Por Working Class Self Organization

Aquele que é o maior fabricante de automóveis da Índia encerrou uma das suas duas fábricas, após um conflito laboral que acabou por desencadear uma série de revoltas. Estas provocaram, pelo menos, uma morte e dezenas de feridos.

A fábrica encerrou os seus portões na noite de quarta-feira, devido a um incêndio de grandes proporções, iniciado pelos trabalhadores. Um cadáver carbonizado encontrado na sala de conferências aguarda ainda identificação. De acordo com um comunicado emitido pela empresa, uma subsidiária da multinacional japonesa Suzuki, cerca de 40 gestores e executivos foram hospitalizados, apresentando uma série de ferimentos.

O conflito é o resultado do aumento da inflação, da redução dos salários, do ataque aos direitos adquiridos e do recurso a mão-de-obra temporária, de forma a franquear os regimes jurídicos de trabalho. A situação atingiu o seu limite no dia 18 de Julho, quando um supervisor atacou verbalmente um operário e, sem qualquer processo ou prova de justa causa, decidiu a sua suspensão.

Os operários, indignados, decidiram envolver o sindicato. Enquanto este tentava estabelecer negociações, os patrões reuniam centenas de seguranças contratados, os quais trancaram os portões da fábrica e, a pedido da administração, atacaram os trabalhadores com armas.

Segundo um delegado do sindicato:

“Eles [os seguranças], juntamente com algum pessoal da administração e, mais tarde, alguns agentes da polícia, espancaram uma série de operários, os quais tiveram que ser hospitalizados devido a ferimentos graves. Os seguranças […] destruíram igualmente propriedade da empresa e incendiaram parte da fábrica. Posteriormente, os portões foram abertos, de modo a expulsar os trabalhadores e impor o lock-out da empresa”.

O governo e a polícia não demonstraram qualquer interesse na perseguição dos rufias [valentões, capangas] contratados que iniciaram a violência, optando, antes, pela perseguição aos 3.000 operários, acusados de homicídio (até agora, 91 já foram presos).

Os patrões bloquearam o acesso de todos os trabalhadores à fábrica Manesar que, juntamente com a sua unidade congénere, assegura a produção de 40% da frota automóvel indiana.

As condições de trabalho na fábrica são horrendas. Um carro é produzido em cada 38 segundos. Caso se verifique um segundo de atraso, os trabalhadores sofrem de imediato um corte no salário. Se esse atraso ocorrer à entrada do trabalho, eles perdem o dia de trabalho. Se acontecer ao regressar do intervalo, vêem os seus salários reduzidos.

Tal tipo de confronto está longe de ser estranho à indústria automóvel indiana. Em 2008, um grupo de operários da Graziano Transmissioni linchou o diretor executivo, tendo esmagado o seu crânio com martelos e barras de metais. A Honda, a Ford, a General Motors e a Hyundai conheceram igualmente, nos últimos anos, uma forte agitação laboral.

A indústria automóvel indiana atravessa, no entanto, um elevado crescimento. A Maruti Suzuki obteve mais de $65.000 de lucro por trabalhador. Apesar dos resultados sem precedentes, os operários da indústria viram os seus salários reduzidos em mais de 50% do seu valor ao longo dos últimos dez anos. Já os diretores executivos viram as suas remunerações disparar em flecha.

Traduzido por Passa Palavra a partir daqui.

 

5 COMENTÁRIOS

  1. Queria utilizar esse texto em aula. Há alguma forma de pegá-lo em formato texto ou PDF?

  2. William,
    Para esse efeito basta clicar no cimo à direita, por baixo do título, na indicação «imprimir».
    E uma sugestão. Por que não escreve para o Passa Palavra um artigo relatando a discussão deste texto com os alunos? Estamos convencidos de que seria interessante.

  3. A barbárie da civilização… Começando com “A indústria automóvel indiana atravessa, no entanto, um elevado crescimento. A Maruti Suzuki obteve mais de $65.000 de lucro por trabalhador. Apesar dos resultados sem precedentes, os operários da indústria viram os seus salários reduzidos em mais de 50% do seu valor ao longo dos últimos dez anos. Já os diretores executivos viram as suas remunerações disparar em flecha”.

  4. Sei, não! Depois daquela cena em Forrest Gump onde Tom Hanks é cumprimentado pelo falecido presidente dos Estados Unidos Nixon, não é qualquer fotografia, filme ou informação que me desperta o fervor crítico. Será que foi exatamente assim como saiu na notícia? Se foi, o que os ex-empregados farão sem fábrica para trabalhar? Se o sindicato é atuante, por que ele não se posicionou em defesa de um único empregado que estava sendo injustiçado? Está ficando curioso esse mundo. Grupos islamistas detonam tudo e todos a quem julgam blasfemos, alunos dão um cacete nos professores por discordarem da didática, empregados detonam as fábricas por se sentirem injustiçados. Se isso é sinônimo de civilização, me convidem para sair dessa.

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