Por Passa Palavra

 

Nesta segunda-feira (dia 10 de junho), moradores e estudantes do Jardim Mirna, bairro do distrito do Grajaú, na zona sul de São Paulo, organizaram um protesto contra o aumento das passagens do transporte coletivo na porta da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Levi Carneiro.

Junto com alunos de outras escolas da localidade, o grupo aproveitou o horário da troca de turnos, por volta das 13h, para estender suas faixas e chamar palavras de ordem pela revogação do aumento da tarifa. Em seguida, os manifestantes seguiram em caminhada pela avenida Antônio Carlos B. dos Santos com cartazes e faixas e panfletaram pela região.

Um pouco antes,  ao meio-dia, um grupo de militantes do Movimento Passe Livre – SP estendeu uma enorme faixa na ponte estaiada, na Marginal Pinheiros, de onde de se podia ler: “Se a tarifa não baixar, São Paulo vai parar!”.

Simultaneamente, a bandeira do movimento era pendurada de uma das janelas da Câmara Municipal de Vereadores, no centro da cidade, como forma de pressionar os representantes do legislativo pela revogação do aumento das passagens.

O terceiro grande ato contra o aumento está marcado para acontecer nesta terça-feira, às 17h, na Praça do Ciclista, esquina das avenidas Paulista e Consolação.

7 COMENTÁRIOS

  1. Essa mobilização de ontem no Jd. Mirna foi fundamental para mostrar que:

    1) É possível se organizar mesmo fora de uma organização formal (partido, sindicato, movimento social). Qualquer um pode juntar parceiros e tocar uma luta, desde que haja compromisso e responsabilidade por parte de todos. (Vale lembrar que a ajuda de sindicatos e movimentos sociais foi de extrema importância, só o que eu quis ressaltar foi que a construção da mobilização só dependeu de nós mesmos)
    2) É possível trabalhar e se inserir numa luta. Contribuindo um pouco por dia, quando podia, conseguimos fazer nossas panfletagens e colagem de cartazes.
    3) É possível fazer uma luta sem um tostão no bolso.
    Resumindo, mostramos que não há desculpas para ficar parado.

    Quanto à pouca adesão – diria que em parte houve falhas da nossa divulgação: só panfletagens não arrastam, é preciso passar nas salas de aula, conversar diariamente com as pessoas. (Sem contar que não panfletamos direito no bairro. Muitos moradores sequer sabiam que ia ter manifestação).
    Além disso, tem um fator externo: a influência da mídia. A repercussão que teve do ato de quinta feira foi muito negativa por parte da imprensa, e sem um órgão de comunicação que pudesse fazer frente a eles e sem relações de confiança estabelecidas entre nós e a população do bairro, só restou a versão da Globo e do Estadão. Tínhamos um inimigo muito forte e não tínhamos armas para vencê-lo. A desinformação gerou medo em muita gente, o que foi decisivo para nos enfraquecer.
    Ainda assim conseguimos até a adesão de crianças: uma de 10 anos e dois de 12, que ajudaram a carregar a faixa, panfletaram e cantaram nossas palavras de ordem – sem que ninguém houvesse pedido isso a eles!
    No final, fica a lição de que a construção do poder popular é uma caminhada longa e difícil, porém não impossível.

    E a luta contra o aumento segue! Em cada rua de São Paulo se abre uma nova trincheira. De bairro em bairro, de quebrada em quebrada, nós vamos derrubar esse aumento!

  2. Emerson,

    Quanto à baixa adesão devemos ponderar o seguinte;

    -A luta contra o aumento em SP – importado de Floripa – não tem a mesma configuração sócio-espacial que aquelas de Florianópolis e da Bahia. Aqui o movimento foi puxado por militantes, com forte presença de alunos da USP e pessoas de grupos políticos. Cresceu prioritariamente contra Kassab, pois era uma forma de criar desgaste político para o mesmo. Na altura, até um alto dirigente do PT apoiou o MPL, mas com interesse eleitoreiro. O mesmo hoje é pró aumento.

