Será que só podemos falar das manifestações quando estas são sensatas? Não seria tão imperioso relatar estas coisas, assim como denunciar a burocratização interna dos movimentos ou a assimilação das lutas pelo capitalismo? Por Passa Palavra
Na sexta-feira, 30 de setembro, fui a uma manifestação contra a privatização do Elevador Lacerda, planos inclinados e estações de ônibus em frente à Prefeitura de Salvador.
Pelo que me disseram, mais de 3 mil pessoas colocaram “curtir” neste chamado de mobilização autônoma pelo Facebook, no qual não haveria bandeiras de partidos ou sindicatos.
A mobilização estava marcada das 16 às 21h! As 17h, quando achei que não chegaria mais ninguém e estava me entretendo com um mendigo gritando e meia-dúzia de crianças apitando, os primeiros manifestantes começaram a surgir, levantando-se das mesas do café ao redor, do ponto de ônibus, e sentaram-se em frente à praça da Prefeitura, uma dezena de pessoas, talvez 15, tal como deveria ser a idade da maioria dos militantes.
Sem panfletos, competiam com o artista palhaço Gugu-Dadá, que estava cantando para o público de 6 crianças (que já haviam largado os apitos) a música: “tá morto, morto, morto… morreeeeuu”.
Bom, agora iria começar, pensei… os manifestantes já somavam umas quatro dezenas…
Então, após uma breve conversa com o palhaço Gugu-Dada, este “cedeu” um de seus instrumentos de trabalho e, por R$ 40,00, os manifestantes que não tinham panfletos já possuíam um megafone.
Neste, as primeiras frases remetiam às revoltas no Egito e na Líbia, e como precisamos fazer o mesmo em Salvador, mobilizar e conscientizar o povo.
As falas alternaram entre a necessidade da cidade mais negra fora de África ter uma prefeita mulher e negra, passando por evocações do poder popular e como a soberania emana do povo, ao fato do prefeito estar querendo limitar o direito de propriedade ao propor uma lei na qual os donos de som automotivo não original teriam que pagar uma taxa à prefeitura pela poluição sonora.
O primeiro (e único) momento de (pré) tensão ocorreu quando os quarenta militantes resolveram sentar-se na escadaria que dá acesso à Prefeitura. Neste momento um contingente da Polícia Militar aproximou-se para aparentemente impedir tal ação. Um militante sugeriu que o cordão fosse feito acima da escadaria, e o Sargento Aurélio que “só queria que fosse aqui ó” (nos primeiros degraus) acatou. Vitória dos militantes!
O megafone continuava a vociferar: “Você que trabalha, como todo mundo aqui, vem participar do protesto” (neste momento, olhei para trás e havia na praça uma pessoa que catava latinha olhando impávida e, ao fundo, o palhaço Gugu-Dadá).
Chegadas as 18h, ou seja, duas horas após o momento marcado para o início da mobilização, juntaram-se outras pessoas, como alguns artistas, três militantes de bicicleta do “Massa Crítica” (que estavam a uns 30 metros da escadaria em que reuniam-se os demais)…
Às 18h30 fui embora…
***
Fui embora, mas os fatos e significados da manifestação não saíram tão facilmente de mim.
A primeira coisa que salta à vista é apenas 40 a 70 pessoas (considerando os demais artistas que chegaram e posteriormente mais pessoas de bicicleta) terem comparecido a uma manifestação de que 3 mil haviam “curtido” o seu chamado pelo Facebook. Onde estariam os 2.960 outros “militantes virtuais”?
Uma amiga perguntava-se em voz alta:
“Será uma tendência dos novos militantes acharem ser realmente possível creditar o “curtir” do Facebook a confirmação de presença nos atos? Será possível transpor para o mundo real, sobretudo quando falamos em organicidade de ação política, a mesma instantaneidade do mundo virtual?
Também aqui em Santos-SP existe a dificuldade em realizar ações; os novos militantes cibernéticos, os jovens militantes universitários e os libertários de plantão apresentam demasiada desconfiança em relação a processos organizativos mais racionais e objetivos, sob o pretexto de serem autônomos (é fácil ser autônomo num simples clicar de tecla…).
Parece que dizer-se autônomo significa ser contra organização, planejamento de ações e ‘ser contra partidos e bandeiras’. Também em Santos muitos nutrem certo fascínio pelas redes sociais; todavia, as ações foram levadas adiante efetivamente por uma meia dúzia de pessoas, menos por aqueles que disseram ‘curtir’ no Facebook.”
Não se trata, aqui, de voltar ao debate sobre o papel do partido em Lênin, a necessidade de uma organização centralizada democraticamente que faça o papel de reunir, e guiar, as revoltas, tampouco discutir qual o significado de autonomia e libertário, ou o que vem a ser espontaneidade para Rosa.
Mas quando se multiplicam os eventos militantes no Facebook e Twitter e não há a devida correspondência na vida real, não estaria ocorrendo um esvaziamento das causas e uma reificação das ferramentas empregues?
As analogias apressadas e ingênuas das rebeliões no norte da África e no Oriente Médio calam-se completamente sobre a necessidade de organização real e o grau de envolvimento dos militantes com a causa da luta.
Em artigo sobre o esvaziamento das mobilizações convocadas via redes sociais virtuais em Camarões, Dibussi Tande nos mostrava como havia ali a confusão fatal entre essas ferramentas (como Facebook e Twitter) e a sua estratégia ou o seu objetivo (a reforma política e a mudança de instituições no país).
Malcom Gladwel, por sua vez, procurou demonstrar que, para certo grau de ativismo que envolva riscos e o sair da zona de conforto de frente à tela do computador há a necessidade de vínculos sociais fortes e de organização e não os frágeis laços que ligam os militantes virtuais. Essas ferramentas em rede teriam grande potencial para formas de ativismo de baixo risco, como fazer barulho e protestar por algo que torne a ordem social existente mais eficaz; mas, na perspectiva de mudanças sistêmicas, demonstrariam grandes dificuldades, pois faltaria aí a organização prévia, o trabalho de base, mapeamentos, planos, treinamentos, reuniões políticas, núcleo de ativistas, divisão de tarefas, pensamento estratégico. As idealizações do ativismo on line tendem a não levar em conta estas expressões materiais e concretas do ativismo off line.
Há quem considere as ferramentas como as causas das revoluções e não como catalisadores de um processo organizativo de luta. Por esta leitura, os zapatistas, nas montanhas e selvas de Chiapas, são apenas uma guerrilha informacional em uma guerra de palavras e pouco se entende sobre os processos organizativos que levaram, por exemplo, as lutas pelos direitos civis dos negros nos EUA (muito bem relatada pelo militante e historiador Howard Zinn [1]) ou de como eram recrutados e treinados os militantes da Frente Sandinista de Libertação Nacional (narrado belissimamente por um de seus militantes, Omar Cabezas [2]).
Recentemente tive a oportunidade de lecionar uma disciplina sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade para alunos da Engenharia da Computação. No trabalho final pedido, e que deveria versar livremente sobre os impactos, latentes e manifestos, das novas tecnologias nas sociedades contemporâneas, foi sintomático o fato de quase metade dos alunos escreverem sobre os potenciais revolucionários e libertadores das novas tecnologias (citando a Líbia, a Tunísia e o Egito) – e poucos falarem sobre as formas de vigilância, manipulação e contra-insurgência propiciadas pelos meios virtuais – e a outra quase metade dissertar sobre a solidão sentida no cotidiano, a despeito de terem centenas de amigos em redes sociais e de jogos.
