Casa da Achada: Amigos de Mário Dionísio — Francisco Castro Rodrigues

FRANCISCO CASTRO RODRIGUES Amigos de Mário Dionísio

Sábado, 2 de Fevereiro, 16h

É a 9ª sessão de «Amigos de Mário Dionísio», e a 2ª com a participação do próprio amigo, Francisco Castro Rodrigues, que será entrevistado por Eduarda Dionísio e Vítor Silva Tavares.

Castro Rodrigues, arquitecto nascido em Lisboa em 1920. Pertenceu ao MUD Juvenil. Esteve preso no Aljube. Viveu no Lubito mais de 30 anos, antes e depois da Independência de Angola, onde está grande parte da sua obra.

Autor do livro Um cesto de cerejas, editado pela Casa da Achada em 2009, em que conta a sua longa vida, de onde retirámos estes excertos:

«Agora há doutoramentos em Arquitectura. Tenho um colega que assinou um trabalho assim: Professor Doutor Arquitecto Fulano de tal… Eu cá tenho muita honra em ser arquitecto só. Já cega para o trabalhinho que tenho…»

«Quando eu ia visitá-lo [Mário Dionísio], ele costumava mostrar-me as suas últimas obras, que tinha lá no seu atelier. E eu, ao olhar para este quadro: “Olha, as Azenhas do Mar!” E ele: “Azenhas do mar? Não tem nada a ver com as Azenhas do Mar.” E até deve ter ficado melindrado, “então este tipo não sabe que eu não sou naturalista nem gostaria de o ter sido?” Chamei a Lourdes: “Anda cá ver!” E ela: “Olha as Azenhas do Mar!” Ele ficou um bocado atrapalhado. Mais tarde telefona-me: “Gostava de ir aí ter consigo. Queria oferecer-lhe um quadro.” “Então porquê?” “Esteve aqui há uns tempos o Pomar e, ao ver os quadros, olha para um e diz: ‘Olha, as Azenhas do Mar…’ Então vou-lhe oferecer esse quadro.”»

«E comecei assim: “Eu nasci em 1947; quando entrei para os cárceres da PIDE, onde contactei com uma série de rapaziada, o Mário Soares, aquela malta toda…” Nascer, nascer, eu nasci “por favor”… Nasci foi em 47, quando estive no Aljube e em Caxias.»

«Há quem diga: “Se é para pobre, o terreno é mais pequenino…” Eu digo: “Não, não. O terreno é o que for essencial para uma família, quer ela seja pobre ou rica.” Se ela quer comprar um terreno ao lado, que o faça, se o regulamento da câmara permitir. Agora, no tecido da cidade que o urbanista faz, não tem de estar preocupado com a riqueza ou não riqueza de cada um. A célula inicial é “uma casa, uma família” – ou um homem. Aqui é família.»

«Lá em Angola é que nunca [pus o chapéu colonial]. O sol é para todos e é a fonte da vida, de acordo com o meu pai… Também fui controntado, logo à chegada, com outras realidades. Por exemplo: ao ouvir insólitos “ais”, ritmados e pungentes cuja origem descobri partirem da esquadra da polícia, a cívica, onde um agente, beata ao canto da boca, displicente e metodicamente assentava fortes palmatoadas na mão empolada de um… “indígena”. As donas de casa, para se “distraírem”, mandavam à esquadra o “criado” com um recado para lhe darem palmatoadas… Logo ali virei “angolano”.»

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