«Quando eu estava na produção, a minha chefe numa época precisava de alguém pra chefiar o outro setor e ela achou que eu serviria, eu não aceitei. Eu falei assim: “Não vou me sentir à vontade.” Porque eu era amiga de todo mundo, tinha amizade com todo mundo. E se eu fosse chefiar alguém no meu setor, o pessoal já ia te olhar com outros olhos». Então você recusou uma promoção? «Recusei, recusei» (Depoimento da operária sapateira Isilda Dias Figueiredo em Vinícius Donizete de Rezende, Tempo, Trabalho e Conflito Social no Complexo Coureiro-Calçadista de Franca-SP (1950-1980), tese de doutorado, Unicamp, 2012, pág. 129). Passa Palavra

3 COMENTÁRIOS

  1. Ao contrário, já ví situação de um chefe agredir um funcionário. Deu uma cabeçada e sangrou o nariz do empregado. No dia seguinte, os trabalhadores da empresa organizaram um abaixo-assinado a favor do diretor agressor. Somente três pessoas se recusaram em dar a assinatura em favor do chefe Suzane Richthofen. Eu e mais dois.

    A luta cotidiana é feita destes pequenos atos que podem gerar grandes sofrimentos, perseguições e perdas de oportunidades. E tais nunca vão parar nos livros ou manchetes

  2. Isto me lembra a história de meu sogro que, sendo operador de trem no metrô, recusou já por três vezes tornar-se supervisor, pois não pretendia controlar o trabalho dos outros.

  3. Nas relações de trabalhos hierarquizadas existe a figura, o cargo de chefe, capataz, líder, coordenador, ou coisa que o valha. O chefe nunca é querido pelos seus subordinados, ele é aturado, aguentado. Nos corredores dos locais de trabalha os chefes são alvo de verdadeiras chacotas, piadas, as mães deles que o diga. Muitos trabalhadores aceitam o cargo, uns com objetivo de melhorar a produção, poder aumentar os seus salários. Deste modo tornam-se gestores, não são mais trabalhadores. Todos nós já presenciamos a situação de que um colega de trabalho que era compreensivo, bacana, amigo, ao assumir o cargo de chefe, os seus ex-companheiros, passa a odiá-lo e comentam que o poder subiu a cabeça.
    Deste modo, o ex-companheiro, agora chefe, defende os interesses da empresa, do capital. Ele não é mais um trabalhador. A classe dos gestores está em conflito com os donos, dividindo maiores fatia da mais valia. Esta classe atua na política oficial, nos sindicatos na organização, no planejamento da produção, não são proprietários. São os inimigos ocultos dos trabalhadores, reprimindo as lutas diretas dos trabalhadores. Vejam a história da Revolução Russa de 1917 e a história dos sindicatos da região do ABCD de São Paulo, no final dos anos de 1970 e 80 e entre outras.

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