Como observou o jornalista bielorrusso Evgeny Morozov: “Associar as tecnologias da comunicação em rede a uma nova oportunidade para os oprimidos de todo o mundo é um argumento infantil e incorreto, pois não leva em consideração que os próprios dirigentes que são os alvos destas revoltas usam a Internet para fins políticos muitíssimo sofisticados. Usam-na precisamente para controlar, perseguir, prender e reprimir. Pode acontecer que durante um infinitésimo momento o povo tome o poder no Twitter. Mas é um momento efémero. Participar nas redes sociais não é resistir, não é organizar, não é libertar-se; é o contrário, é entregar-se ao sistema de maneira orwelliana. A Rede é um panóptico digital. E nós não somos os vigilantes, somos os vigiados”.
Sem desconsiderar as potencialidades concretas de comunicação em rede, rápida e em massa propiciadas pelas ferramentas sociais na internet, da mesma forma em que se confundem amigos reais e virtuais, não se estaria confundindo militância virtual com a real?
Notas
[1] Você não pode ser neutro num trem em movimento – Uma história pessoal dos nossos tempos. Howard Zinn. Editora L-Dopa, Curitiba.
[2] A montanha é algo mais do que uma imensa estepe verde. Omar Cabezas. Editora Expressão Popular, São Paulo.
camaradas do PP,
De fato, existe uma tendencia generalizada e fetichizadora de tomar os contemporâneos meios de comunicação como arena privilegiada (e muitas vezes, como o próprio “lugar”) de uma revolução de novo tipo, cujos resultados e desdobramentos são perigosos e desmobilizantes para um real processo de transformação social.
Mas por outro lado, existe sim uma forma diferenciada de apropriação destas “ferramentas” (que não são neutras, sabemos muito bem do seu efeito panoptico já citado) que potencializa a capacidade de disseminação e re-organização das lutas e movimentos em outras instâncias (e aí sim, se inserem desde o zapatismo até as rebeliões no Oriente Médio e na Espanha, claro, com todas as suas especificidades próprias). E para complexificar ainda mais as coisas, este ativismo puramente virtual e online, por mais que não seja nunca a expressão de um movimento real e concreto de gente de carne e osso offline organizada, também, em certas circunstancias, pode vir a jogar o seu papel ao participar da configuração de redes trans-territoriais de informação/opinião/disseminação de experiências, etc, que tanto pode (virtualmente) empurrar pessoas para a constituição de movimentos e organizações (claro que nunca como fator isolado!), como municiar movimentos e organizações de informações e possibilizar contatos reais que em conjunturas especiais, não devem ser desconsiderados…
Enfim… o rizoma, o ciberfluxo, a rede, o TAZ, não se constituem como mero meio/instrumento da luta, ainda que podem ser operados como tal e produzir algum efeito prático. Talvez, são expressões, ou elementos, de uma nova sociabilidade que ainda não encontrou seu ponto (ou pontos) de “encarnação” naquilo que possibitam o confronto com a ordem. Mas nem por isso são absolutamente desprezíveis, e nem tampouco devemos ignorar suas inserções sistêmicas no processo de captura das lutas.
Gostei!
Essa parada em Salvador é bem isso, a gente tá esquecendo que existem pessoas reais no mundo real e nos restringimos ao mundo virtual. Bizarro
nao soh em salvador, mas a maioria desses eventos
confirma q vai eh facil, mas sai d casa jah eh otros quinhentos
num precisa fala q vai tbm pra se bacana ue
gostei do título!
não gostei do ‘sensato’. Não sei o que quiseram dizer com o sensato… o que é uma manifestação sensata?? por que esta não seria???
Outra coisa.. haviam poucas pessoas, mas estas mesmas poucas pessoas também estavam ali por conta do facebook. eu não teria sabido desta manifestação se não tivesse me chegado um convite no facebook…
Concordo com a fragilidade que este instrumento carrega… e, como aquele outro texto que vcs citam (A revolução não será tuitada do Gladwell) acho que envolve sim o imperiosa tarefa de se colocar a frente e desafiar ou não o status quo (eu adorei essa colocação desse cara…rs). Talvez a comodidade de expressarmos nossos ideais, todas as nossas indgnações, sentados em nossa casa, sem ter de arriscar qualquer segurança da nossa vidinha muito bem conhecida e controlável… talvez isso influencie…
Um evento não sai da minha cabeça, e eu queria muito ter ido ver essa: o tal churrascão da gente diferenciada…rs…
Pelo que vi nas fotos, parece que tinha muita gente, não?? Esta manifestação tinha bastante gente por que?? por que era uma festa despretensiosa? Por que não desafiava a ordem estabelecida, a não ser simbolicamente (se é que ainda assim a desafiava)???
Ainda acho que tem algo a mais a ser considerado, nesta ocupação em Salvador: parece que a preocupação no relato foi a tônica de toda a manifestação, enquanto estive lá… muitas pessoas pegavam o megafone para refletir sobre o fato de 3mil pessoas curtirem o evento e aparecerem apenas 40… Parece que todos aqueles que estavam lá, também mantiveram esta mesma inquietação…
Quanto às reivindicações, era de se esperar tamanha miscelânea de indignações… A própria chamada para ocupação já dava um teor bastante festivo e aberto… A idéia do apartidarismo também oferece o risco de conter discursos de direita… como o ataque à propriedade privada..rs
Mas não acho que este seja o maior problema também não… os discursos e bandeiras levantadas em um dado momento de movimentação política (quando esta mantém continuidade) acabam se afinando melhor… creio eu…
Mas então ta bom! é isso aí…
Tá bom o texto.
beijo
Nos tempos em que eu pensava que rizomas não eram outra coisa além do nome esquisito dos caules de bananeiras que precisei decorar para o vestibular, havia algo bastante parecido com isto tudo. Lembram das flash mobs criadas por Bill Wasik? Um “bando de doidos” reunidos por via eletrônica (na época, SMS, correio eletrônico, listas, IRC e, para alguns privilegiados, MSN) em algum lugar em algum momento para fazer alguma coisa em geral estúpida (amarrar os sapatos ao mesmo tempo em frente ao caboclo do Campo Grande às 15h27min, por exemplo). Em 2003, pelo menos, flash mob era a febre, a moda, o barato, a onda, a hype. Todo mundo queria fazer uma. Os militantes “linha dura” ficavam putos, porque era “coisa de gente sem noção”.
Mas — para ficar em Salvador — não é que ainda em 2003 as mesmas redes formadas para as flash mobs foram a base para a densa malha comunicacional impulsionadora da Revolta do Buzu? Além das passagens em sala (causa do lock out escolar imposto pelo Governo do Estado já na segunda ou terceira semana de protestos) havia salas de IRC dedicadas exclusivamente a marcar protestos (embora ninguém conseguisse se ouvir, tamanha a balbúrdia da molecada na ansiedade de marcar trocentos protestos em lugares diferentes); quem tinha celular trocava mensagens a todo o tempo, marcando idas e vindas; listas de escola, de curso e de semestre fervilhavam com ideias, propostas e lugares; et coetera.
Se essas mobilizações via redes sociais estão criando dilemas para alguém, com certeza é para quem as fetichiza, assim como para aqueles que se lhe opõem, que entronizam o “instrumento orgânico” ao invés de compreender a que fins ele serve — e nesta última categoria de pessoas está gente integrante desde grupúsculos como a LBI e a UNIPA até gente de organizações muito maiores como o PT e suas tendências externas mal-resolvidas. (Não todos destes grupos, mas uma enormíssima maioria, sim.) Há oito anos, quem prestou atenção no que viu e viveu nas ruas de Salvador — e não foram poucos — só cai nesta armadilha se quiser. Isto não quer dizer que não se possa apontar os problemas; quer dizer, apenas, que aqueles poucos que atenderam ao chamado precisam, também, refletir sobre eles, sem traumas.
