Na noite de 9 de Maio de 1976, estava ainda fresca entre os portugueses a memória da revolução e da nossa derrota, ele cruzou-se junto à Cervejaria Trindade com um jovem, mais jovem do que ele, lívido, aos bordos, quase chorando, sozinho, que gritava: «Mataram-na. Mataram a Ulrike Meinhof». Como Verlaine perguntou a respeito do patinador, que será feito dele? Passa Palavra
Os anos 1970, que uma imprensa asséptica e/ou subserviente designaria como “anos de chumbo”, exuberaram fauna & flora com originais espécimes. Um deles, bipolarizado no dilema guerrilheiro x hippie, foi então contemplado com a alcunha de Comandante Patchuli.
Ulisses,
Patchouli, o perfume que marcou, mais para mal do que para bem, uma geração e uma cultura, fez-nos de imediato recordar Chico Fininho, com «patchuli, borbulhas e brilhantina», extraordinário personagem criado por Rui Veloso sobre uma letra de Carlos Tê. Pode-se ouvir aqui e seguir o poema ao mesmo tempo
http://www.youtube.com/watch?v=8o_shCK8ywI
embora tenha tanta gíria e lusitanismos que provavelmente será opaco para um brasileiro.
O álbum que inclui Chico Fininho saiu em 1980, o mesmo ano em que apareceu nos cinemas Kilas, O Mau da Fita, realizado, ou dirigido, por Fonseca e Costa, cabendo o papel de Kilas a Mário Viegas, grande actor a cujo fantasma pedimos há pouco emprestado o título de um artigo. Chico Fininho e Kilas foram as obras que primeiro entenderam o novo submundo criado em Portugal com a derrota do processo revolucionário de 1974-1975, ou melhor, com a sua dissolução. Tudo isto a propósito de patchouli.
Então, temos que descontado o guerrilheiro ou a porção comandante daquele que se julgava mais fotogênico do que Guevara (rsrsrs), Chico Fininho e Comandante Patchuli eram almas gêmeas. Ou pior: xifópagas!
Em tempo: assisti ao vídeo. É ótima a composição musical & farsesca do personagem. Conhecendo algo da literatura e da história de Portugal, não me foram tão opacos nem tive qualquer problema com as gírias e os lusitanismos