Por Revocultura

Pode ler aqui a descrição da repressão aos anteriores protestos no Recife.

Aquele dia chuvoso ficará marcado na memória dos pernambucanos como um marco recente do avanço dos desmandos do governador do estado, Eduardo Campos (PSB). A sociedade civil organizada foi amordaçada pelos anseios de poder do socialismo burguês do Governo do estado. Socialismo que quer a sociedade atual, mas tenta eliminar os elementos que a revolucionam e dissolvem; que quer “a burguesia sem o proletariado”.

Mesmo debaixo de uma forte chuva centenas de indignados se concentravam na frente do Ginásio Pernambucano — tradicional instituição de ensino médio da cidade do Recife — para realizar mais um dia de manifestação. Os ativistas cruzavam a Conde da Boa Vista — avenida nomeada em homenagem a um político e militar brasileiro do século XIX, ligado ao Partido Conservador — com gritos de ordem contra o aumento das passagens e eram saudados pela população com papéis picados e aplausos.

Mesmo se esquivando desde o início do confronto direto com o braço armado do Estado, no cruzamento da Avenida Conde da Boa Vista com a Rua da Aurora o Batalhão de Polícia de Choque foi acionado. Numa atitude enérgica, os manifestantes decidiram não se retirar. Com gritos “o povo unido se organiza sem partido”, dirigidos para a parte partidária do comitê contra o aumento da passagem que resolveu abandonar a resistência.

Dessa forma as armas “não-letais” do monopólio legitimado da violência — gás lacrimogêneo, spray de pimenta e bombas de efeito “moral” (!) — tensionaram as ruas mais uma vez. As cenas foram estarrecedoras, pois as bombas dos soldados do Batalhão de Polícia de Choque atingiam os transeuntes e os ônibus que se encontravam no local. As pessoas corriam para todos os lados e nas ruas da cidade a ROCAM (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) atirava spray de pimenta nos militantes.

Está mais que claro que vivemos num estado opressor, em que a sociedade civil não pode se expressar. As reuniões do comitê contra o aumento das passagens estão sendo vigiadas de perto por viaturas policiais e os famosos P2 (policiais infiltrados).

Olhar o presente e refletir sobre o futuro!

Na tarde do dia 25 de janeiro começou o terceiro ato contra o aumento das tarifas de ônibus da Região Metropolitana do Recife. A manifestação, como de costume, saiu do centro no início da tarde e, ao contrário das duas últimas edições, não foi marcada pela violência da ROCAM e do Batalhão de Choque, que desta vez sequer apareceu nos protestos.

Não coincidentemente, uma hora antes de a manifestação chegar ao Palácio do Campo das Princesas (sede do executivo estadual), uma comissão composta por diversas entidades estudantis pelegas (UNE, UEP,UBES, UMES – Recife, UESPE, entre outras) se encontravam com o governador do estado sem o conhecimento e consentimento daqueles quase 2 mil (no auge do protesto) manifestantes que fechavam as principais artérias da cidade.

A imagem de Eduardo Campos — reeleito governador com a maior votação percentual do país, 82,8% dos votos válidos, a qual talvez ele julgasse inabalável — já se encontrava desgastada por conta da repressão brutal com que a Polícia Militar do estado de Pernambuco agiu contra os protestos pacíficos. Há muito tempo protestos de estudantes não eram vítimas de tamanha represália como foram nos dois primeiros dias de manifestação.

A estratégia do Governo do estado de calar o movimento na marra, porém, saiu pela culatra, visto que uma porção cada vez maior da sociedade civil recifense demonstrava seu apoio aos manifestantes. Mas, voltando… O governador do estado, que acabara de voltar de viagem oficial, recebeu a referida comissão (não sabe-se ao certo por iniciativa de quem) e, muito provavelmente, ordenou à Secretaria de Defesa Social que se contivesse, o que certamente contribuiu para recuperar sua imagem. Não só a polícia não agira violentamente como o governador imediatamente aceitara dialogar e escutar as 12 pautas das entidades, as quais, segundo o próprio, serão “uma prioridade do governo”.

