O professor, que parece ter interesses eleitoreiros imediatos, não contava que um grupo de militantes fosse “tomar de assalto” a sua manifestação, exclusivamente em prol da classe média santista, e pautar problemas como a ausência de política pública de habitação popular na cidade. Por Passa Palavra

ato-13Na onda das manifestações convocadas através das redes sociais, um professor universitário (provável candidato a vereador) da cidade resolveu chamar um ato para o feriado do dia da padroeira de Santos, litoral de São Paulo, com o objetivo de denunciar a especulação imobiliária na região. Sua indignação se deve ao fato de, segundo ele, “os jovens irem embora de Santos para outras cidades” por não conseguirem comprar ou alugar imóveis, mas nada levantava quanto aos problemas que estas remodelações urbanas provocam nas camadas mais pobres dos centros urbanos. A manifestação aconteceu nesta quinta-feira, dia 08 de setembro, a partir das 14h, na área nobre da cidade, na praia do Gonzaga.

Até aí nenhuma novidade, pois a especulação quando não expulsa as camadas populares dos bairros tradicionais da cidade para bairros distantes, as empurra para as favelas, cortiços e áreas de risco. Entretanto, o professor, que parece ter interesses eleitoreiros imediatos, não contava que um grupo de militantes fosse “tomar de assalto” a sua manifestação,  exclusivamente em prol da classe média santista, e pautar problemas como a ausência de política pública de habitação popular na cidade, bem como denunciar aquelas políticas que privilegiam a construção de edifícios de médio e alto padrão, forçando a migração de moradores de baixa renda para as cidades vizinhas como Praia Grande, São Vicente etc.

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Apagando os dizeres xenófobos da faixa

O grupo de militantes soube via Facebook da convocação, e, em tempo, percebeu que o ato tratava de denunciar apenas a especulação enquanto obstáculo para a classe média usufruir destes mesmos apartamentos em frente à praia. Então organizaram uma ação dentro do ato original. Ou seja, o protesto inicial não pretendia denunciar a especulação enquanto fenômeno  do capital, mas reivindicar a parte da classe média no banquete dos ricos. Tanto era assim que a faixa levada pelo professor, e aberta aos transeuntes por jovens que receberam R$ 50,00 cada para segurá-la, dizia: “Santos para os Santistas: chega de especulação imobiliária”. Cientes de que tal frase era absurda, pois era de cunho xenófobo e bairrista, os militantes foram convencer o organizador a retirar os dizeres discriminatórios. E, conseguiram!

Com cartazes e apitos, o grupo de militantes da Baixada deu o seu recado aos que passavam nas calçadas e na avenida da praia de Santos nesse feriado; chamaram a atenção para o problema da especulação imobiliária baseada no processo de segregação espacial e na exclusão absoluta do povo pobre das regiões privilegiadas das cidades.

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Faixa já adaptada à nova manifestação

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2 COMENTÁRIOS

  1. Estive na manifestação e acrescento que os manifestantes foram reprimidos pela pm e guarda municipal, que chegou a confiscar um dos cartazes que criticava o megaespeculador imobiliário local, atuando flagrantemente contra o direito a livre manifestação da opnião.Além disso as “autoridades” tentaram coagir os manifestantes ao tentar buscar um responsável pela mobibização, visando criminalizar posteriormente os atos ocorridos. Foi necessária a intervenção dos manifestantes para lembrá-los de que é direito do cidadão a manifestação do pensamento, proibida a censura, cabendo a quem se sentir ofendido buscar os mecanismos legais para reclamar. A partir dai saiu de cena a repressão, que ficou só fiscalizando a populução aderir espontaneamente ao ato, preenchendo cartazes com frazes contra a especução imobiliária. Parabéns a tod@s.

  2. Que Santos sempre teve vantagens econômicas e estruturais frente a SV, PG e Guarujá todos sabem, mas evasão de santistas rumo as cidades vizinhas já vem ocorrendo lentamente faz tempo pelos que preferem ter um imóvel próprio a ter que viver no limite e escravo de aluguéis.
    Essa revolução é bom pro santista tomar um choque de realidade, por várias vezes presenciei santistas se achando os superiores e tratando de forma depreciativa as cidade de SV e PG incluindo seus habitantes.
    A especulação imobiliária é fato e presente em vários pontos do Brasil, mas economia de Santos tem vários contrastes, apenas uns poucos concentra a riqueza, outros tantos trazem o dinheiro da grande São Paulo e definitivamente a maioria esmagadora não tem um rendimento coerente com o padrão de vida em que desejam ou que a sociedade impõe.

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