Voltei da Inglaterra na semana passada e lá tive a oportunidade de presenciar um ato desses convocado na Trafalgar Square para protestar contra uma conferencia sobre armas que se verificaria na Galeria Nacional. Sinto decepcioná-lo mas lá o pessoal também estava reclamando pois só tinha umas cem a cento e cinquenta pessoas. Mas, ao contrário do ato que o pessoal cita em Salvador, FIZERAM A MANIFESTAÇÃO, deitaram no chão, levaram faixas e bandeiras, fizeram o maior escarcéu, apareceu imprensa, tinha uns oitenta policiais, carros de policia, o diabo. Eu participei da manifestação e a filmei para a minha webtv chamada Pra que politica? que o convido pra assistir.
Acho que todas as manifestações tem um contexto e não podem estar de fora dele. Se não há uma tendencia conjuntural que aponte para algo mais do que ficar mandando coisa pela internet as pessoas só vão fazer isso. Assim como uma categoria que faz greve mas só dez por cento aparece nas assembleias a internet é parecida. Além do mais é preciso ver o país onde isso se faz. Nossa sociedade civil é ainda muito fragil…
Gostei também do artigo, há fetichização com as comunidades e outros problemas no uso das redes sociais e a presença efetiva nas manifestações.
Os problemas que me refiro é quanto aos ruídos causados por pessoas que se definem como ativistas, mas nunca se encontram presentes no momentos dos corres e se sentem super a vontade de para apontar os erros.
Fora isso, a falta de cuidado com segurança, que leva algumas pessoas discutir questões delicadas do movimento e coletivos abertamente no FB.
O artigo erra ao reduzir à dicotomia a “militância real” e a “virtual”.
Óbvio que ativismo via web é o mesmo que passividade eletrônica ativa. Logo, a web deve ser instrumentalizada para ações coletivas livres, planejadas e discutidas.
A militância offline de certos partidos – essas burocracias verticais necessariamente viciadas – é, certamente, muito mais virtual do que muitos tuítes… embora um tuíte não represente nada.
Ainda mais óbvio é o fato de que tais movimentos, com toda suposta imaturidade, são embrionários. Querer moldá-los a certos padrões de conduta, a certos modelos prontos de atuação, os empobreceriam mais ainda, aliás, os matariam antes de nascerem.
É fundamental a postura crítica – contudo, a importância do movimento citado não está nos resultados imediatos nem seu problema maior ‘são a idade e quantidade dos manifestantes.
O desafio daqueles que observam passivamente as iniciativas políticas originadas através do Facebook e supõem que podem apontar as falhas desses movimentos é precisamente participar deles com um objetivo que certamente é cimum a todos – imaturos ou não – que é pôr a seguinte questão:
Como fazer com que essas ações e iniciativas – esses momentos socialmente anódinos – alcancem algum grau de efetividade política?
Eu estive no movimento, e lá houve momentos em que foram propostas alternativas concretas de organização visando a consierar tal questão. Claro que com todas as restrições e, claro, apesar de todas as limitações que o autor apontou corretamente no texto.
Cheguei há pouco em Salvador e fiquei sabendo da manifestação pelo facebook, fui na tentativa de conhecer grupos ou coletivos que lutem por qualquer coisa na cidade, digo qualquer coisa pois a cidade possui inúmeros problemas. Transporte ruim, saúde pública péssima, saneamento básico deficitário, limpeza urbana etc., fora a desigualdade que aqui parece ser mais visível do que em outros grandes centros que conheço. Fico chocada com a apatia frente a todos os problemas. Me pergunto, por que será que não há movimentação e lutas? Será que é excesso de religiosidade? Ou excesso de carnaval?
Não vou entrar na discussão de “revoluções 2.0” pois acho que já foi bem pontuada e esclarecedora em outros artigos publicados no site, como domingo na marcha e a esquerda fora de eixo.
Ah parabenizo os que lá estiveram, 2.0 ou não.
Só um acréscimo ao cmentário postado acima:
Quando critico os partidos, não os demonizo nem prego a abolição ou exclusão imediata de tais entidades.
Ao contrário, defendo que devemos atuar ao lado e além dos partidos – que constroem a política institucional – buscando seu “controle programático” a partir das bases, e não das cúpulas.
E viciados são, pq diante da estrutura política vigente, o clientelismo acaba sendo um dos principais agentes politicos dos partidos.
Alternativas há. Necessidade de reformas é consensual… o que precisamos é dicutir, organizar, e “ativizar”…
Oi!
El movimiento 15M de España hubiera sido imposible sin internet, facebook y twitter. Solo con ellos no hubiera sido suficiente, pero sin ellos hubiera sido imposible. ¿Cómo vas a coordinarte con miles y miles de persona de forma horizontal si no es por internet? Internet y la plaza fueron las claves.
Pueden tener más info en http://www.madrilonia.org
En especial:
Internet, el 15M y la gestión de lo común
http://madrilonia.org/?p=3312
La Red era la plaza
http://madrilonia.org/?p=2733
Reinventando la política: 15M
http://madrilonia.org/?p=5521
Aqui em SP o MPL foi o primeiro a utilizar o Facebook para chamar mobilizações, e inegavelemente ele foi uma ferramenta importante nos quatro meses de luta contra o aumento da passagem, no Egito se usou muito o Facebook (FB) e Twitter. Aliás, respondendo a Talita, foi desde caldo de manifestações contra o aumento de passagem que utilizava também ferramentas virtuais que surgiu o sucesso do “churrasco de gente diferenciada”.
Posteriormente todas as organizações políticas que eu conheço
começaram a criar Facebook e a convocar para todas suas atividades. Não é assim que funciona, é necessário um trabalho de base, a ferramenta de internet só potencializa esse trabalho, ela não faz esse trabalho pra você.
A militância é uma atividade regular e não episódica.
E enquanto a gente discute estas coisas, olha o que já andam fazendo:
http://www.ieml.org/spip.php?article156
Completam-se hoje cento e um anos que a República foi instaurada em Portugal, pela revolução de 5 de Outubro de 1910, e toda esta discussão me recordou que Afonso Costa, um dos principais chefes republicanos e depois várias vezes ministro e primeiro-ministro, declarara um dia aos seus correligionários: «A revolução faz-se em Lisboa. No resto do país faz-se pelo telefone». Imaginem se ele tivesse já Facebboks e Twitters.
O central do texto passou ao largo do que alguns comentam. O texto não diz que não haja movimentos reais que usem facebook e outros como instrumento. O texto está atentando que há uma cada vez maior quantidade de pessoas que substituem a participação real nas lutas por uma militância no facebook. E, parafraseando um dito sobre o movimento fascista, vivem estas tuitadas como se fossem a revolução.
O texto, na verdade, parou a meio caminho porque faltou dizer que não só há muitas pessoas vivendo numa realidade virtual, com uma militância virtual que é sem problemas pois não traz os riscos da militância real e nem altera em nada as estruturas, mas principalmente, essa militância de facebook permite as pessoas se travestirem. Qualquer patrãozinho, chefe ou professor autoritário é capaz de postagens esquerdistas e muitos o fazem ao passo que permanecem exploradores e opressores no cotidiano.
