Por Passa Palavra

 

A semana começou bastante intensa no interior do prédio do Incra, ocupado pelos assentados do Milton Santos, militantes de movimentos sociais e apoiadores desde terça-feira, dia 15. Até o momento, nenhuma representação oficial do governo federal entrou em contato com as famílias para apresentar qualquer proposta que sinalize a boa vontade de assinar o decreto de desapropriação por interesse social.

Desde que chegaram ao prédio, os assentados sabiam que existia uma última tentativa, da parte do INSS, de embargar a liminar de reintegração de posse. Tem sido a este recurso, ainda por ser avaliado, que  o governo federal recorre para justificar o porquê de não ter assinado ainda o decreto que não só evitaria que as 68 famílias sejam despejadas, mas traria a tranquilidade necessária para que deem continuidade às suas atividades produtivas no terreno. Cogitava-se que esta resposta sairia ainda na semana passada; o que não ocorreu até o presente dia. Pressupondo o resultado que teria este recurso, é de pensar que para o governo federal talvez não fosse mesmo interessante que também ele se tivesse esgotado – não neste momento em que as famílias encontram-se mobilizadas e articulando apoios no prédio do Incra em São Paulo.

Após a reunião que os assentados tiveram com os representantes do Incra, na última quinta-feira, dia 17, também passou-se a falar de uma conversa que Wellington Diniz e representantes da Advocacia Geral da União teriam tido com a juíza que expediu a liminar de despejo. Cogitava-se a possibilidade de a juíza de Piracicaba “recolher” o documento e, assim, estender indefinidamente a situação das famílias. Esta atitude da juíza, veja bem, não anularia a liminar, apenas a suspenderia, mas esta poderia voltar a valer conforme a sua vontade. Ainda que fosse positiva, estaria longe de resolver o problema dos assentados, aliás, o prolongaria na medida que torna um recurso que pode ou não ser usado de acordo com a situação política. De todo modo, era esperada alguma resposta nesta segunda-feira. Durante a plenária de hoje, o advogado do MST explicou que a expectativa deveria ser jogada para terça-feira, dia 22.

Portanto, do ponto de vista dos assentados, o quadro permanece inalterado: não há qualquer sinalização para o decreto e continua correndo o prazo para que as famílias deixem o terreno.

Como não poderia ser diferente, à medida que a data para uma possível ação de reintegração de posse se aproxima, esquenta o clima entre os assentados. O sentimento geral é o de que não há como recuar, uma vez que tudo o que têm, não apenas os 7 anos de trabalho, mas toda vida de lutas e dificuldades, está consolidado no assentamento. E no cotidiano da ocupação essa energia tem sido aproveitada para discutir os próximos passos da jornada de lutas que se iniciou na semana passada e, conjuntamente, sendo transformada em planos de ação.

Assim, avalia-se a necessidade de permanecer ocupando o Incra, apesar de haver a possibilidade de amanhã ser expedida também uma liminar de reintegração de posse do prédio na região central de São Paulo.

Nesta terça-feira, espera-se a chegada de mais um ônibus de assentados que virão de Americana. Decidiu-se também a formação de uma delegação de assentados e apoiadores que irá compor um ato em memória de um ano do massacre do Pinheirinho, que acontecerá em São José dos Campos-SP.

Rima, contação de história, análise política e conspiração

“Aqui eu vi rima, contação de história, análise política e conspiração”, disse o filósofo e professor Paulo Arantes, já na parte final da sua fala na atividade que fechou o dia da ocupação. Junto a ele, conversou com os assentados e apoiadores a filósofa e professora Isabel Loureiro. Abrindo a noite do auditório, porém, estiveram Paulo e Ana, poetas do Sarau Perifatividade, que desenvolve suas ações no Fundão do Ipiranga, zona sul da capital, e Chellmí, poeta do Sarau da Brasa, este da Brasilândia, zona norte de São Paulo. Vários outros grupos e coletivos que ainda não tinham comparecido à ocupação passaram por lá hoje para se solidarizar e participar da atividade.

Esta interação inusitada levantou os presente, que participaram da atividade recitando seus poemas e, em seguida, participando do debate provocado pelos professores. Poetas e filósofos saudaram a luta dos assentados, contaram um pouco seus pontos de vista e também ouviram bastante. Seja no sarau de Chellmí, Paulo e Ana ou na aula de Arantes e Loureiro uma concordância: a necessidade da luta. Nas palavras de Arantes, que finalizou a aula-sarau, “tomara que tenha chegado a hora de começar a parar de perder”.

 

 

 

 

 

1 COMENTÁRIO

  1. O que consola é que, se ainda não tiver chegado a hora de parar de perder, ao menos os responsáveis estarão AMPLAMENTE IDENTIFICADOS E DENUNCIADOS!

    Onde esconder a cara, companheiros(as) honestos(as) do PT?…

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