    -A cidade tem 11 milhões de habitantes. Só uma parcela dessa população se desloca. O povão fica nas quebradas, nos bairros e os que vão ao centro ou fazem vastos percursos longos o fazem a trabalho e pagos pelas empresas. Para estes tanto faz o preço da passagem. Tanto é que a bronca maior é com as condições torturantes de transporte. Os autônomos pagam do bolso, mas quem é autônomo e tem que ganhar o pão de cada dia não vai parar para lutas. É capaz de vender cervejas nos atos ou máscaras do V de Vingança, isto sim.

    -Outros diriam que há o “direito à cidade”. Mas o discurso do direito à cidade só existe na boca de gente de classe média que mora no centro. O povão quer USP em Perus, cinema no Grajaú, Fatec em Parelheiros. Não quer viajar 4 horas – ida e volta – ou mais para ver um filme ou ir no hospital.

    -Há também o fato de que a generalidade das quebradas está ausente de grupos de luta impulsionadores e educadores. Assim, a população fica ausente de experiências políticas mais propositivas e racionais. Mas também se deve considerar que a repressão nos espaços de humilhação social que são as quebradas é muito mais pesada.

    – A mídia não vai falar bem dos protestos, claro. Mas pelo que ví o ranço ficou mais dentre a classe média do que dentre o povão. Ainda a difamação poderia ser revertida com a ajuda de comunicadores sociais – artistas e gente com respaldo popular. Mas isso somente se o movimento estivesse conectado com esse povo. Falo de Ferrez, Mano Brow, Cooperifa. Já que o público atuante tende a ser jovem.

    -Não foi só aí que o ato esteve esvaziado. No começo do ano houve luta contra o aumento em Franco da Rocha e não apareceu absolutamente ninguém de fora. Nem do MPL, nem da USP, nem de partidos ou grupos políticos https://www.facebook.com/ContraOAumentoDaPassagemEmFrancoDaRocha
    Sei que São Paulo é cidade vitrine e o que passa em SP influencia na gestão das demais cidades. Mas há algo estranho nessa seletividade e no fato de que os do centro achem que seja uma obrigação os da quebrada aparecerem mas eles nunca aparecerem nas quebradas.

    -O fato de ser a gestão Haddad- futuro candidato a governador ou presidente – explica a dimensão midiática. Do lado dos conservadores cabe testar como ele reagirá frente a movimentos, além do possível desgaste político. Do lado da esquerda radical é uma oportunidade de criar tensão e medir também a força que terão ante um governo que não poderá usar as palavras de Kassab. Haddad jogou para a plateia pois não usou a GCM e a repressão ficou na conta de Alckmin, mas verbalizou contra a “violência”, angariando aplausos do outro polo.

    -O MPL sai ganhando porque conquistou o almejado reconhecimento -foi página inteira da Folha, com direito a elogio velado. Note que o dirigente dos metroviários tentou capitalizar mas foi posto de lado. E vozes governistas falam em diálogo, o que em política significa espaço em conselhos e possibilidade do governo explorar ideias novas.

    -Para outros tantos, os atos são um momento de viver a vida de forma heroica. O romantismo de uma juventude portadora do belo e do justo antes que o passar dos dias derrube os peitos e os pênis e todos se vejam comendo pipoca no cinema do shopping. Ou se vejam correndo dos velhos amigos para que não ressurjam os papos sobre um outro mundo possível.

    -A USP ganha dos dois lados. Numa ponta, tem o prefeito e vários gestores na administração. Na outra, uma fornada de proto-gestores se dizendo capazes de mobilizar turbas que só a arte mobiliza, porque é divina. De todo modo, a universidade continua no poder. Como sempre esteve depois que desbancou a igreja e o exército.

    – O que há de mais rico em tudo não é o conteúdo das reivindicações, mas a forma. Talvez se esteja iniciando um canal de pressão externo sobre o executivo que pode ser produtivo se for tomado pelas quebradas.

