Ensinaram-me que a vida é feita para subir, não para avançar em arco cercando a presa que tem valor de comida. Não um subir à maneira de Sísifo, porque Sísifo não ultrapassa obstáculos a passo cruel – antes vive os obstáculos como parte das vitórias sobre si mesmo. Ensinaram-me que os obstáculos são os outros, que o meu caminho só pode ser feito de olhos postos nos poucos que vão à frente, e que o sangue na esteira dos meus passos e dos meus silêncios é a cor natural deles, como a de um qualquer poente. A isso chamam concorrência; os capitais fracos morrem às mãos dos capitais fortes. Agora, que me meteram em casa a instabilidade e o outsourcing, que me fazem parecer com os proletários sem ser proletário, revejo tudo isso e protesto em cortejos de solidões, numa multidão de fragmentos. Não vejo horizonte para este vácuo e fico deprimido, impotente. Se estamos no meio de coisa nenhuma, porque nos chamam “classe média”? Passa Palavra

1 COMENTÁRIO

  1. DA INDIGNAÇÃO À INDIGNIDADE, SÓ MAIS UM PASSO
    Um certo efésio, dito o Obscuro, sentenciou que o caminho que sobe e o que desce são o mesmo caminho. Desmesurado, Sísifo foi punido com o eterno retorno do mesmo. Obstáculos: o inferno são os outros. Há que ter sangue nos olhos crus para ser um topdog: os capitais, inclusive o variável – fracos ou fortes – nascem e morrem, para maior glória do kkkapital. O futuro não é mais o que era. A “classe média”, ni(h)ilizada, torna-se niilista…

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