Ainda, toda uma militância efetiva de pessoas concretas pode ser jogada no lixo por um desacordo no facebook – a pessoa deixou de “curtir” algo ou curtiu o que outros acham que não deveria ser curtido e a partir disso começa o linchamento. Na verdade, há uma quantidade enorme de covardes e esquizofrênicos que acham que ficar curtindo isso e aquilo no facebook faz deles mais esquerdistas ou militantes. E tudo isso num jogo do “sou mais radical” em que, embora o embate contra o sistema, o que existe é um desejo velado de ver o companheiro cair no ranking facebookiano de quem é considerado mais de radical, esquerdista enfim.
Conheço cada puxassaco e carreirista lambe ovo mas que no facebook disparam contra todo o sistema que seria risível se não fosse trágico. O facebook é hoje o principal lugar onde as pessoas se reunem para mentir sobre sí mesmas.
E não é só a esquerda. A internet permite essa radicalização sem riscos também para a direita. Por isso, não serve de termômetro efetivo diante do contexto real. Nem aqueles grupinhos de militares aposentados possuem poder de influir nas coisas, nem essa pletora de revolucionários facebookianos fazem algum mal ao sistema no dia a dia.
Acho que o Rodolfo pegou o cerne da questão.
No meu entender não se trata de uma dicotomia entre ativismo off-line e on-line, entre a forma partido (ou movimento) e forma de redes virtuais, esses elementos não são, necessariamente, antagônicos, a não ser, como pontuou Rodolfo, que as pessoas troquem uma vida real por uma vida virtual e não haja correspondência entre elas.
É óbvio que a internet permite agilizar informações e propicia rapidez de organização (este site mesmo, a exemplo de outros, é uma forma de militância e combate ao noticiar, apoiar e refletir sobre as lutas , mas não pode ser confundindo com as lutas propriamente ditas, que são travadas nas ruas e em outros locais, assim, tal qual a internet, ele é um instrumento). Mas, porque este debate é possível neste site e não em outros da esquerda?
Mudando ligeiramente de assunto, doses de ingenuidade (geralmente acompanhadas de arrogância) e pitadas de esquizofrenia permitem certos tipos de situações tais como as relatadas aqui e em comentários. Amigos que militaram juntos por anos, enfrentando polícia e repressões diversas deixarem de o ser por uma discussão em 150 caracteres no facebook e divergências no “curtir” ou “não curtir”.
Do mesmo modo, pessoas completamente apáticas e resignadas podem assumir uma máscara de rebeldes e revolucionárias, pois não precisa haver correspondência com a “militância concreta”, pois considera-se o virtual já concreto. E de fato o é, mas não para quem apenas “curti” ou é uma metralhadora de repassar textos e notícias.
Que a internet tem uma grande potencialidade organizativa, sim, tem, mas se isto não for trabalhado estrategicamente e vinculado com uma materialidade organizacional acaba-se por ver o que se passa em diversos momentos (e Salvador é uma gota d’água neste oceano), e se por um lado pode ser verdade que a continuação de mais chamados de mobilização pode ter algum acúmulo, também pode não levar em nada e nada acumular politicamente, se não se refletir sobre as causas de nossas derrotas e fracassos de forma franca e honesta. E, no caso desse relato, por mais contradições que tivesse a mobilização, o que ficou para mim ao lê-lo foi o vazio sentido não pelos que lá estavam e deram a “cara à tapa”, mas os que nem sequer foram.
De todo modo, qualquer mobilização é boa? Não me parece, pois as que demonstrem mais as nossas fraquezas do que nossas forças, apenas fortalece o inimigo que estamos a combater. E isto não se trata tão somente de números, por certo 10 mil pessoas que mostram-se passivos numa passeata são menos assustadores que 1 mil que tenha propensões para atitudes mais ousadas.
ressonâncias do texto – publicação no blogue Antitextos:
sobre ativismo nas redes e ocupação da praça em Salvador: um convite ao Passa Palavra
http://fabriciokc.wordpress.com/2011/10/05/sobre-ativismo-nas-redes-e-ocupacao-da-praca-em-salvador-um-convite-ao-passa-palavra/
Esse pessoal chega cedo e vai embora cedo. Estamos mais tarde e até de manhã. Até mais, fortes filhos da terra! Vamos explodir e ver sangue.
Fabrício, mas eu acho que o Passa Palavra participou, de alguma forma, do ato. Ou não? O que é este relato a não ser a forma como o coletivo/site se prontificou a ajudar com esta e outras lutas? Claro que dizer o que os outros não querem ouvir não é uma prática comum no meio da esquerda, principalmente se esses “outros” foram companheiros de lutas. Aí você pode questionar se isso é ou não é uma forma de ajudar. Eu acho que é uma forma de contribuir com as lutas e, pra ser honesto, neste momento é uma das melhores formas de se fazer.
Pode parecer uma postura conservadora a que eu vou expressar agora, mas acho mais proveitoso que o Passa Palavra continue fazendo o que vem fazendo, noticiando e apoiando as lutas, ajudando a todos a pensar sobre elas, do que enfiar os pés pelas mãos ao tentar “organizar o movimento”. Acho que o seu convite deveria ser direcionado aos colaboradores do coletivo que moram em Salvador. Há uma diferença sutil entre uma coisa e outra. Aí sim, esses me parecem ter algum tipo de obrigação de se aproximarem mais das lutas que seguem uma linha mais autonomista/libertária, ou as que extrapolam esses enclaves ideológicos e ganham os trabalhadores em número significativo. É muito mais proveitosos que esses militantes que possivelmente fazem sua militância de muitas outras formas para além da colaboração no Passa Palavra se prontifiquem também a ajudar nessas lutas, entrando em novos coletivos que tenham por propósito único de fazer o que objetivamente se propõe, do que usar destes novos espaços para transmitir a lógica, ideológica e organizativa, do coletivo que lhes sustentam.
Abraços!
A questão é que o pessoal não tá nas lutas.. esse evento em salvador, foi um encontro de varios movimentos .. e a ocupação foi proposta para depois das 18:30 .. e lá já sentimento as verdadeiras questões como a censura do carro de som na praça publica desde janeiro de 2011 (antes do mpl-sp)
Por causa de questões passadas. estudantes profissionais. conflitos de varios partidos dentro dos partidos. quem desse pessoal tem trabalhado em prol de ajudar nas lutas contra o abandono de salvador? a maioria vejo contribuindo com a privatização da cidade. SOS game over minC dia 15 de Outubro
DanCaribe
Pelo seu comentário:
“o Passa Palavra participou, de alguma forma, do ato. Ou não? O que é este relato a não ser a forma como o coletivo/site se prontificou a ajudar com esta e outras lutas?”
e ainda:
“que o Passa Palavra continue fazendo o que vem fazendo, noticiando e apoiando as lutas, ajudando a todos a pensar sobre elas, do que enfiar os pés pelas mãos ao tentar “organizar o movimento”.
Cara, cuidado para não por os pés pelas mãos com esses argumentos elitistas, de que o Passa Palavra pensa enquanto os “outros” fazem e põe os pés pelas mãos. Reformule isso se não foi o que vc quis dizer… Se foi, acho que só Chomsky explica:
“o saber convencional mantém seus méritos como arma ideológica para disciplinar os indefesos”
e ainda Chomsky:
“Essas são as formas pelas quais os intelectuais contemporâneos, inclusive os da esquerda, criam grandes carreiras, conseguem poder, marginalizam as pessoas, intimidam etc. (…) muitos jovens militantes sentem-se simplesmente intimidados pelo jargão incompreensível que vêm dos movimentos intelectuais da esquerda, impossível de entender, e que faz com que as pessoas sintam que não podem fazer nada porque, a não ser que de algum modo entendam a última versão pós-moderna disso e daquilo, não podem sair as ruas e organizar as pessoas, pois não são suficientemente inteligentes”. In “Notas sobre o anarquismo”, Editora Hedra, 2011. Pg 103.
