Jornalistas da Caros Amigos entrevistados por Passa Palavra

 

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Caros Amigos chantageia demitidos: só receberão rescisão se declararem nunca terem sido funcionários da empresa.
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Passa Palavra: Por que você começou a trabalhar na Caros Amigos?

Gabriela Moncau: Comecei a trabalhar na Caros Amigos em novembro de 2009. Na época eu estava no Le Monde Diplomatique Brasil e recebi o convite do Hamilton Octavio de Souza, editor-chefe da Caros. A proposta para mim foi irrecusável por uma série de motivos. Não só o salário era melhor e a função de repórter me era muito mais atraente (no Diplô eu não tinha a oportunidade de publicar textos meus), mas, principalmente, sempre tive vontade de trabalhar na Revista Caros Amigos, uma das poucas publicações nacionais de esquerda, em um contexto de absurda concentração dos meios de comunicação.

Jamais considerei minha atuação na Caros Amigos como uma militância, mas como um trabalho. Um trabalho que, apesar de muitas dificuldades, me permitia escrever o que acredito (raridade no mercado de trabalho jornalístico), expressar minhas convicções da urgência de transformações do mundo e contribuir com fissuras no muro da mídia hegemônica e conservadora.

Minha função era de repórter e durante todo o tempo que estive lá eu escrevi para o site, para as edições mensais e para as edições especiais da Revista Caros Amigos. Apesar de não haver registro em carteira, minha jornada de trabalho era fixa, de cinco horas diárias.

Aproveito o espaço, caso julguem ser interessante publicar, para refletir sobre algumas críticas que recebemos durante esse processo. Apesar de um imenso número de mensagens de apoio e solidariedade, alguns nos disseram que tivemos uma atitude equivocada ao expor, inclusive para setores da direita, as fragilidades da Caros Amigos. Em primeiro lugar, acredito que essa crítica não está verdadeiramente preocupada com a reação de setores conservadores, mas justamente com a reação de setores progressistas. Não é esquizofrênico que não se queira que as contradições de uma revista de esquerda sejam debatidas abertamente por conta da reação que seu público de esquerda terá? Isso não indica que há algo de errado aí? Acredito que a esquerda precisa discutir abertamente suas críticas e contradições. Quantas questões em toda a história das lutas da humanidade foram abafadas pelo “silêncio militante”? Isso nos impede de avançar, mantém as contradições intactas.

A Caros Amigos não é apenas essa equipe e a direção que a demitiu. É uma revista com uma história admirável, construída com muito trabalho, esperança e luta de centenas de jornalistas engajados com algum tipo de transformação social. Fico feliz em ver os debates que essa situação impulsionou, muitos estavam sedentos para discutir abertamente não só a contraditória situação da Caros Amigos como a dos veículos de esquerda no Brasil, a reprodução de lógicas conservadoras dentro desses ambientes, as precárias condições a que todos trabalhadores são submetidos, a luta pela democratização da comunicação, a dependência de veículos contra-hegemônicos relativamente ao Estado e/ou empresas, em suma, sobre desafios importantíssimos na luta por um mundo melhor. Acho que é disso que se trata. Ao fazermos a crítica pública estamos fazendo o jogo da direita? Já ouvi isso em algum lugar…

Como fechar os olhos a essa dicotomia absurda? Nos nossos textos o discurso de esquerda, as denúncias, a contestação. Atravessando as palavras estampadas nas páginas da revista, passando pelas mãos que as escrevem e chegando na estrutura interna da publicação, a precariedade das condições de trabalho, a ausência de democracia interna, o desrespeito aos direitos mínimos trabalhistas. Devemos ser coniventes com isso para que uma revista — com um emocionante projeto político de esquerda sim — continue existindo dessa forma? Devemos criticar a sonegação fiscal, as condições trabalhistas e as condições de trabalho nas grandes empresas e nos manter calados justamente em projetos que deveriam apontar para novas perspectivas de relações?

Eliane Parmezani: Fui chamada a integrar a equipe de reportagem da Caros Amigos após ter meu currículo selecionado pelo editor-chefe, Hamilton Octavio de Souza, e ter sido aprovada em uma entrevista com ele. Durante a entrevista, o Hamilton deixou bastante claro que o veículo precisava de alguém para produzir boas reportagens para a edição mensal, assim como para os especiais e também para contribuir com o site. Entrei na categoria de Repórter III, pelo fato de ter, na época, mais de seis anos de formada e por ter passado por diversas publicações. A Caros, contudo, foi meu primeiro trabalho na linha da esquerda, alternativa e contra-hegemômica, a qual, em pouquíssimo tempo, aprendi a admirar e a me sentir “jornalista de verdade”, já que tinha total liberdade e independência para tratar de temas que incomodavam os altos escalões do poder e o grande empresariado. Também nunca havia vivenciado um companheirismo e um espírito de coletividade tão forte entre os colegas de redação como na Caros. Experiências riquíssimas e inesquecíveis. Contudo, durante este um ano e dez dias em que fui funcionária da editora Casa Amarela, apesar de ter de cumprir com um expediente oficial de cinco horas diárias (das 14 horas às 19 horas), de segunda a sexta-feira, praticamente todos os dias iniciava minha jornada pela manhã, em casa, e seguia, não raras vezes, trabalhando nos finais de semana e feriados, ganhando somente o salário bruto, sem qualquer benefício como vale-transporte ou refeição, nem o recolhimento de INSS e FGTS, já que não tinha registro em carteira.

