O Passa Palavra completa dois anos; mais de 17 mil horas em que nos dedicámos a noticiar as lutas, a apoiá-las e a pensar sobre elas. Por Coletivo Passa Palavra
Nesta semana o Passa Palavra completa dois anos. Foram mais de 17 mil horas em que buscamos nos dedicar a noticiar as lutas, a apoiá-las e a pensar sobre elas. Com este texto tencionamos compartilhar com nossos leitores e colaboradores algumas reflexões, números, análises, opiniões e outras informações que perpassaram nossa construção durante esse pequeno mas intenso período.
Nossa trajetória, objetivos, compromissos, o ritmo das publicações, nossos métodos, o balanço e a análise das consultas ao site, as colaborações que chegaram em forma de cartunes, textos, canções, fotos, vídeos – além dos textos de referência do Coletivo disponíveis no site como Apresentação, Pontos de Partida, Estatuto Editorial e os Aspectos de Organização Interna – alimentam as opiniões expressas aqui.
O Coletivo Passa Palavra nasceu a partir da iniciativa de vários brasileiros e de alguns portugueses que, mesmo sem se conhecerem todos pessoalmente, tinham em comum a luta contra o capitalismo e a aversão às organizações burocratizadas. Feitos os convites, acertados os termos políticos e editoriais e conhecidas as ferramentas que nos serviriam de base para o trabalho, demos início às atividades. Vale ressaltar que de lá para cá nosso funcionamento interno tem se fundamentado na responsabilização de cada um pelo trabalho assumido, o que, felizmente, nunca falhou. Além disso, fundamentamo-nos no consenso e assumimos múltiplas tarefas; esta possibilidade se faz presente permanentemente, não ficando apenas um responsável por tal ou qual função.
Quando os poderosos meios de comunicação do mundo não se encontram nas mãos dos trabalhadores, quando a existência dos aparelhos ideológicos e de poder servem para formatar nossas idéias e ações incentivando-nos às práticas úteis ao capitalismo, quando patrões, empresários, executivos de grandes empresas, fazendeiros e latifundiários ainda enriquecem com nosso modo de vida, com nossas lutas derrotadas, com nossas vitórias recuperadas a favor deles, não cabe muito tempo às comemorações.
Na realidade do mundo atual, com todas as formas organizadas de poder das classes dominantes, com os ritmos acelerados de produção, com as trágicas mudanças sociais, como despejos no campo e na cidade, as possibilidades de continuarmos na internet mostram-se extremamente dependentes da vontade de indivíduos comprometidos com o projeto, da importantíssima existência das lutas sociais, da colaboração de leitores/produtores e de nossa capacidade de construção coletiva deste tipo de site de esquerda e militante.
Recentemente, na seção O Anzol, um dos personagens comentava com seu amigo: “O Wikileaks divulgou coisas terríveis que os governos das grandes potências fazem em segredo. Isso está a provocar grande ansiedade!” Então o outro pergunta: “Por causa das coisas terríveis que os governos fazem em segredo?” Certeiramente, o primeiro responde: “Não, porque as coisas terríveis que os governos fazem em segredo foram divulgadas.”
A ansiedade de que nos fala o cartune não é somente dos governos e dos membros do Wikileaks. De certo modo, é nossa e de muitos outros que também objetivam, à sua maneira, contribuir com as lutas anticapitalistas. Hoje, muitos governos trabalham pela expansão da autoridade, punição e vigilância sobre serviços de comunicação online e redes sociais como o Skype e o Facebook, para ficarmos só com estes exemplos. Sabemos que estes são apenas alguns dos tipos de ameaça que muitos projetos militantes enfrentam mundo afora. O silêncio forçado, o ato de calar os inimigos com o uso das leis, dos tribunais e das forças policiais, é mais um conjunto de ações, dentre inúmeras, das classes dominantes para organizadamente combaterem seus inimigos de classe.
Desde o início prosseguimos o objetivo de não apenas noticiar as diversas lutas sociais, mas, sobretudo, abordá-las com criticidade, de forma a contribuir com a concretude das iniciativas anticapitalistas. Fizemos isso de maneira dispersa em vários textos, até que concentrámos essa visão crítica em Entre o fogo e a panela e em vários artigos que se seguiram, nomeadamente na série que mantemos em colaboração com Paulo Arantes. Este conjunto de textos está orientado para o ponto nevrálgico em que teoria e prática se encontram, representando o esforço valioso de refletir e evidenciar as armadilhas que conduzem a luta anticapitalista para a promoção de um novo tipo de capitalistas, como tem sucedido na já longa história das derrotas da esquerda. Entendemos que é no terreno da prática que nascem as verdadeiras questões que interessam à teoria, e não o inverso. Daí a necessidade de mantermos um formato que, ao mesmo tempo, permita curtos artigos noticiosos, factuais, e artigos de reflexão mais longos e de maior densidade teórica, sem privilegiar esta ou aquela doutrina revolucionária. Ainda sob este aspecto, propomo-nos ser um órgão editorial que ajuda a construir o objeto a ser noticiado, quer dizer, consideramos de grande importância que cada membro do coletivo esteja de alguma maneira envolvido com os processos de luta, experimentando na pele os desafios que são habitualmente colocados a todos aqueles que pisam o chão da realidade.
Em nosso coletivo discutimos, a partir de uma wiki interna (uma espécie de site colaborativo), tanto os materiais propostos por qualquer membro do próprio coletivo quanto os vindos de colaboradores externos. No entanto, buscamos ter uma maior interação com esses leitores/produtores, já que boa parte do site é composta por essa colaboração externa. Mas são poucos os que ao terem conhecimento dos nossos comentários aceitam remodelar, complementar, ou mesmo corrigir as incorreções nos seus textos.