Mas o importante não é ter razão, é suscitar o debate local e de interesse geral! – Pq assim estimulamos o “pensar”…
Fabrício, não tem nada de elitista, pelo contrário. Tem a ver com a horizontalidade das lutas. Continuo a defender que divulgar e fazer esta reflexão foi uma significante contribuição para o ato que aconteceu em Salvador. Queria que o Brasil de Fato, o CMI e outros fizessem o mesmo. Aliás, parabéns pelo seu blog. Mas se você acha que só é possível contribuir pegando no megafone, paciência. Cada coletivo se dar ao seu papel e colabora nas lutas a partir das suas possibilidades e propósitos. A construção de redes e fóruns entre coletivos, que hoje acontece com pouca frequência, serve exatamente para criar uma colaboração, troca de experiências e fortalecimento das lutas a partir do acúmulo de cada um desses sujeitos coletivos. O lema do Passa Palavra é “Noticiar as lutas, apoiá-las, pensar sobre elas.” Se o coletivo/site entender que apoiar as lutas passa a ser participar da organização delas, eu vou achar um grande equívoco. Eu nunca vou esquecer de uma experiência de uns três anos atrás, quando um coletivo que eu fazia parte se propôs a participar da organização, ao mesmo tempo, de uma ocupação de reitoria, um congresso de um grande movimento social e mais um bilhão de outras atividades indiscutivelmente muito importantes. O argumento era que “a gente não escolhe as condições que a gente faz a história”. Então fomos nós, talvez uns dez militantes muito disciplinados e dedicados, abraçar o mundo. Sabe qual foi o resultado? A única história que a gente fez foi chorar muito por ter se lascado em todos os espaços que nós não conseguimos dar conta.
O que é difícil de entender para alguns militantes é que há uma diferença entre a organização em que ele milita e a sua história de militância individual e isso é muito mais verdade hoje quando as formas de organização das lutas ganham estruturas inéditas ou pelo menos pouco utilizadas antes. O surgimentos do coletivos é a expressão maior disso. Inclusive eles costumam ser relativamente efêmeros comparados aos partidos e sindicatos. Eu nem vou entrar na crítica às organizações virtuais, que pelo debate já posto aqui dá pra perceber que ainda é tudo muito nebuloso. Mas é por isso tudo que geralmente um militante participa de mais de um coletivo. O que eu quis dizer, e você fez questão de não entender, é que o militante do Passa Palavra ou de qualquer outro coletivo que esteve no ato deve participar dessas lutas, mas não através do Passa Palavra, que EU ACHO que tem outro papel a cumprir. Mas aí o coletivo/site que se pronuncie caso queira.
Outra coisa que vejo hoje, já que tocou no assunto e fugindo muito do debate que o texto propõe, é que há uma inversão de uma situação que era muito ruim para as lutas, e que por ter ido pro lado oposto, muitas vezes fica ainda pior. Antes o militante era instrumento do partido, não existia fora dele. O ato de expulsar um militante do seu partido era a forma mais significativa de acabar com sua vida política. Hoje o militante é a organização, sem compromisso com nada a não ser com a própria consciência. Essa liberdade pode ser até interessante, já que o militante pode fazer a luta que quiser, no momento que quiser e da forma que quiser. E defendo mesmo que os sujeitos que não se identificam com nenhum coletivo ou outra qualquer forma de organização devam proceder assim, pois é muito melhor do que nada fazer e desta forma podem contribuir muito. O único alerta que deixo é que ele deve entender que vai se relacionar com sujeitos coletivos, que se comportam e se comprometem com as lutas de outras formas, que tem seu tempo diferente, tem seus espaços deliberativos, suas limitações e seus objetivos próprios.
Ufa.
Abraço!
É mais que óbvio que de 2003 para cá muita coisa mudou em termos de redes de comunicação — lembrem-se que a primeira rede social que “pegou” no Brasil, o Orkut, é de 2004 — e de acesso individual e doméstico à internet — restrinjo a estes dois termos porque mulecada viciada em lan house é realidade desde aqueles longínquos “tempos semi-analógicos”.
Isto tudo já se transformou, desde lá, em instrumento tanto para uma elite de “gestores de esquerda” quanto para “as massas” — e não apenas para elas, como também para a polícia. Disto dão testemunho a greve estudantil e a ocupação da Reitoria da UFBA em 2004 (organizadas não só nas assembleias, mas também via listas e Orkut — e há quem diga ter sido a ocupação da Reitoria uma forma de fragilizar a greve estudantil ao centralizar seus focos num só ponto), as tentativas fracassadas de articulação de uma nova Revolta do Buzu em 2005 (organizadas fundamentalmente via listas e Orkut), a Frente de Luta contra o Salvador Card em 2006 (novamente organizada via listas e Orkut em paralelo às poucas plenárias)… Como se vê, a mais nova destas mobilizações, que não foram pequenas, tem cinco anos — o que, para a “geração 2.0”, é uma eternidade, quase contemporânea dos tempos do telefone à manivela. E lá atrás, em 2005, já vinha “gente estranha” atrás de mim e de mais uns poucos na rua — basicamente os “loucos, anarquistas, baderneiros e sem juízo” do MPL e do CEFET — mostrando snapshots de perfis de rede social dizendo “cara, a gente tá ligado em você, então se suma antes que a gente te suma”.
O que quis dizer é que este debate está posto há bastante tempo, sendo que entre “profissionais” avançou ao ponto de, por exemplo, a campanha de Dilma haver sido construída e detonada sucessivas e alternadas vezes ano passado usando fundamentalmente as redes sociais e spam. A coisa já está mais avançada do que alguns — inclusive entre nós — imaginam. O debate não é mais sobre se as redes sociais servirão aos “gestores” ou às “massas” nos processos de luta; se, enquanto instrumentos, potencializarão as lutas ou lhes servirão de cangalha; mas como “gestores” e “massas” as empregam em cada caso, e com que eficácia. Com base neste inventário de fracassos e acertos, e só nisto, será possível responder a algumas questões colocadas não pelo artigo, que tem foco bastante específico, mas pelos comentários.
E aqui se abre o escorregadio campo das “boas intenções”. Dada a inexistência concreta do inferno, as boas intenções não povoam-no, mas são a própria argamassa que sustenta seus umbrais e pilares, e também as pedras que pavimentam os muitos caminhos até ele. Em suma: as boas intenções não enchem o inferno, elas são o próprio inferno. Ou, no dizer de uma velha música: “O inferno tem mil entradas/Algumas são ponto turístico/Já outras são inusitadas…”
Um exemplo, ainda quanto às “boas intenções”. Companheiros meus de longa data, daqueles que colecionavam “textos” no computador sem ler qualquer um deles e amontoavam “vídeos” de manifestações — devidamente baixados, como troféus contra a propriedade intelectual — “descobriram” recentemente as teorias que tomam a informática e as redes comunicacionais como base para um novo paraíso na Terra. Enviaram, a mim e a certo número de outros, uma bibliografia básica composta de links para textos vários, para discutir como aprimorar a prática. Respondi-lhes com a sinceridade habitual: “A Universidade Nômade gera pesquisas para o nada, mesmo quando escreve coisas interessantes. Capitalismo cognitivo é uma ilusão com que o povo de exatas, em especial aqueles da área da informática, gostam de pensar que estão no centro do mundo. Teoria dos commons é comunismo requentado (melhor ler os originais). Economia da dádiva é primitivismo disfarçado para gente descolada que gosta de ler Marcel Mauss”.
