Ouvimos muito xingamento, mas apesar disso ouvimos muitas coisas boas e percebemos uma reviravolta na ETESP, que a partir de nosso surgimento passou a falar mais sobre machismo, sobre feminismo, sobre opressõesColetivo “Você sabe que é verdade” entrevistado por Passa Palavra

Passa Palavra: Em qual contexto surgiu o coletivo? O que motivou a organização de vocês?

Coletivo: O coletivo é formado principalmente por alunos e ex-alunos da ETESP (Escola Técnica do Estado de São Paulo), onde fizemos ou estamos fazendo o ensino médio. Lá, vemos várias atitudes de machismo, homofobia, entre outras tantas, que ficam encobertas pelos que praticam a ação com o pretexto de “piadinha”. Vimos inclusive, no ano passado, situações de reprimenda por parte da escola a casais homossexuais, que se beijavam tal como casais heterossexuais, e estes não foram incomodados. Há duas semanas houve uma discussão na internet sobre um evento da escola organizado pelos alunos, onde, no decorrer da conversa, surgiram várias agressões verbais dirigidas às mulheres e ofensas pessoais. Mesmo quando uma das participantes alegou que se sentia agredida pelos comentários, os agressores não cessaram. A partir daí os comentários prosseguiram e, como sozinhas não poderíamos fazer nada, sentimos necessidade de nos unirmos.

PP: Como se dá a atuação do coletivo? Quais ações já foram feitas?

C: O coletivo é bastante recente – surgiu no comecinho de novembro. Por isso, nossa atuação ainda está restrita a somente dois eixos: o facebook, onde divulgamos materiais e atividades, e a ETESP, onde fazemos atividades independentes, sem vínculo algum à coordenação escolar. Nossa primeira ação foi a colagem de cartazes, onde denunciamos, com prints [imagens gravadas da tela/ecrã de um computador] de conversas no facebook, o machismo daqueles que dividiam a sala de aula conosco e nos deixavam profundamente incomodadas. Queríamos, com isso, mostrar a todos o que cada menino disse, como forma de responsabilização. No mesmo dia, distribuímos panfletos para todos os alunos do Ensino Médio, explicando o porquê de termos nos reunido e formado a organização que temos hoje. Só nesse mês, também realizamos duas rodas de discussão, após as aulas, com a temática da opressão: a primeira era sobre feminismo e a segunda sobre racismo. Nesse link é possível ver um dos cartazes e, nesse, o nosso panfleto inicial.

PP: Como se organiza o coletivo? O que é discutido? Quem pode participar?

C: Internamente, nossa organização é horizontal e cada decisão é consensual. Porém, o grupo é mais organizativo, de forma a não voltar-se somente para si, mas a pensar atividades de debate e problematização dos assuntos para todos os interessados. A participação é mista e funciona de um jeito parcialmente aberto. Isso porque não tem um número fixo de participantes, ou seja: está apto a novos integrantes, mas a entrada de novos participantes necessita de uma aprovação prévia por parte de todos os integrantes. Avaliamos que são assuntos bem delicados de se tratar internamente e, por isso, ninguém pode se sentir desconfortável ou inibido durante a construção interna do coletivo.

PP: Como foi a reação dos alunos? E do grêmio, dos professores e da direção da escola?

C: À ação dos cartazes, que foi a que mais mexeu com a escola, percebemos diferentes reações. Teve quem discordasse da exposição dos agressores nos cartazes, bem como vimos apoio à denúncia, principalmente por parte das meninas. Em nossa página de perguntas e respostas, recebemos várias mensagens de meninas dizendo que se sentiam mais protegidas com a nossa presença na escola, assim como também recebemos comentários negativos e, na maioria das vezes, preconceituosos ao falar de feminismo e homossexualidade. A direção se mostrou contra nossa atitude de colocar os cartazes sem permissão, demonstrando pouco caso em relação à luta, como se fosse mais importante permitir a exposição de um cartaz do que culpabilizar e trabalhar a situação dos agressores. Pelo menos, deixou clara sua desaprovação pelo que os meninos fizeram. Foram pouquíssimos os professores que opinaram sobre o caso, bem como a Associação de Pais e Mestres, que não falou nada a respeito.

PP: Como vocês avaliam a atuação do coletivo até aqui? Existem mais ações planejadas?

C: Vemos tudo de uma forma muito positiva. Construímos um espaço novo em muito pouco tempo, e estamos engajadxs para aumentar nossas atividades, melhorá-las e construir algo cada vez mais sólido. Internamente, temos mais segurança, pois o número de pessoas participantes em nosso grupo passa dos trinta: sabemos assim que temos alguma força e apoio. Ouvimos muito xingamento até agora, mas apesar disso ouvimos muitas coisas boas e pudemos perceber uma reviravolta na ETESP, que a partir de nosso surgimento passou a falar muito mais sobre machismo, sobre feminismo, sobre opressões. O período de recesso servirá para nos focarmos mais em nossas dinâmicas, planejar novas ações, torná-las possíveis. Achamos que estamos mesmo é crescendo.

PP: Há contatos com alunos de outras escolas?

C: Por enquanto nossa área de atuação é a ETESP, com a participação de alunos, ex-alunos e pessoas próximas. Porém, o coletivo ainda é bastante novo e pretendemos com o tempo produzir mais material para divulgação e informação. Além disso, e principalmente, pretendemos expandir a ação para outras escolas e outros espaços, pois temos certeza de que os tipos de casos já citados não acontecem somente na ETESP.

Queremos aproveitar e deixar aqui todas as nossas formas de contato, para quem se interessar:
http://www.facebook.com/coletivovocesabequeeverdade
http://ask.fm/vocesabequeeverdade
[email protected]

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