Mais uma vez, no teatro que são as manifestações contra o aumento das passagens, as entidades pelegas se dirigiram à frente do palco — eis que a briga de egos desses grupos não têm fim. Contribuíram, enfim, em detrimento dos milhares que se fizeram presentes no terceiro dia de protestos, para fortalecer a imagem do governador perante a opinião pública e consequentemente enfraquecer a luta dos manifestantes.

Não nos cabe, porém, chorar sobre o leite derramado. Se tais entidades não vêem problema em agir como agiram, isto é, independente dos que, de fato, estão nas ruas, também não devem contar com nossa solidariedade nas manifestações. Não nos deixemos servir de trampolim político! Que tais entidades sejam expulsas das manifestações!

Admirar o mundo novo pernambucano?

A sociedade pernambucana está mergulhada num processo de construção de um projeto desenvolvimentista onde as pessoas são pré-condicionadas através de cursos técnicos e universidades sem nenhum posicionamento crítico. Qualquer forma de posicionamento contrário a esse projeto é rapidamente cooptado ou eliminado. Novos shoppings e pólos de desenvolvimento prometem um futuro sem precedentes na nossa história.

Na sua capital foram instaladas câmeras com alta resolução. De uma central são monitorados todos os cidadãos. Nos transportes coletivos não existe conforto, respeito e pontualidade; no entanto, se faz presente um sistema de monitoramento de alta tecnologia. Vive-se à sombra da elite e dos governantes traidores do povo numa dominação total dos nossos corpos.

Os últimos protestos do aumento das passagens mostraram a face obscura do Estado pernambucano. No mínimo, sete pessoas foram detidas por crime de opinião. A mensagem foi clara: os jovens só servem para consumir e reproduzir o sistema vigente e não haverá espaço para contravenções políticas. Alguns casos foram um bom exemplo e poderão ser observados em duas notas que seguem no rodapé deste texto.

O governador Eduardo Campos, em entrevista, falou que colocara seu serviço secreto para detectar os baderneiros de antemão. Dois jovens ativistas foram detidos colando imagens nas paradas de ônibus sem nenhuma justificativa plausível. O delegado até o momento não conseguiu enquadrar eles em nenhum artigo e os advogados do comitê contra o aumento da passagem ficaram surpresos com essa ação policial.

Não sendo o bastante, o coordenador da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco participou do interrogatório, realizando perguntas estritamente de caráter político como: qual é a sua opinião em relação ao excelentíssimo governador do estado Eduardo Campos?

Amigos presos e amigos sumidos assim. Arma na cabeça, assédio moral, reuniões monitoradas, e-mails e redes sociais invadidas e agressão são a rotina diária dos militantes mais ativos contra o aumento abusivo das passagens. Nas ruas de Recife estamos todos assustados com o que pode acontecer a qualquer momento com nossos companheiros.

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A mídia corporativa e o aumento das passagens [II]:
http://reciferesiste.org/a-midia-corporativa-e-o-aumento-das-passagens-ii/

A mídia corporativa e o aumento das passagens [III]:
http://reciferesiste.org/a-midia-corporativa-e-o-aumento-das-passagens-iii/

E isso tudo era pra ser um protesto pacífico. (meu depoimento):
http://reciferesiste.org/e-isso-tudo-era-pra-ser-um-protesto-pacifico-meu-depoimento/

Insustentável peso do Estado:
http://reciferesiste.org/insustentavel-peso-do-estado/

Se comunista não come criancinha, anarquista não é “porra-louca”:
http://reciferesiste.org/se-comunista-nao-come-criancinha-anarquista-nao-e-porra-louca/

Vídeos

Encontro de Blocos no Recife
http://www.youtube.com/watch?v=Z1zGUnAjEc8&feature=player_embedded

Canal Limpeza – #3 Protesto contra o aumento das passagens:
http://www.dailymotion.com/video/xo1rhp_canal-limpeza-3-protesto-contra-passagens-recife_news#from=embed

Canal Limpeza- Cobertura segundo dia do protesto contra o aumento das passagens:
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