Alexandre Bazzan: O porquê de começar a trabalhar na Caros Amigos acho que é o mesmo porquê de qualquer trabalhador que começa a trabalhar em qualquer emprego: pagar as contas, evoluir na profissão, aprender com os colegas de trabalho. As circunstâncias talvez sejam mais específicas. Um amigo da PUC-SP que estava trabalhando e iria sair me indicou para a vaga. O editor-chefe, Hamilton Octavio de Souza, havia sido meu professor na faculdade e conversou comigo, explicou quais seriam minhas funções: basicamente mandar e-mails e atualizar as redes sociais da revista. Fui contratado inicialmente para uma jornada de quatro horas diárias, mas como, com frequência, fazia matérias para o site, e às vezes para a revista, voluntariamente, logo fui promovido a repórter do site. Passei a ter carga horária de cinco horas, como o resto da redação. Tive um aumento salarial e passei a acumular as funções que já tinha nas redes sociais, mais a de fazer matérias para o site.

Na semana antes da demissão coletiva eu havia recebido mais um reajuste por estar com o salário defasado. Esse aumento nos fez crer que a revista estava melhorando e apontando para uma melhor relação trabalhista, mas fomos surpreendidos menos de uma semana depois com a decisão de corte de 50% da redação.

Cecília Luedemann: Eu comecei a trabalhar na Caros Amigos, num pedido de urgência, porque a revisora havia encontrado uma vaga para trabalho em condições melhores e deixado a revista. Eu conhecia o Hamilton Octavio de Souza, editor-chefe, da oposição sindical, Sindicato É Prá Lutar, de São Paulo, e ele perguntou se eu aceitava trabalhar recebendo por hora, no fechamento da redação. Eu aceitei o convite porque compreendi a importância de contribuir para um novo projeto editorial da revista, crítica, de esquerda, com mais reportagens no lugar de apenas artigos. Começamos assim, mas como eram muitas horas para concluir o fechamento, foi proposto receber uma quantia fixa por todo o trabalho.

Foi em 2010 e naquele ano estavam na redação a editora executiva da revista, Tatiana Merlino, que conheci do Brasil de Fato, a editora executiva do site, Débora Prado, os repórteres Otávio Nagoya, Gabriela Moncau, Bárbara Mengardo e Lucia Rodrigues, que participava no Sindicato é Prá Lutar, e os webdesigners Lucia Tavares (Lux), e Henrique Koblitz.  Mais tarde, saíram: Bárbara, Lúcia Rodrigues, Koblitz e  Lúcia Tavares, entraram os repórteres Caio Zinet e Eliane Parmezani, os webdesigners Ricardo Palamarthuck e Gilberto de Breyne, e o estagiário para o site, Stéfano. Com a entrada de Aray Nabuco, Débora Prado passou a ser editora executiva das edições especiais. A Tatiana saiu apenas no ano passado, mantendo-se como colaboradora.

Além da revisão, eu também fiz transcrições das grandes entrevistas, com o pagamento feito por fora. Após um curto período de trabalho de revisão por horas de trabalho, então fui contratada para a função de secretária de redação, com a responsabilidade de cuidar da produção editorial das revistas mensais e especiais, e também para fazer a revisão de todas as publicações da empresa, com horário fixo diário (cinco horas no mínimo) e salário mensal.

Aos poucos, fui me envolvendo com o coletivo da redação, sempre muito unido, com a linha editorial, de grandes reportagens, entrevistas e artigos críticos. Além disso, todos estávamos envolvidos com a participação em lutas sindicais, movimentos sociais, de esquerda. O entusiasmo era grande e todos nos ajudávamos no que era necessário. Por isso trabalhávamos coletivamente, seja para a revista, para as edições e projetos especiais, seja para o site. Do meu ponto de vista, com experiência de militância desde os 17 anos na educação popular, para que houvesse uma sustentabilidade do projeto editorial que avançava com grandes reportagens, era preciso um trabalho coletivo, pois a redação era muito enxuta. Em outra linha editorial, com a presença de apenas articulistas, a redação poderia ser menor, sem risco de perder na qualidade. Em alguns momentos, participei das grandes entrevistas, fiz algumas reportagens e crônicas para a revista e o site, mas na maior parte do tempo continuei no trabalho de revisão, menos de transcrição, na pesquisa e produção da revista e das edições especiais, quando passei a ser secretária de redação.

