Cubatão, 25 de março de 2013.

Senhora Deputada Telma de Souza,

Tenho de vossa excelência a lembrança de duas frases e dois momentos. Em 1989, iniciado no movimento estudantil na Escola Técnica Federal de Cubatão, por absoluto empobrecimento político de minha cidade, estive presente à posse de vossa excelência como prefeita de Santos.

Recordo como me emocionei quando ouvi V.Excia. anunciar para mim uma nova era na Baixada afirmando que a sede da Prefeitura de Santos era, daquele momento em diante, “casa do povo. A casa de todos”. Eu estava lá e a emoção daquele momento marcou profundamente minha opção política.

Acabo de ver o vídeo público da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa. Nele, com dever que V.Excia. possui à fidelidade com vosso partido, a Senhora tenta obstruir o convite à vossa colega Márcia Rosa, Prefeita de Cubatão/SP pelo PT, para prestar esclarecimentos sobre a perseguição política sórdida que a mesma está engendrando contra 12 professores da Rede Municipal de Ensino.

Sou um desses 12 professores e fomos recebidos por V.Excia, como é evidente que é de vosso conhecimento e, naquela ocasião, pudemos apresentar outros fatos para o referido processo. Pudemos inclusive relatar as ações de perseguição política para além do processo administrativo.

Lembro-me de que a Senhora chorou. Lembro-me de que a Senhora debateu conosco sobre as responsabilidades do poder. Lembro-me de que a Senhora disse que a prefeita Márcia Rosa não é uma pessoa fácil de dialogar, mas que tentaria construir uma ponte para o diálogo do qual os 12 nunca abriram mão.

Deputada, o meu assombro diante de seu comportamento no vídeo público da ALESP é baseado em um princípio que nenhuma condição política pode abrir mão: a coerência.

Não nos recebesse. Recebesse e dissesse que se inteiraria do processo. Dissesse que seria fiel às orientações do Partido. Dissesse qualquer coisa que não fosse o desejo de construir ponte em margens que V.Excia. já sabia desgastadas.

Temos sido processados, tivemos nossa condição de trabalho extinta, somos diariamente difamados como vagabundos pelas redes sociais, somos perseguidos (como é de vosso conhecimento ), mas não fomos procurar V.Excia, para, tempo depois, ver que V.Excia agiu com falsidade e sem coerência. A ponte que a Senhora cita em seu depoimento totalmente sem informações, é a Ponte Preta, uma ruína que já estava condenada e interditada pela Prefeitura. Mas a verdadeira ponte que se rompe neste momento é entre a ideologia que alicerçou o Partido dos Trabalhadores e a concretização de governos arrogantes e ditatoriais e o uso, cada vez mais frequente, da baixa demagogia que era privilégio da direita. Demagogia que brota da falta de coerência em vossa atitude, em relação ao caso em debate.

Vossa Excelência, ao contrário do que diz no vídeo, SABE que não foi nenhum dos professores processados que quebrou a porta EXTERNA do gabinete público da Prefeitura Municipal de Cubatão (e não a casa particular da Senhora, ex-professora, Márcia Rosa). Portanto, V.Excia. parece ter faltado com a verdade e isso é, para muitos de nós, imperdoável.

A ponte que se rompeu é a ponte do Partido dos Trabalhadores que, na Baixada Santista está tão distante de seus ideais quanto se distancia, cada vez mais do poder que não soube administrar e por isso se transforma, em nossa região, em um fiasco das urnas.

Vosso Partido, na defesa insana de uma prefeita despreparada e tomada pelo demônio da vaidade caminha para o desterro na Baixada e atitudes como a que V.Excia assumiu (ou não assumiu) motiva esse desterro.

Traídos os ideais e distanciados dos princípios, creio que não será possível, para os professores que trabalham em Cubatão, acreditar em outros colegas professores representados pelo desejo de poder que Márcia Rosa encarna.

Finalmente, lembro-me de uma outra frase de V.Excia. Foi proclamada em uma reunião de transição, quando da posse de Márcia Rosa. Eu também estava lá, até porque participei do início do governo e dele me afastei por perceber isso tudo que aqui relato.

Disse V.Excia: “Mexeu com a Márcia, mexeu comigo”. Lamento apenas que V.Excia, tenha perdido a capacidade de compreender que na verdade, no exercício político, a frase mais apropriadamente ética seria “mexeu com injustiça, com a liberdade de expressão, mexeu com o Estado Democrático de Direito, mexeu com todos nós”.

Lamento, portanto informá-la, de que sou parte dessa história e dela não deixarei seus atores se esquecerem dela tão cedo.

Com profundo pesar

Fabio Gonçalves Ferreira

Abaixo o vídeo com o posicionamento da dep. Telma de Souza na Assembleia Legislativa de São Paulo.

2 COMENTÁRIOS

  1. É com grande tristeza que vejo toda essa situação acontecendo, principalmente por ter como enredo a educação, uma das áreas humanas mais importantes da sociedade. Com ela e por meio dela podemos construir pontes, diálogos, autonomia pessoal e profissional. Não vejo em outra profissão maior orgulho de ser do que ser professor, pois as demais, com certeza começam com ela.
    Tenho tentado me manter distante dessa situação, embora ela me afete de forma direta e indiretamente, pois a “cara” da cidade está estampada a todo momento e isso não acontece por coisas boas. Todos estão sofrendo, sendo prejudicados em todos os sentidos.
    Os profissionais da educação dessa cidade há muito tempo desempenham importantíssimo papel para que a cidade seja reconhecida como um povo forte e destemido, educado e preparado
    para enfrentar os desafios que possam surgir, como os últimos que estamos vivenciando. Estes profissionais sempre estão dispostos a contribuir, colaborar e abraçar questões que façam justiça as causas sociais.
    De qualquer forma parabenizo todos os colegas pela postura e atitudes diante desses desafios, bem como a carta enviada à Exma Deputada Telma de Souza.
    Abraços solidário.
    Guiomar

  2. Belissimo com as palavras mas, um covarde nas atitudes ! Isso é o que representa essa turma de professores que em sua maioria fazem o anti-protesto, não se organizam, não mobilizam, até a renúncia da prefeita pediram no dia, agora se fazemd e vítimas ? Eles foram fazer POLITICA e agora não desejam o mesmo ? Tem mais é que cortar !

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