Em geral quando se escreve um texto que traz a público problemas e incômodos que fazem do debate público um constante cortar na própria carne, lá vêm, sempre, aqueles que dizem, nas entrelinhas: “tá, você está criticando, então venha aqui e me ajude a fazer melhor!” São tão “colaborativos”, estes que pedem para “fazer melhor”, que só percebem o horizonte imediato de suas próprias práticas imediatas e, na falta de um horizonte estratégico, pouco enxergam que lhes possa interessar naquilo que os outros fazem. Especializam-se em acumular contatos para não encaminhar-lhes as demandas; registram toda e qualquer imagem para empregá-las apenas quando lhes convém, e não em comum acordo com seu objeto de captura; querem colaboradores, mas pouco se importam em colaborar; em resumo, são flanadores militantes — ou militantes da flanagem, pouco importa.
Que quero dizer com isto, descendo ao “concreto-virtual”: que de um mato onde os coelhos andam tão ocupados em tuitar num ritmo 24/7 que sequer observam os caçadores a andar por perto, é desse mato que não sai nada mesmo. Ou bem se tem algo concreto, sentido na carne, pelo que lutar, ou bem as pautas extremamente genéricas da “cidadania indignada” — como se viu nesta manifestação, movida pela pauta formada por especialistas e universitários — não levarão a lugar algum. Mas mesmo isto parece não ter muito efeito, pois na lista dos três mil e poucos que “confirmaram presença” e não foram, além de muito militante tarimbado que certamente estava esperando oportunidades para levar sua própria pauta para as ruas, havia alguns dos comentadores deste artigo…
Mais uma vez, e pela última: o que importa mesmo é seguir analisando como se empregam as redes sociais em cada caso concreto para ver os avanços e recuros em cada momento de lutas. E neste caso, apesar da força de vontade e coragem dos que se fizeram presentes, que merecem meus elogios, o que houve foi um fiasco a ser mais bem compreendido — em especial se se quer levar adiante aquilo a que os ocupantes se propuseram.
Rapaz, eu sei porque o negócio não funfou. O largo da Dinha não conseguiu se articular com o Largo da Mariquita nem com o Mercado do Peixe, e como ninguém botou fé deve ter todo mundo ido se encontrar depois no posto Chaminé ou na Kombi Quatro Rodas. Eu quero é prova e um real de big big se não foi isso. Só essa galera mesmo pra achar que peão não tem mais o que fazer além de “estar mais tarde e até de manhã”…
Esse evento foi só uma preparação. O protesto na rede social se resume a rede social. Tanto é, que o elevador lacerda deixou de ser privatizado com o evento dos 3 mil, esse é o unico bonus ‘midiatico’. mas continuam ainda com o interesse de transformar a estação da lapa no predio do sindicato dos transportes. O “curti” só serve pra isso, um passo inicial. não temos organização do segundo passo, pra chegar ao terceiro, e finalizar o quarto, e finalmente viver o quinto. (isso tem que ser desenvolvido com essa colaborações ‘virtuais’, e construido com o apoio mutuo desses poucos 7 ou 10 que sobrevivem mesmo nos fiascos. É uma escola e não tem nada de novo. No irc, no napster, era mil vezes mais potente do que essas redes apaticas, só não tinhamos numeros suficientes de acessos para ampliação, o twitter só serve como janela de pautas diarias, a nivel nacional internacional. o que espero é que surja um novo centro de midia independente, só que nunca pespectiva de integração de varias webTv locais, onde poderiamos ter ‘noticias’ das lutas e uma maior mobilização e apoio com esse ‘espirito de epoca’.
Depois de ler tudo isto, é caso para dizer que a montanha pariu um rato,salvo uma ou outra excepção. Se a internet fosse tão eficaz para determinar o êxito de uma conquista social e política, a burguesia no poder já tinha prescindido há muito das polícias, dos tribunais e das prisões recorrendo, exclusivamente, às novas tecnologias de comunicação, e na verdade também o faz com muita eficácia e sabedoria, mas não fica por aí; tem os seus partidos muito coesos e bem organizados e um aparelho político completíssimo.
O povo o dono da rua e pouco mais quer inventar uma revolução feita no espontaneísmo do movimento e na mobilização via facebook.
Tenho impressão que a 5ª esquadra americana proclamou o estado de alerta máxima…
A empresa de consultoria e-Marketer estima que em 2011 as redes sociais devem faturar US$ 5,54 bilhões de dólares (a estimativa anterior era de US$ 6 bilhões), sendo que o Facebook deverá arrecadar cerca de 70% desse valor.
Conforme James Glassman, ex-alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA (a uma plateia de ciberativistas em conferência patrocinada por Facebook, AT&T [companhia telefônica], Howcast [site de vídeos], MTV e Google), os militantes do Facebook “são a nossa grande esperança” pois “oferecem aos EUA uma considerável vantagem competitiva diante dos terroristas.”
E para Mark Pfeifle, ex-assessor de segurança nacional dos EUA:
“Sem o Twitter, o povo do Irã não se teria sentido capaz e confiante o bastante para sair em defesa da liberdade e da democracia”.
Bom, é isso aí.. Dan Caribe e a todos:
fez-se um bom debate por aqui, texto pertinente, bons comentários e boas respostas suas.
Só ressalto que, juigo, num país como o Brasil não podemos nos dar ao luxo de “Noticiar as lutas e pensar sobre elas.” – Deixemos o pensar pelo pensar para os suecos e suíços, eles podem… Nós não: nós temos que pensar sim, e agir e fazer a slutas, vivendo-as, errando-as, conflitando e sobretudo se unindo. Mas agindo, sempre.
Até porque, mudanças haverá, evidentemente – politizadas ou não. Depende do rumo que dermos as coisas (ou que tentemos dar…)
abs
Nesta discussão — como em incontáveis outras em que de bom ou mau grado tenho participado ou assistido ao longo de décadas — observa-se da parte de vários intervenientes uma funesta ambiguidade. Imaginam que de alguma maneira misteriosa o plano da prática pode saltar para dentro do plano da teoria. Imaginam que existe uma teoria só teórica, que no geral é a dos outros, e uma teoria prática, que costuma ser a deles. Mas o que existem são teorias bem formuladas e teorias confusas. A prática começa precisamente onde acaba a teoria. E aqueles que justificam as suas debilidades teóricas com o argumento de que elas representam uma prática não estão a praticar nada, estão a fazer má teoria. E estão acima de tudo a fornecer a eles mesmos um álibi para nem pensarem melhor nem propriamente agirem.
http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/985939-para-gestores-e-lideres-de-empresa-obra-discute-uso-das-redes-sociais.shtml
É… acho q não preciso explicar o que eu quis dizer né?
Texto muito bom. O lamentável é que algumas intervenções ao invés de utilizarem-no como recurso crítico, preferem discutir as filigramas e ver as “incoerências” textuais do argumento do autor.
Acrescentaria que há uma fetichização crescente, em certos meios ativistas, de atividades que possam ser publicizadas sob uma ótica do espetáculo.
Não me surpreende, que alguns dos movimentos mais enraizados e com trabalho de base que conheci, possuam certa rejeição a essas ferramentas virtuais, ainda que não deseje aqui, estabelecer falsas dicotomias como regras.
movimentos de base com “rejeiÇão a essas ferramentas virtuais” rsrsrs.
Rejeitar essas ferramentas é rejeitar gente, pq a internet é uma rede de pessoas.
A eficácia ou não. a autenticidade ou não e até mesmo a sinceridade de certos ativistas e militantes (q utilizam o discurso político e até mesmo contracultural como escapismo existencial), é bom e necessário.
