As peças televisivas do horário eleitoral gratuito devem ser gravadas no interior dos templos ou, na pior das hipóteses, nas sacristias. Por José de Sousa Miguel Lopes
A Dilma pode ganhar? Pode. O que precisa ser feito? Ela e todo o pessoal do PT precisam passar o dia, e por que não a noite, no interior das igrejas rezando muito. As peças televisivas do horário eleitoral gratuito devem ser gravadas no interior dos templos ou, na pior das hipóteses, nas sacristias. Dilma ao falar deve estar sempre rodeada de clérigos de várias tendências religiosas e envolta em nuvens de incenso. Ela deve ter sempre bem visível no peito um crucifixo e uma mantilha negra sobre a cabeça, lançando sempre um olhar para o alto, como deve ser a postura de uma verdadeira devota. Bíblias em várias versões (para contentar todos os que seguem esse livro), precisam ser mostradas incessantemente. É importante que sejam apresentadas algumas imagens que mostrem Dilma a comungar e participando de procissões. Não esquecer do culto a Iemanjá, pelo que ela deve ser vista lançando flores ao mar. O fundo musical deve ter cantos gregorianos e outros hinos religiosos. Nas falas de Dilma a palavra Deus e a palavra milagre devem ser pronunciadas com bastante frequência. Devem ser intercaladas imagens em que Dilma lança água benta sobre crianças que estão sendo batizadas. Tentar obter uma mensagem gravada de Bento XVI e de Edir Macedo onde eles possam dizer que Dilma já registrou um documento em cartório onde diz que é a favor da vida!!! Uma imagem convincente seria mostrar uma mulher grávida e em risco de vida que diz ter sido estuprada pelo Bin Laden ou por qualquer outro facínora (não é difícil arranjar candidatos para esse papel). Surge, então, Dilma sorridente confortando essa mulher, passando-lhe carinhosamente a mão na barriga e dizendo que vai defender o nascimento dessa criança, pois ela (Dilma) é a favor da Vida, mesmo que a mãe da criança morra!!! Também deverá afirmar, caso seja eleita, tudo fará para que Jesus se apresente finalmente em terras brasileiras, para que possa tirar, de uma vez por todas, este sofrido povo da miséria. Caso contrário, a Dilma já era. Só lhe restará o Inferno, sem passagem pelo purgatório!
Miguel
Você expressou bem o que muitos nós gostaríamos de fazer nesse momento.
Até parece que estamos para escolher um pároco de igreja e não um presidente da república.
Lana Mara
Miguel,
compartilho de suas reflexões. O Estado é laico e secular. Temos diversas questões “terrenas” no campo das políticas públicas na educação que estão passando ao largo destas eleições.Para citar apenas duas delas: o debate sobre o sitema nacional de educação; as condições de trabalho dos professores da Educação Básica.
Abraços,
João Andrade.
Miguel,
A imprensa jogou uma pegadinha em cima do PT e uma orientação programática no colo do PSDB ao qualificar de súbito (após o 1º turno, é claro) os votos da Marina Silva de “religiosos” ou “conservadores”. Para o PSDB esta é a única chance de se interpretar o crescimento da Marina (e a estagnação tucana frente a perda de intensões de votos petista) à seu favor: sem tratar da identidade de classe (história da Marina); sem falar de onda verde (programa ambiental incompatível com a bancada ruralista demotucana); e sem situar a terceira via (antipetismo, porque também antidemotucanos). Qualquer uma dessas interpretações criaria impasses de disputa dos votos entre PT e PSDB, favorecendo no mais pelo menos o PT. A agenda religiosa (especialmente a católica) é a única possibilidade de se fazer uma campanha de baixaria, colando Serra carolamente à fé e todos os pontos reacionários que daí derivam (sem nenhum problema de coerência) e prensando o PT contra um impasse que somente pesquisas muito mais amplas poderiam aferir: pensamento religioso (à direita) versus orientação classista (à esquerda). O mais inusitado é se ver que os intelectuais orgânicos do PSDB (na imprensa) não tem muito problema em contribuir para prensar a Dilma e o PT (eles subvertem facilmente suas convicções nos termos religiosos), mas nós, à esquerda, temos nossas convicções tão firmes que nos debandamos tão logo somos pautados por temas impostos pela imprensa, claramente desfavoráveis para o PT, para a esquerda e para a classe trabalhadora. Quem acha possível deixar de lado a defesa da Dilma e do PT por causa desse episódio completamente exdrúxulo, não me parece que dê o devido valor às diferenças entre PT e PSDB, apesar das toscas similaridades. Se isso for real, aí resta-nos somente o respeito, mas não vejo como razoável justificar críticas dessa caracterização “religiosa” ou de qualquer outra aberração que ainda venha ocorrer nos próximos dias.
Márcio Carvalho
PS: ânimo moçada, o bixo ainda vai pegar… :P
PS2: o contexto é completamente complexo para acharmos que uma crítica unilateral afiança independência política e integridade intelectual. ABSURDO ESSE TOM DE TEXTO NUM SITE COMO ESTE!!!
Miguel:
inquietante reflexão. Lamentável retrocesso!
O que me preocupa em tudo isto não são os candidatos, são os eleitores. Em democracia representativa não devemos confundir o discurso eleitoral com as intenções governativas nem a base eleitoral com a base social de governação, e esta regra prevalece tanto na esquerda como na direita. Preocupa-me que uma percentagem tão grande da população brasileira tivesse passado a apoiar os aspectos mais retrógrados das várias crenças religiosas, a tal ponto que estes aspectos se tornaram um dos temas preferidos da campanha eleitoral. E isto tem um nome, é a americanização — a norte-americanização — da sociedade brasileira. Esta americanização progrediu consideravelmente na última década ou década e meia, e agora disputa-se uma eleição presidencial em termos religiosos que antes pareciam reservados aos Estados Unidos. Talvez eu esteja preocupado com a hipótese de ser eleito um dos candidatos, mas é uma inquietação limitada no tempo, com um prazo máximo de dois mandatos. Enquanto o fanatismo religioso de uma parte cada vez maior da população brasileira promete durar bastante mais de oito anos.
Meu caro!
não sabe voçe que é o presidente da republica que toma decisões que pode afetar a minha e a sua vida?pois é para voçe pode ser novidade, mas existe no congresso projetos que foram seguros e não foram votados, que muda a minha e pode mudar a sua vida para pior. E esses projetos acabam com a liberdade de viver da maioria das pessoas que poderão ser presos por causa de uma minoria que contrariando a natureza, querem ser diferentes. Nada contra mas dai permitir que sejam criadas leis que venha a nos penalizar para proteger essas pessoas, ai não meu amigo, então cresça e veja que nem tudo pode ser como voçe ou alguns querem, mas tem que haver um minimo de coerência.