Nota sobre a audiência do caso Andreu, morto por agentes do Degase em 2008

 

Por Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência

No dia 08 de fevereiro de 2012, foi realizada a primeira Audiência de Instrução e Julgamento dos agentes de disciplina Wilson Santos (o Manguinho), Flávio Renato Alves da Silva Costa, Marcos César dos Santos Cotilha (o Da Provi), Wallace Crespo Rodrigues (Seu Gaspar), Dorival Correia Teles (Paredão) e Arthur Vicente Filho (Mais Velho ou Coroinha) acusados de torturarem e matarem Andreu Luís Silva de Carvalho, em 2008, no Centro de Triagem e Recepção (CTR), localizado no Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase). A Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, o Cebraspo e outras organizações de direitos humanos (como os companheiros das Mães de Maio de São Paulo) realizaram um ato público diante do Tribunal de Justiça, com o objetivo de chamar a atenção da população para mais esse absurdo cometido por agentes do Estado e exigir justiça no caso Andreu.

Sua mãe, Deize Carvalho, não descansou nenhum dos 1498 dias após a sua morte, sempre lutando por justiça. Neste dia, antes da audiência onde ela encontraria pela primeira vez os algozes de seu filho e o então diretor do CTR, Deise concentrou energias desde as 10hs da manhã lembrando a morte de Andreu através de seu depoimento para as pessoas que passavam diante do Tribunal: trabalhadores, militantes, policiais, operadores do direito. Segundo ela, “o processo de luta por justiça pelo seu filho é tão doloroso quanto às dores do parto, só que nos dias de hoje, as contrações só irão diminuir quando acabar esta audiência”.

Na audiência, Deize ficou diante dos 6 agentes acusados. Alguns deles não conseguiam erguer suas cabeças, talvez por lembrarem-se da arbitrariedade que cometeram. A juíza leu os autos na presença de Deize, da testemunha, dos agentes acompanhados de seus advogados e da plateia. Enquanto a juíza lia os autos, um dos acusados, o mesmo que havia ameaçado Andreu algum tempo antes deste ser morto, fazia diversas expressões com o rosto, muitas com tom aparente de deboche. Ele chegaria a ser repreendido por um dos advogados de defesa, que percebeu a sua inquietação descabida diante das denúncias relatadas.

Em seguida, a testemunha foi convidada a sair e Deize foi ouvida. Ela contou mais uma vez, com detalhes, tudo o que sabe sobre o assassinato de seu filho, tirando forças da foto de Andreu e da última camisa que ela o viu vestir. Contrariamente, a testemunha dos réus, quando ouvida, disse não saber detalhes do ocorrido, pois estava de férias num dia e teria sido exonerada no seguinte. Ele negou ter dado depoimento à corregedoria e se disse surpreso por ter sido chamado para ser testemunha. Diante desse fato, o promotor solicitou à juíza uma acareação entre ele e o corregedor que o ouviu próximo ao ocorrido.

Será marcada nova data para dar continuidade à audiência e ouvir as demais testemunhas.

Ao final da audiência, Deise, a mulher negra e moradora de comunidade, que vem lutando todos esses anos por justiça, enquanto recebia os cumprimentos de seus familiares e amigos militantes, declarou: “Fui forte por você, meu filho”.

1 COMENTÁRIO

  1. Estive no ato em frente ao fórum. Impressiona a força da Deize que passou a manhã e início da tarde sob sol de 40º discursando com vigor e mta emoção, e ainda enfrentou os algozes de seu filho em audiência.

    Emocionante tb o depoimento da Débora, do Mães de Maio. Essa articulação é essencial. Estarei nos próximos atos.

    E parabéns pela repercussão, só encontrei aqui notícias sobre o desfecho da audiência.

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