Mas rejeitar ferramentas… (!). Ainda mais ferramentas de comunicação e interação em redes horizontais, de pessoas!!!
Alguns comentários aqui são mais perigosos do que os próprios autores supõem.
cada vez fica mais claro a predominância, em termos gerais, de dois discursos… um deles, o perigoso, é o que alimenta a tendência autoritária de querer falar de cima de um pedestal e sobretudo ter o controle absoluto da mensagem.
Por isso o temor das redes, das vozes – das pessoas comuns! que não são tão profundas em teoria política. A receita é acusá-las de não saberem existir num debate político.
Ora gente! Fica parecendo que vcs associam lutas de esquerda a anti-capitalismo autoritário – sem alternativas, sem propostas e pior, sem ação. Parece mais um vício do que militância.
Por falar em militância facebookiana, esquizofrenia e outros, a babaquice do momento é colocar imagens de desenhos animados como forma de protestar contra a violência infantil e outras. São pessoas postando intenções para outras pessoas que partilham das mesmas intenções, como membros de torcida organizada que se unem para cantar juntos ou gritar dadas coisas. E não sai disso, e não afeta absolutamente nada, a não ser a conta do Facebook, a publicidade.
Na falta de uma organização efetiva nos bairros, uma participação junto a conselhos tutelares, um conhecimento do estatuto da criança e do adolescente, uma campanha nas escolas, reuniões em conselhos, enfim, coisas que demandam tempo e esforço, surge a campanha no facebook contra a violência infantil. Amanhã contra o assassinato por parte da ROTA, depois pela gratuidade de todo o ensino superior e assim vamos. É certo que assim tudo vai ser conquistado, se fosse o caso de haver alguma intenção de lutar de verdade.
No fundo, há uma quantidade enorme de pessoas que nunca lutaram e outras que já não querem mais lutar, se desiludiram, e usam o facebook uns para travestir as tuas derrotas e desilusões e outros para ocultar a tua covardia e conivência.
Militantes e ativistas, inclusive virtuais, que curtem eventos e tal, voltaram hoje à praça Municipal de Salvador! (Em breve será publicado um vídeo).
Vídeo do ato: http://www.youtube.com/watch?v=-gXbXo9gQRk&feature=related.
é melhor uma efervescência despolitizada do que uma politização autoritária.
A primeira é um potencial, a última é uma estupidez! A primeira pode germinar, a última fecha-se no discurso com medo da realidade.
Mas as transformações estão acontecendo, politizadas ou não. Com facebook ou não.
E o mais importante é não deixar – em nome da “tioria” – o debate político tão rico se converter em duelo de retóricas.
:)
Nunca vi ter mais de 7 ou 10 “politizados” .. a maioria sempre foi “massa de manobra”. então, visualizo que com um trabalho constante a consciencia politica desses 7 ou 10 pode ir para 700 ou 1000. é o que se percebe nas ruas. Isso só tendo contato. Olhar de longe só vê formiga ou herois nas fotos
«Nunca vi ter mais de 7 ou 10 “politizados” .. a maioria sempre foi “massa de manobra”». Eu já tinha lido isso no Mein Kampf e em artigos de Mussolini.
Salvador, Bahia.
Primeiro ato contra a privatização do elevador
A moça começa logo falando do Egito, da Líbia…. na praça vazia
O outro pega o megafone e chama “todos”…. na praça vazia
O palhaço “gugu dadá” – com sua vestimenta retrô – zanzando para cá e para lá.
-*-
Já participei de muitas manifestações visivelmente fracassadas, mas essa aí tem o seu próprio charme, a sua própria categoria. Os organizadores carregam aquele espirito que há de pior e essencial no movimento estudantil, o qual geralmente utiliza retóricas assim:”Galera, isso aqui já é uma vitória…” ou então “hoje esse é um movimento vitorioso…”. Pois, não se aceita nunca que estão em condições desfavoráveis, mesmo que a “conjuntura” (para utilizar o jargão usual deste meio) esteja explicitamente dizendo o contrário.
Enfim, o espírito do movimento estudantil transportado para a luta social gera essas situações cômicas(“típico caso de vergonha alheia”): meia dúzia de gatos pingados e alguém no megafone gritando ao vazio que isso “já é” uma vitória, quando sequer eles conseguem ocupar uma escadaria por falta de quantidade de pessoas.
O pior do ato não foi ele ter sido convocado pelas redes sociais e aparecer aqueles 40. Mas foi seguir a lógica do movimento estudantil: tanto na retórica quanto na organização da mobilização (que deve ter sido basicamente uma convocação através de um cartaz preto e branco colado no mural da faculdade). Ah!, engano, agora o cartaz preto e branco foi substituído por um “chamado nas redes sociais”.
Num primeiro momento imaginei que quem ficaria preocupado com essa promessa de retorno em próximas manifestações é o palhaço “Gugu Dadá” que perderia o seu palco, mas, vejam só como ele “se vira” e já aluga (de forma colaborativa!) o seu megafone. É um empreendedor social! Enquanto isso, “quem disse que sumiu. Nas ruas, nas cidades, aqui está presente o movimento estudantil”.
E que voltem mais vezes!
PP,
Ferramentas em rede e tecnologias têm de fato uma grande potência, e o 15M e outros movimentos comprovam isso. As pessoas precisam, primeiro, acreditar nos movimentos. Vide a mobilização setorizada que acontece pelo país, com greves de bombeiros, professores, bancos etc. mas que não se unem em prol de mudanças maiores – tal como propõe o movimento 15 de outubro (15O). Seja por desconhecimento dessas articulações (papel que, aí, talvez as redes não sejam suficientes, da maneira como estão) ou da noção maior do poder que podem assumir.
O grande problema, além do próprio fato de acreditar nesse poder, é quem controla essas redes. Facebook é uma rede explicitamente comercial e não confiável, no entanto, é a que atualmente está presente por toda parte, ao lado do Twitter. Talvez seja o motor do dinheiro movido à violação de dados pessoais (consentidos, ainda que muito controversamente) que torna possíveis estratégias e o desenvolvimento/atualização de um software capaz de tal sucesso. Mas existem outras redes desenvolvidas livremente, com intuitos explicitamente ativistas (mas que também podem ser usadas para fabulações, lazer e outras artimanhas), que procuram ganhar espaço na rede e já servem a grupos menores e seus trabalhos. Os maiores desafios, penso, passam por não cair na ingenuidade de liberar informações em redes não confiáveis (como o Facebook); nunca esquecer que práticas de verdade vão muito além da internet; e, principalmente, como desviar o foco (e a popularidade) de redes que somente monetarizam sobre conteúdos produzidos livremente pelos usuários? O tal do projeto Diáspora até hoje não vinga, e, a despeito dele, há redes livres porém de menor abrangência, mas que estão sendo usadas por aí. Conhece o N1, o Anillosur.cc?
Ah, João Bernardo, deixa de ser rabugento!
“Así que, lo que vemos es que a través de Internet, otros intermediarios pueden ser creados — estamos “desintermediando” los medios de comunicación, sólo para descubrir que nos hemos “re-intermediado” en Internet mediante la creación de nuevos jefes. Incluso Google, incluso Steve Jobs con su tienda de Apple — toda esa gente controla el acceso y puede decidir lo que va en línea y qué no. Ellos son los nuevos jefes” – Vittorio Zambardino.
http://www.niemanlab.org/2010/04/re-intermediating-the-web-a-chat-on-italys-online-news-culture-with-la-repubblicas-vittorio-zambardino/
Advertência: o comentário a seguir possui uma certa dose de ingenuidade e amadorismo.
