COMUNICADO DE ENCERRAMENTO DO ACAMPAMENTO OCUPA UFG
Após 55 dias de acampamento, o movimento autônomo OKUPA UFG comunica o encerramento da ação de ocupação. Isso não significa que o movimento deixa de existir ou que deixamos de demandar um espaço físico específico, apenas que por enquanto utilizaremos de outros meios de ação para continuar a luta.
A organização, por meio da ocupação, foi de suma importância na manutenção de nossas atividades e na constituição do movimento, tendo em vista que por meio dela tivemos a possibilidade de realizar inúmeras ações de formação dos interessados como debates, palestras, leituras, escritas, mostra de vídeos, oficinas, atividades culturais, além de ter sido o principal meio de mobilização e pressão, para que as autoridades burocráticas da universidade pudessem ouvir e dar atenção aos estudantes, não só aos da OKUPA como também de outros grupos que tiveram oportunidade de se reunir com a reitoria da universidade e que não estavam representados pelas instituições de “representação” estudantil.
Apesar de até agora o método de ocupação ter sido eficaz e de grande impacto, a reitoria se mostrou inflexível na decisão de não atender as reivindicações vindas de grupos autônomos – transformando a democracia universitária em uma gestão por meio de instituições burocráticas, com legalidade concedida sem a consulta dos grupos “representados”. E, sendo essa negativa acompanhada de atitudes repressivas e de boicote, alguns grupos organizados autonomamente, dentro da universidade, vêm encontrando grandes dificuldades de atuação. Até mesmo os poucos projetos de extensão, que têm o intuito de trazer a comunidade e pessoas de origem popular para dentro da UFG, têm sofrido com o descaso e desinteresse da gestão da universidade. Isso vem sendo constantemente comprovado com a supervalorização do ensino em sentido estrito – formação de mão de obra qualificada, financiada por fundações privadas, que valorizam a tecnocracia capitalista e o “empreendedorismo científico” – em detrimento do saber desinteressado aos fins lucrativos e mercadológicos da cultura, perdendo assim o caráter público que é, na essência, a função real da UFG.
Com a postura da administração de negação e boicote às iniciativas autônomas e independentes, o dia-a-dia da OKUPA que era o do debate, da formação, do questionamento e da produção, passou a ser o da resistência, o da tentativa de continuidade. Com o início do recesso acadêmico acreditamos que as coisas ficarão ainda mais difíceis e teremos cada vez mais dificuldades na realização de nossas atividades. Tendo em vista esse cenário de repressão no sentido mais básico, como corte da água, energia e do uso do espaço público do prédio, tentativa de culpabilização do grupo por todo problema ou incidente que acontece dentro do campus e o esvaziamento da universidade por conta do fim do semestre, acreditamos que a melhor estratégia a ser adotada é a de retirada do acampamento físico e a expansão das atividades de debates, oficinas, intervenções, apresentações, para outros cantos da UFG. Já não vemos mais sentido em nos concentrarmos apenas na FACOMB, porque este prédio havia sido escolhido em função de questões da greve e por um diálogo mais democrático que tinha se estabelecido com a direção e que foi cortado assim que a direção achou conveniente.
Percebemos a força de vontade do pessoal em manter o projeto funcionando, mesmo com situações precárias e de boicote, como não terem permissão de utilizar o auditório, equipamentos de áudio e vídeo ou qualquer outro equipamento que não seja a sala de aula. A tentativa de instalação e a retirada quase imediata da nossa Biblioteca Aberta Popular dentro da FACOMB demonstrou essa intransigência na manutenção do monopólio da gestão e uso do espaço da faculdade por parte da direção. As palavras da Direção quando questionamos por que não podíamos usar também esse espaço: “Eu sou diretora e posso tomar essa decisão!”. Fica revelado então o que está realmente em questão nessa luta.
Com o fim da greve e da miníma estrutura que mantínhamos, cremos que o melhor ser feito é espalhar a idéia e a intervenção dos estudantes por toda universidade. Para isso contamos com a intervenção de todo indivíduo insatisfeito com a lógica mercadológica e autoritária da universidade pública brasileira. A universidade pública também é sua, é nossa, ocupe-a, transforme-a, dê cara de povo a esse espaço que vêm se transformando em empresa.
O movimento OKUPA UFG agora continua como um coletivo autônomo e aberto, com reuniões periódicas a serem divulgadas, para planejamento de ações de intervenção. Acreditamos que, com o fim do acampamento, teremos mais tempo e liberdade para articularmos novos contatos com estudantes, professores, funcionários; movimentos sociais de dentro e fora da universidade; e com a comunidade em geral, a principal mantenedora da universidade pública, e não as fundações privadas de financiamento para as quais toda a universidade está voltada a atender os interesses. Um exemplo desse direcionamento é o CONPEEX, único evento em que, atualmente, os estudantes têm espaço para apresentar suas pesquisas e produções. Um evento em que as fundações privadas vêm avaliar se o dinheiro aqui investido está sendo bem aplicado e se tem atingido os interesses DELES.
Agora é hora de organizarmos novas ações, já que com a ocupação estávamos perdendo muito tempo apenas mantendo o acampamento diante do boicote feito pela universidade. O fim da ocupação do prédio da FACOMB não significa o fim da adoção da estratégia de ocupação. Novas ocupações podem surgir em diferentes locais da universidade quando isso se mostrar novamente uma estratégia válida e produtiva. Saudamos a todos que fizeram dessa ocupação uma realidade e construíram essa luta, especialmente os companheiros do Faz Arte que muito fazem por fazer a Universidade cumprir a sua vocação de espaço público trazendo-o pra dentro desse espaço.
Se um espaço de produção livre e autônoma é negado aos estudantes, que estes façam de TODA a universidade o seu espaço! Nossas atividades não param, se expandem!
OKUPA UFG