralismo, liberdade e democracia”. De tão ridículo chega a ser triste.

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