Sem muita teoria sabe o que proponho: A criação de núcleos em que as pessoas se reúnam em grupos para mapear as questões e lutas de seus bairros [ http://iconoclasistas.com.ar/2009/09/06/%C2%BFque-es-el-mapeo-colectivo/ ] e assim gerar uma visualização na qual todas as lutas e questões da cidade podem se conectar, gerar um mapa geral da situação da cidade e ser de fácil reconhecimento dos problemas sociais por todas as pessoas. Isso evita a fala intelectual e torna o reconhecimento dos problemas intuitivo. Esse mapa poderia ser publicado em um site e poderia ser atualizado pelas próprias pessoas em seus computadores.
As manifestações poderiam se inspirar no tom do humor judaico [ http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=358&p=0 ] ou na Geração Rasca de Portugal com sua alegria anarquista [ http://www.youtube.com/watch?v=4bDN53Rqh54 ] [ http://www.youtube.com/watch?v=ukPdbUrRKbo ]. A internet deve auxiliar na tarefa de disseminar informações ao ponto que as questões se encontrem em um lugar comum, mas o que de fato moverá as manifestações é a solidariedade e a alegria. Não acredito em movimentos cheios de raiva e medo contra o sistema. O que resistiria a uma boa gargalhada ou a uma ridicularização pública?
No que entendo, elitista é quem acredita que as pessoas não sejam capazes de se apropriarem do que está para além do rotineiro e não quem pauta a ruptura do estabelecido.
“Participar nas redes sociais não é resistir, não é organizar, não é libertar-se; é o contrário, é entregar-se ao sistema de maneira orwelliana. A Rede é um panóptico digital. E nós não somos os vigilantes, somos os vigiados”.
muito bom o texto. e coloquei esse trecho em destaque por ser um dos motivos pelos quais deixei de usar o orkut há anos e nunca entrei no facebook. Tem gente que pode achar meio conspiratório, mas não é a toa que uma rede que reúna 800 milhões de pessoas seja de um interesse gigante do governo dos Estados Unidos. Além do fator de acomodar os movimentos sociais, acho essa porra toda perigosa pra caramba no sentido da vigilância direta e voluntária que ocorre de quem adere a tais redes.
E pq não olhar na perspectiva, que nós tambem podemos vigiar? wikileaks é o quê? (e nem acho que devemos nos limitar a redes sociais, que dali nunca saiu nada) mas devemos resistir, organizar e libertar
Quanto a vigilancia, é mais fácil rastrear esse pessoal que comenta aqui, que tem algum ‘perigo’, do que gente que não afeta em nada nas redes sociais.
Seguindo a lógica de alguns comentários aqui, seria mais coerente o Passa Palavra se tornar uma revista impressa, enviada somente para assinantes cadastrados e avaliados pelos editores… O mais irônico nisso tudo é que toda esta crítica ao uso da internet, com as suas redes sociais e blogs se dá praticamente na internet em suas redes sociais e blogs (cheguei até este texto via link postado no Facebook). Este texto, assim como outros publicados com o objetivo de refletir e criticar a cultura digital (sim, é disso que está se falando)também acaba errando o foco ao dar mais atenção o desbunde da garotada com o meio digital do que as suas reais motivações ao provocar manifestações.
Seguindo a lógica torta de @skarnio, os comentários e textos do PassaPalavra criticam o próprio uso da internet e das redes sociais, e não alguns — alguns, repita-se — processos sociais para os quais internet e redes sociais são veículo. O mais irônico nisso tudo é que toda esta crítica aos comentaristas e aos próprios escritores se dá contra alvos inexistentes. Tanto este comentário quanto outros em outros textos críticos da cultura digital (sim, pois se trata, por parte dele, da defesa acrítica da cultura digital na qual está plenamente inserido e da qual pode ser que tire seu sustento) acabam errando o foco ao dar mais atenção ao fato de haver uma crítica, essa coisa rancorosa, que às reais motivações ao se fazer tais críticas.
É interessante ler o debate sobre a importãncia da comunicação digital e das suas repercursões nos movimentos sociais de contestação à ditadura do capital sobre os trabalhadores explorados e dos desempregados por explorar. Num comentário anterior, dá-se conta de que para Afonso Costa lhe bastou o telefone para conquistar o país. Não teve necessidade nenhuma das novas tecnologias para o conseguir. Hoje com tanta evolução tecnológica assiste-se ao descalabro da “organização empreendodora”. É claro que estes inovadores obreiros da luta contra o capital ignoram que sob a sustentação do movimento espontaneísta da contestação está garantida a vitória do inimigo. Por mais tecnologia que possuam a inteligência e o conhecimento saiem sempre vitoriosos, enquanto que a arrogante prosápia rocambolesca sai sempre vencida.
Hahaha… Que bonitinho Emanuel! Usou a estrutura do meu comentário para escrever o seu! Criativo hein? Primeiro afirma que critico os “escritores e os textos”, depois, que os alvos são inexistentes (?!). Até gostaria de criticar os escritores, mas eles vivem no anonimato, enquanto eu coloco meu nome e nick pessoal aqui para ser rastreado e ter que ouvir abobrinhas sobre o meu “sustento”. É, de fato, eu defendo as coisas que defendo a 10 anos por receber milhões por elas… Voltando ao que merece ser debatido, nunca achei ruim o fato de se criticar a cultura digital, muito pelo contrário até. O que chamo a atenção é pelo fato se estabelecer como única verdade absoluta a ligação entre fatos como a espontaneidade adolescente, a margem de lucros das empresas e a crise de representatividade da sociedade. Entre todos estes fatores existem outros que pode ser explorados de forma positiva, como a predisposição de uma geração inteira por mudar as coisas e ferramentas que ainda podem contribuir com isto. A direção equivocada de muitos integrantes e coletivos só ajudam a fortalecer iniciativas como o AI5 Digital e o ACTA ( http://xocensura.wordpress.com/ ). Creio que mais urgente do que falar de manifestações vazias de estudantes é a luta para que a internet seja mais livre e continue a dar o mesmo acesso que a Globo.com tem a sites como o Passa Palavra, por exemplo. Tudo isto que estamos discutindo está sob ameaça hoje.
A rede pra mim era muito maior em 1999 do que agora. A diferença é que os movimentos eram breves e permanentes. agora os contramovimentos são permanentes e breves.
Opor uma “efervescência despolitizada do que uma politização autoritária” é dum simplismo absurdo. Como se não houvesse possibilidade de haver um trabalho regular (politizado e libertário) que não utilizasse os paradigmas da esquerda autoritária.
Se os paradigmas da velha esquerda devem ser reinventados, não adianta nos iludirmos com arroubos deleuzianos de botequim que nos fazem acreditar que facebook é revolucionário, zona autônoma temporária é o supra sumo da insurreição, que software livre é quase uma expropriação dum banco e que flash-mobs e manifestações de internet vão derrubar o capitalismo!
É óbvio que o uso da internet é interessante para os movimentos sociais, isso não foi colocado em discussão no texto. O que foi colocado e sintetizado em uma das frases que ilustram o artigo é que
“Participar nas redes sociais não é resistir, não é organizar, não é libertar-se; é o contrário, é entregar-se ao sistema de maneira orwelliana. A Rede é um panóptico digital. E nós não somos os vigilantes, somos os vigiados”.”
Iludir-se com essas breves e superficiais manifestações embarcando no discurso do efêmero é reduzir o trabalho social (que deve ser regular, constante e enraizado) à lógica do espetáculo pelo espetáculo.
Gente este texto da um curta. E ironicamente Lindo.