No período em que trabalhei, de 2010 a 2013, eu vi as conquistas do coletivo que tinha piso, jornada de cinco horas, pagamento de 13º mês, férias e salário sem atraso. Mas é claro que, com uma redação enxuta, tínhamos que trabalhar em casa, com reportagens, pesquisas, além da jornada normal, além das viagens em que se trabalhava muito mais para fazer as reportagens para o site ou para a revista, mas se recebia apenas as passagens e o gasto básico com alimentação, etc. Apesar do nosso plano de carreira, fomos acumulando funções, com a saída de alguns colegas, ou mesmo na situação de férias, em nome do projeto editorial.

Caio Zinet: Desde que entrei na universidade sou leitor e admirador da Caros Amigos, entendo a revista como uma dos poucos espaços livres na imprensa brasileira. De um lado, o jornalismo da grande mídia comprometido com medidas liberalizantes e autoritárias que beneficiam um pequeno grupo. Do outro lado, parte da mídia alternativa e contra-hegemônica, importante para denunciar uma série de desrespeitos aos Direitos Humanos, mas em certa medida amortizadas por um governo petistas que em grande medida segue a cartilha econômica legada pelo tucanato que o antecedeu. A Caros Amigos e algumas outras publicações caminhavam no sentido contrário desses dois movimentos, fincando seu pé na crítica e na tentativa de dar voz àqueles e àquelas que apontam possíveis caminhos diferentes. Por isso decidi trabalhar na revista, por saber de colegas da liberdade de exercer um jornalismo crítico, comprometido, sobretudo sensível e esperançoso de que é possível transformar o mundo.

PP: Como funciona a gestão da Caros Amigos? Esta “virada empresarial” no estilo de gestão é recente? Havia antes alguma forma coletiva de gestão do funcionamento da revista ou ela seguia os moldes tradicionais da gestão de empresas editoriais?

Jornalistas: Não podemos analisar a gestão da empresa na qual a revista e o site eram produzidos antes da nossa entrada, pois todos os onze grevistas demitidos entraram na revista depois da morte do Serjão, a partir de 2009. Talvez os jornalistas que trabalharam naquele período possam dar informações sobre essa questão.

A respeito do período em que trabalhamos lá, é possível dizer que havia uma dicotomia dentro da revista. Por um lado, nunca houve qualquer ilusão de que a Caros Amigos funcionasse com participação coletiva. É uma empresa, nos moldes tradicionais de empresas editoriais, com dono, patrão e hierarquia. Por outro lado, e no seio dessa estrutura maior, nós da redação da revista trabalhávamos com uma perspectiva mais coletiva de organização.

Todos tinham sua função específica e os salários também não eram os mesmos, mas nos reuníamos constantemente e nossas decisões eram tomadas de forma horizontal. Desde as reuniões de pauta, por exemplo, nas quais cada um podia propor o assunto que quisesse (e em quase todas as ocasiões o repórter ficava incumbido de escrever sobre o tema por ele sugerido), até os encontros feitos fora do expediente, com o objetivo de coletivamente pensarmos táticas para melhorar a revista e nossas condições de trabalho. Não reivindicávamos ao Wagner Nabuco nada extraordinário ou revolucionário: ser registrado, ter as garantias da CLT, do INSS, pagamento do 13º mês, férias, jornada de trabalho, piso salarial, FGTS, plano de carreira.

No início, as negociações eram feitas diretamente entre o Hamilton (editor da revista, que levava nossas reivindicações) e o Wagner Nabuco (diretor-geral e dono da revista). Desde o final de 2011, mais organizados, passamos a encaminhar cartas ao diretor-geral com as nossas reivindicações e as discutíamos em reuniões entre ele e comissões rotatórias da redação. Nunca conquistamos tudo o que pedíamos nem chegamos perto do registro em carteira, mas vagarosamente avançávamos em alguns pontos e o diálogo era saudável. No dia 4 de março, quando fomos informados do anúncio do corte de 50%, perguntamos: “Isso está aberto para conversa? Negociação?” Ele respondeu: “Isso é um comunicado”.

Durante a semana que passou, em um clima praticamente insuportável para trabalhar, o Hamilton e outras pessoas influentes na revista tentaram convencê-lo a recuar. Ele se manteve irredutível. Entramos em greve e tornamos isso público, não diz respeito apenas a nós. O Wagner nos escreveu no domingo chamando uma reunião para segunda. Comparecemos prontamente. Conversamos? Não. Fomos demitidos.