A qualidade que buscamos reflecte-se na exigência de textos bem construídos e inteiramente desprovidos de demagogia, que é uma das formas mais perniciosas de preguiça mental. Acreditamos que o facto de nós vetarmos todos os comentários insultuosos e de extrema-direita teve dois efeitos: por um lado, reduziu muito o número de comentários, que tem oscilado em torno dos 0,94 comentários por artigo; mas, por outro lado, aumentou o nível desses comentários, que com certa frequência têm lançado discussões de qualidade. Procuramos também que a apresentação gráfica do site incite à reflexão, principalmente, pelo choque que pode existir entre as ilustrações e o texto. E, para evitar padrões únicos, cada pessoa que publica escolhe as imagens segundo as suas preferências e os seus critérios estéticos. Deste modo, o debate que tencionamos proporcionar entre as várias correntes componentes do anticapitalismo pode reflectir-se num certo confronto entre estilos estéticos.
Da nossa experiência interna como coletivo destacamos dois aspectos, ambos decorrentes dos princípios organizativos perfilhados na origem. Primeiro, vimos desenvolvendo uma prática de discussão argumentada e de decisões por consenso. As tensões naturais resultantes das diferentes personalidades, subjectividades, gostos, etc. resolvem-se cada vez mais na busca de um equilíbrio entre a necessidade de unir e a necessidade de decidir. Objectivar uma discussão de gosto, por exemplo, não é fácil na sociedade estandardizada onde vivemos. E também não é fácil perceber que, perante a necessidade de agir, para evitar a paralisia, as diferenças de opinião têm, cada uma, um tempo próprio para serem superadas, isto é, há diferenças que têm de esperar pelo momento em que a própria acção as torne superáveis. O consenso é, por isso, uma ferramenta indispensável na dinâmica do coletivo, uma forma de transformar a gestão das diferenças individuais em gestão coletiva da acção. O segundo aspecto importante da nossa experiência colectiva é o da partilha de competências, também referida nos nossos princípios organizativos. Deram-se passos concretos importantes para autonomizar as capacidades técnicas individuais (de escrita, de ilustração e de publicação) e assim foi crescendo o número daqueles que estão aptos a assegurar as tarefas e a apreciar devidamente o trabalho dos outros.
As consultas ao site indicam que durante a última semana de janeiro de 2010 tivemos uma média de 556,9 visitas diárias, com uma média de 1518,3 páginas visitadas diariamente. Passado um ano, durante a última semana de janeiro de 2011, tivemos uma média de 1467,6 visitas diárias, com uma média de 4414,1 páginas visitadas diariamente. Isto representou um acréscimo de 163,5% do número médio de visitas e de 190,7% do número de páginas visitadas entre os dois períodos considerados.
Almejamos para os próximos meses ampliar e dar nova vida à secção Ver e Ouvir, que desejamos que venha a ter uma importância comparável à que têm agora os artigos. Os vídeos e áudios permitem fazer relatos de lutas e entrevistas com um grau de dinamismo que muitas vezes falta aos textos, por isso a ampliação da secção Ver e Ouvir corresponderá a uma ampliação da cobertura das lutas. Além disso, o Ver e Ouvir permitirá introduzir outro tipo de contribuições na secção Cultura, em modalidades que nós próprios ainda não conseguimos prever com clareza.
Por último, gostaríamos de ressaltar que ainda são poucas as informações que recebemos diretamente das lutas. Gostaríamos muito de ver aumentada essa contribuição. Dizemos isto porque nas ações deste tipo é que se encontra uma grande possibilidade de continuarmos existindo, tal como acabamos de apresentar.
Parabéns pelo trabalho e influência!
importantíssimo o papel que tem cumprido o PASSAPALAVRA, não apenas comprometendo-se com a divulgação como também com a tão necessária reflexão sobre nossas lutas e desafios. vamos juntos(as)!
O Passa Palavra é uma referência para o nosso coletivo de contra-informação. Parabéns pelo trabalho e que as lutas continuem!
Pois aqui na Cidade do México, entre estudantes da UNAM, militantes e coletivos anti-capitalistas de diversas tendencias, o PassaPalavra já é uma referencia!
¡PassaPalavra vive, la lucha sigue!
Uma grande referência! Abraços e parabéns.
Saudações ao Passa Palavra por noticiar lutas e publicar reflexões relevantes para a organização popular, e para a luta anticapitalista, fomentando o internacionalismo de que carecemos tanto.
A palavra mais usada nos comentários, não sem razão, foi ”referência”!! Sempre quando queremos saber de algo na internet temos que ir ao lugar certo. E quando se quer ler algo sobre movimentos sociais e luta de classes em uma perspectiva anticapitalista (o que inclui ser anti-burocrático), onde ir?
EU vou ao CMI e ao PassaPalavra.
Parabéns pelo trabalho, que continue por mais anos, até a ”vitória final”!
Foi bacana contribuir com o passa com texto, divulgando link… mas masi bacana é ver que essa “experiência” continua crescendo e melhor, com qualidade – divulgando as lutas da classe.
Abraços
Oi pessoal,
Não tenho ainda – quem sabe logo mais – como falar em nome de todos e todas da Rede CMI-Brasil, que nossos processos são um tanto demorados, mas vão aqui os nossos parabéns com os dois anos de Passa Palavra.
Estamos juntos/as!
Cesare Battisti, livre!
Brjs, Alface
Parabéns pelo passapalavra, que soube reiventar o conceito de mídia independente com extrema qualidade.
Não evitando ser redundante, já está claro que o site é uma referência para os anticapitalistas. E que venham mais anos.