Pinheirinho: Arquitetura da destruição…
E da re-construção.
Apesar de haver ainda moradores do Pinheirinho desaparecidos, uma semana após o Massacre da ocupação Pinheirinho, muita água rolou. Com muita mobilização de movimentos populares e outros setores da esquerda, com inúmeras manifestações de solidariedade enviadas de todo canto do Brasil e de fora do país, além de denúncias de violação dos direitos humanos, fortaleceu-se uma contraposição a esse regime repressor e violento, que criminaliza o povo organizado.
Com isso, o governo estadual e do município de São José, os mesmos que arquitetaram a destruição do Pinheirinho, ofereceram o bolsa-aluguel e se comprometeram a entregar apartamentos do CDHU às famílias despejadas. Os mesmos que tiveram 8 anos para regularizar a situação do Pinheirinho e para negociar com os moradores uma moradia digna, mas que optaram pelo despejo e pela repressão brutal, em menos de uma semana apresentam alternativas habitacionais. O intuito é silenciar os protestos, e botar uma pedra sobre a questão, apagando a barbaridade que cometeram. Por outro lado, eles vão tentar fazer aqui o mesmo que fazem com tantas comunidades que eles despejam todos os anos: enrolar, desarticular, para depois esquecer a promessa. Pura ilusão desses facínoras. O crime que eles cometeram não será esquecido, e eles não conseguir enrolar quem passou tanto tempo lutando por construir a comunidade do Pinheirinho.
Os que se ocupam da tarefa de fazer moradias populares fazem parte da mesma elite sanguinária, preconceituosa e mentirosa que os governantes, e certamente estão atentos às coisas que acontecem. No final do ano, o Alckmin inaugurou uns prédios do CDHU, que já vieram cheio de goteiras, infiltrações, rachaduras, vazamentos, as portas e as janelas, se abriam, não fechavam, e se fechavam, não abriam. Porém, ao invés de reconhecer a incompetência da empreiteira e de sua própria gestão, e de investigar o que aconteceu, o presidente da CDHU decidiu culpar os próprios moradores, por serem “favelados”. Nas palavras dele: “A gente conhece o nível de educação [dos moradores]… O pessoal veio da favela. Não está acostumado a viver em casa”.
Em nome do poder econômico se destrói e se constrói moradias, beneficiando os proprietários e as construtoras; a população pobre, ao contrário, nos raros casos em que é “contemplada” por num programa habitacional depois de perder suas moradias construídas com tanto esforço, acaba ganhando em troca de uma dívida, que ela provavelmente não vai conseguir pagar.
Todo povo da periferia sabe e sofre com os impactos da ligação entre a especulação imobiliária que comanda ações de despejos, os projetos de construções nas cidades loteadas, e o jogo eleitoral, financiando campanhas de políticos de todos os partidos. Ou seja, eles ganham destruindo e construindo – não apenas muito dinheiro, mas também poder de mover as peças do jogo como desejam. Infelizmente, vivemos num sistema em que este poder está muito acima da vida, e num momento histórico que nem as leis burguesas são respeitadas e não temos a garantia de qualquer direito. Por isso, os ataques contra o povo continuarão, a não ser que a gente se organize e adquira força para virar o jogo.
Mas é certo que não são apenas os interesses econômicos movem uma ação como essa. Ao destruir uma comunidade inteira auto-construída e organizada por seus ocupantes – aqueles que como a grande maioria das grandes cidades nunca tiveram outra maneira de viver – os poderosos querem barganhar a dignidade dos lutadores e lutadoras, oferecendo uma moradia como presente que vem de cima. Com isso, eles também tentam destruir a dignidade e o poder popular que só se constrói em lutas diretas. Mas isso não conseguirão fazer.
A comunidade do Pinheirinho continua organizada e nesta quinta-feira, dia 2 de fevereiro, haverá mais uma grande manifestação nacional que será realizada em São José dos Campos. Para mais informações, clique aqui.
Todo poder ao povo!