PP: Como era a relação com os freelancers e terceirizados na Caros Amigos? Vocês conseguiram algum avanço trabalhista no período de trabalho na revista? Que dificuldades foram encontradas?

Jornalistas: A situação do freelancer já é uma precarização do trabalho do jornalista. A Caros Amigos pagava e ainda paga a reportagem, a ilustração ou a fotografia bem abaixo do preço de tabela do sindicato dos jornalistas. Mas, para piorar, pagava atrasado, em parcelas. Era muito difícil ver os colegas, que fizeram o trabalho e entregaram no prazo, passando meses com a pendência da remuneração. Recebíamos mensagens, telefonemas, passávamos para a direção e nada mudava. O pagamento em dia dos freelancers estava sempre presente nas listas de reivindicações que entregávamos à direção.

PP: Há alguma pressão sobre a Caros Amigos feita por anunciantes em favor de uma determinada linha editorial? E os leitores tinham algum canal de colaboração com a revista?

Jornalistas: A revista tinha poucos anunciantes, como toda publicação de esquerda, mas o editor nunca aceitou pressão de nenhum grupo econômico ou partidário. Fomos ganhando a adesão dos trabalhadores, dos intelectuais de esquerda, ganhamos leitores, apoiadores, recebíamos cartas, e-mails, telefonemas. Recebíamos muitas denúncias que vinham de todo o Brasil. Lamentavelmente, com uma redação de apenas onze trabalhadores, muitas pautas foram descartadas, muitas denúncias deixaram de ser investigadas. Nesse período aumentou o número de assinantes, de leitores e internautas, que nos acompanhavam nas edições mensais e especiais e no site.

PP: Há alguma outra divergência de fundo (pauta editorial, entraves ao debate de opiniões, etc.) que vocês pensam estar na origem de suas demissões?

Jornalistas: Não podemos afirmar nada com segurança. Apenas podemos afirmar que até o final do ano as perspectivas eram positivas: os leitores tinham também aderido às edições especiais, como a da Comissão da Verdade, que ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de 2012, com assinaturas desse tipo de publicação. Concluímos um projeto especial, quatro encartes sobre Cuba Sem Bloqueio, que acompanhavam as edições mensais. Das nossas reivindicações, conseguimos que dois colegas recebessem aumento, porque estavam abaixo do piso. E diante das nossas reivindicações de aumento de salário, fora o do cálculo de 6% da inflação, o diretor-geral pediu três meses para avaliar a situação do mercado editorial. Quase duas semanas depois ele nos comunicou que haveria o corte de 50% da redação ou dos salários, porque tinha uma dívidas em impostos acumuladas desde 2000.

PP: Vocês vêem alguma perspectiva de assumir a revista em autogestão?

Jornalistas: Nunca houve a perspectiva de autogestão, uma vez que o diretor-geral sempre caracterizou a editora como empresa privada. A situação não se caracteriza nem como a do processo de autogestão da Flaskô, de Fábricas Ocupadas, em que os trabalhadores assumiram a fábrica abandonada pelo patrão. A editora Casa Amarela e Caros Amigos, da revista Caros Amigos, não está num processo de falência, está em funcionamento sob a direção de um único proprietário que administra as dívidas, mas continua recebendo anúncios, projetos, vendas em banca e assinaturas. Seria um sonho que a Caros Amigos, com a linda trajetória de luta que tem, fosse tomada pelos trabalhadores e mantida em autogestão.

A greve foi uma saída para a crise criada pelo diretor-geral. Aguardávamos uma outra proposta de solução. Não a demissão coletiva. Outra questão importante: não cabe a nós decidir o futuro da revista, uma vez que fomos demitidos. Éramos uma redação organizada para a publicação de um projeto editorial da esquerda crítica, não os donos da empresa. Por isso discordamos daqueles que nos apontam como responsáveis por um “possível fechamento da revista”. Ela continua funcionando, não mais com a mesma linha editorial, mas à venda no mercado editorial, como qualquer publicação.

Sobre a greve da Caros Amigos publicamos

um artigo da autoria de Júlio Delmanto,
um artigo da autoria do coletivo Passa Palavra,
um desenho de Toupeira
e dois Flagrantes Delitos do Passa Palavra, este e este.

3 COMENTÁRIOS

  1. É interessante observar algumas contradições que acompanham a esquerda, e que são elementos sintomáticos para demonstrar os rumos que estamos tomando…
    Fato similar a este é a recorrência de problemas nas relações trabalhistas dos sindicatos com as pessoas contratadas por eles.

  2. E todos tinham liberdade para decidir a maneira de executar as próprias funções, com isto era possível fazê-los abdicar dos próprios direitos trabalhistas. Até que um dia tudo se tornou insuportável e o “dono” da revista resolveu a situação assim: mandou todos embora.

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