Por uma activista do GAP

Uma activista portuguesa que pertence ao Grupo de Acção pela Palestina, grupo informal de activistas sediado na cidade do Porto, está em viagem de solidariedade na Palestina. Continuamos aqui a publicação do diário desta viagem.

A lenta, cruel e injusta asfixia de Qalqilya – Ezbet Altabib

O calor é tanto que, a partir das cinco da manhã, é impossível ficar na cama. O campo acorda ao ritmo dos animais que convivem com os habitantes em espaços reduzidos. As ovelhas dos vizinhos começam a se manifestar . O galo e as galinhas, que povoam o primeiro andar de uma casa que parece estar em construção, juntam-se numa das paredes de cimento, observando os movimentos lentos de um gato. Todas as manhãs, o lixo é recolhido e as ruas desajustadas varridas. Todas as manhãs, passa a carriola do vendedor de pão que anuncia a sua passagem ao som de uma voz melodiosa. Os comerciantes tomam um café turco com cardamomo à porta das pequenas lojas.

palestina-12Esta manhã, repartimo-nos em dois grupos e apanhámos táxis colectivos, em Beit Sahour, para irmos para Qalqilya – Ezbet Altabib. Quando chegámos a Ezbet Altabib, já havia um grupo de activistas internacionais e palestinos à nossa espera. Entrámos num pátio acolhedor e umas crianças ofereceram-nos café. O perfume do cardamomo acompanhou o pequeno discurso elucidativo sobre a situação em Ezbet Altabib. É sempre a mesma coisa. Espoliação de terras, construção ilegal do muro, destruição ilegal de casas, abuso de poder pelo exército, detenções arbitrárias e violência.

Hoje, vamos cortar a rede de arame farpado que define a futura passagem do muro. O avanço do muro tem vindo a ultrapassar os limites da linha verde e a incursão em território palestino é cada vez mais profunda, envolvendo vastos espaços vazios, zonas tampão, zonas de interdição, zonas militares fechadas, rompendo a paisagem, dividindo famílias, impedindo os camponeses de trabalharem as suas terras. No caso de Ezbet Altabib, o traçado do muro está planeado para ir até à entrada da aldeia.

O arame está profundamente enterrado e as ferramentas que tínhamos quebraram-se várias vezes. Chegaram vários jipes com soldados, alguns pela estrada de cima, outros pela estrada de baixo. Enquanto alguns activistas retiravam o arame, outros vigiavam os movimentos dos soldados. Como tem acontecido, frequentemente, a estratégia é de tentar cercar os manifestantes. No caso de ficarmos cercados, foi nos dito que devíamos correr pelo campo de oliveiras junto à estrada até à floresta de pinheiros mansos e, daí, regressar à aldeia.

Após muitas dificuldades, retirámos o arame farpado e fizemos recuar os soldados até à entrada da aldeia. Uma pequena vitória com sabor amargo, pois amanhã a luta continua!

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GAP, Grupo de Acção pela Palestinahttp://grupoaccaopalestina.blogspot.com/

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