Por Infobref

18 de Janeiro de 2012

A contestação social e política cresce na Tunísia, apesar de o presidente provisório Moncef Marzougui ter lançado um apelo a uma trégua de seis meses. A vaga de greves, ocupações e cortes de estradas propagou-se em poucos dias por várias regiões do norte ao sul do país, passando pelo centro (regiões de Jendouba, Bizerte, o Kef, Siliana, Kasserine, Jébenyana, Redeyrf, Kébili, Djerba, etc.), impedindo a circulação e paralisando a actividade económica em várias cidades e localidades. As greves afectam os aeroportos, a alfândega e até a polícia. A Faculdade de Letras de Manouba continua a sofrer a pressão dos salafistas [islamistas ultra-conservadores]. A Faculdade de Letras de Sousse está submetida a pressões similares e já houve confrontos, de que resultaram três feridos.

A grande central sindical UGTT [Union Générale Tunisienne du Travail, União Geral do trabalho Tunisina] convocou para 25 de Janeiro uma greve geral dos 35.000 assalariados sob contrato, que vivem numa situação de precariedade. A contestação é estimulada pelo desemprego e pela precariedade das condições de vida. Em Siliana, uma região pobre no centro da Tunísia, desde há cinco dias que prossegue uma greve geral na localidade de Makthar, onde os habitantes exigem empregos e a melhoria das condições de vida.

Segundo a agência noticiosa oficial TAP e segundo imagens difundidas pela televisão pública Nationale 1, os estabelecimentos escolares estavam fechados e os acessos à cidade estavam bloqueados por troncos de árvores e pneus em chamas, empilhados por grupos de desempregados.

Reivindicações idênticas estavam por detrás de acções similares no Kef e em Jendouba (noroeste), onde os manifestantes cortaram estradas e praticaram acções de vandalismo visando estabelecimentos comerciais, escolas e parques municipais de automóveis, nomeadamente na localidade de Ghardimaou, segundo a mesma fonte. Houve também perturbações em Grombalia (nordeste) e em Gafsa (sudoeste), capital da bacia mineira onde 40 pessoas deram início a uma greve de fome, segundo a rádio Mosaïque FM.

Na tarde de segunda-feira, 16 de Janeiro, um grupo de manifestantes, constituído por famílias de mártires vindas na maior parte de Thala e de Kasserine, estava acampado em frente ao palácio presidencial de Cartago. Aquelas duas cidades do centro-oeste do país pagaram um pesado tributo aquando da insurreição popular que levou à queda do regime de Ben Ali, registando um grande número de mortos e de feridos. Sentada no chão, debaixo de uma árvore, apesar do tempo particularmente frio, uma mulher jovem segurava uma criança de um ano e três meses, envolta num lençol. «O meu filho foi atingido na cabeça por gases lacrimogéneos, aquando de uma manifestação em Kasserine. Não posso pagar os tratamentos com um salário de 104 dinars (cerca de 52 euros [119 reais]), que ganho no posto de saúde básica onde trabalho. Quero que o Estado se encarregue do tratamento e que melhore a minha situação profissional», declarou à agência noticiosa Associated Press Thouraya Ghodbani, de cerca de trinta anos de idade.

Em Kébili (extremo sudoeste), activistas do partido islamista Ennahdha, junto com militantes do CPR [Congrès Pour la République, Congresso Republicano], ambos no poder, atacaram o governador da região, que só conseguiu sair da sede do governo sob a protecção do exército.

Publicado em Infobref nº 246
Tradução: Passa Palavra

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