Perguntamos àqueles e àquelas que reclamavam por uma democracia real se continuarão a fechar os olhos a estes acontecimentos. Ou se na democracia que ambicionam há lugar para esta violência racista. Por …

Em 15 de Outubro, por volta das 22h, a polícia agrediu violentamente vários jovens da Arrentela, homens e mulheres, alguns dos quais frente aos seus filhos.

Em resposta a uma denúncia sobre barulho a polícia interveio com socos, pontapés e tiros. Tudo depois de uma festa do primeiro aniversário de um bebé do bairro, nas instalações da Khapaz, festa essa que acabou exactamente às 22h. Terminada a festa, algumas das pessoas continuaram no jardim a conviver e isto motivou a chamada da polícia, que por sua vez abordou as pessoas com a violência a que já nos habituou.

Eram 22h30, nada mais. Teria a polícia respondido assim a uma queixa de barulho no Bairro Alto ou na Avenida 24 de Julho? Não, pois lá os filhos de papás saberiam motivar uma resposta.

Porquê aqui, então? Porque são negros, negras, brancos pobres ou ciganos que não conhecem os seus direitos e são constantemente submetidos à violência deste sistema que nos relegou para o desemprego em massa, para a pobreza, e tem que manter-nos disciplinados nas reservas de mão-de-obra barata ou sucatas dos ex-operários e seus filhos: os desproletarizados, descidanizados e dessocializados.

Restos de uma democracia que sempre se afirmou na exploração e repressão dos negros e negras e dos pobres. Dos bairros e dos países pobres da mão-de-obra escrava e barata. Democracia que se impõe ao mundo dentro e fora de fronteiras pelas armas.

Pelos bombardeamentos e pelas bastonadas. Perguntamos se é esta a democracia que se quer. Perguntamos àqueles e àquelas que reclamavam por uma democracia real se continuarão a fechar os olhos a estes acontecimentos. Ou se na democracia que ambicionam há lugar para esta violência racista.

Estes são os mesmos polícias que os impediram de tomar a Assembleia da República, escalados para conter o descontentamento dos jovens, dos desempregados e desempregadas, e dos precarizados e precarizadas. Estes e estas também fazem parte dessa democracia. Indignem-se por um verdadeiro 15 de Outubro.

São as imagens que mostram, contrariamente ao que pretendem a SIC e o Correio da Manhã (instrumentos da propaganda racista e capitalista), que não foi nenhuma luta de gangs, não foi nenhuma resistência à autoridade.

1 COMENTÁRIO

  1. Ao ler uma interrogação no texto deste vídeo, «Perguntamos àqueles e àquelas que reclamavam por uma democracia real se continuarão a fechar os olhos a estes acontecimentos», lembrei-me de um trecho da descrição que uma amiga enviou da pequena concentração de 15 de Outubro em Goiânia. «Iniciada a Assembléia, em muitos momentos a redundância tomava conta da situação, e voltava-se às pautas previamente tiradas, até que uma mulher, com a filha recém-nascida, foi pedir ajuda, uma vez que tinha ido a Goiânia em busca de tratamento médico para a criança e estava sem abrigo. Não tinha mais como ignorar. A partir deste desconforto, uma pessoa propôs que a situação desta mulher fosse incluída na discussão, então começaram a surgir propostas de aproximação do movimento com a população». Nada mais natural do que este alheamento, enquanto as ruas forem ocupadas pelos indignados e não pelos explorados, quero dizer, ocupadas em nome da indignação e não por causa da exploração.

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