Salvador, 2003. Levante popular em curso. À porta de uma grande assembleia, um grupinho de anarquistas conversa rapidamente sobre sua estratégia para impedir que os “donos do microfone” abafassem as reivindicações dos incontroláveis em luta. Num átimo, são interrompidos por um conhecido militante petista, integrante de várias gestões do Diretório Central dos Estudantes de uma grande universidade pública, a esbravejar. “Então o que vocês querem é espalhar a revolta, chamar mais gente pra rua e tentar criar conselhos populares, não é? A gente discorda”. Deu-nos as costas e rumou para o palco. Nem de longe sonhavam com tanto, um e outros. Mas nas lutas o temor dos burocratas é tanto que mesmo nas circunstâncias mais improváveis utopias militantes parecem ressuscitar em cada esquina. Passa Palavra
Exagero (“levante popular”) e contrassenso (“reivindicações dos incontroláveis”) à parte, eis um exemplo de como as vanguardas autoproclamadas – e, portanto, substituístas – atuam no sentido de canalizar, enquadrar e aniquilar a irrupção da espontaneidade nos movimentos sociais.