    -No meio de tudo haverá, como sempre há, os oportunistas tentando dar golpe de pauta. Ecologistas, feministas, defensores dos animais e tantos outros tentarão fazer com que o movimento carregue suas bandeiras. Talvez alguns ufólogos.

    É isso!

  3. O comentário grotescamente assinado «Ombudsman das lutas sociais» é uma infâmia.
    Nos últimos dias, a coberto do anonimato e usando pseudónimos variados, esta pessoa tem procurado lançar o descrédito sobre o Movimento Passe Livre de São Paulo. Primeiro acusou-o de não ter contribuído para pagar a fiança daqueles detidos na manifestação de 6 de Junho que não são estudantes. Essa acusação é falsa e caluniosa. Agora, a mesma pessoa procura acentuar as clivagens criadas pelo capitalismo entre os trabalhadores mais qualificados e os menos qualificados, numa questão que interessa a todos eles. Note-se que esta actividade infame ocorre precisamente quando o MPL-SP está no meio de uma luta difícil e que pode ser vitoriosa.
    Essa pessoa calunia o que os outros realizam, mas não apresenta nada que ela tenha realizado. Se se tratasse de um provocador ao serviço das empresas de transporte, da polícia e da Prefeitura, não faria melhor.

  4. Além de ser totalmente descabida as colocações. Hoje, por exemplo, tiveram mais de 10 mil pessoas nas ruas. Chega a ser risível a afirmação de que se trata de um movimento na USP. O cara, na verdade, primeiro tem a tese, depois vai atrás de um argumento ou outro para tentar comprová-la.

    Outra besteira é dizer que a redução da passagem pouco importa para a população. Pode ser verdade que, para o tipo médio de trabalhador com carteira assinada, não faça tanta diferença no que diz respeito ao seu percurso casa-trabalho-casa. Mas ele possivelmente tem uma esposa, filhos, que vão à feira, ao mercado, ao posto de saúde, ao cinema, ao baile funk, tanto faz. E tem um enorme contingente de trabalhadores, como ele mesmo reconhece, que são autônomos, que não são apenas os chamados vendedores ambulantes. Existe hoje, por exemplo, uma enorme quantidade de trabalhadores que se classificam como pequenos empreendedores, que compõem em grande parte a chamada nova classe C, e estes também tiram o dinheiro da passagem do próprio bolso.

    Conheço esse papo do Ombudsman, já foi mais perspicaz, mas o cara parou no tempo.

  5. Leio o título de uma matéria que diz que: “Aumento de R$ 0,20 na passagem obriga paulistanos de baixa renda a pular refeições”
    Nela, escutamos garis, office-boys, trabalhadores que ganham menos de mil reais afirmarem o quanto faz diferença em seus bolsos ter que pagar por um transporte de péssima qualidade.
    Colo abaixo a fala deles:

    Humbertina, que ganha pouco menos de R$ 1000 por mês, estima em R$ 50 o valor adicional gasto com transportes após o aumento da passagem. “Por isso os protestos pela redução são importantes”.

    A estudante e auxiliar administrativa Caldineya Oliveira Santos, 23, afirma que deixou de se alimentar entre o almoço e a hora em que chega em casa da faculdade. “Almoço no trabalho, por volta do meio dia, e depois só como lá pelas 23h. Meu salário de R$ 900 não permite que eu pague R$ 3,20 no transporte e me alimente direito”, diz.

    Para o gari Célio Ferreira, 35, o novo preço prejudica muito quem tem um orçamento limitado. “Deixo de comprar alimentos ou às vezes até mesmo uma garrafa de água”, afirmou. Segundo ele, que recebe R$ 800 por mês, o preço justo para o transporte público seria “no máximo R$ 1,50”. Após o reajuste na passagem, Célio passou a gastar R$ 26 a mais por mês.

    O office boy Rodrigo Oliveira, 19, reclama que continua recebendo o vale transporte no valor de R$ 3. “Os outros R$ 0,20 eu tiro do meu bolso. Vira e mexe deixo de comer um lanche na rua, porque para quem ganha R$ 700 por mês, como eu, o aumento pesa no orçamento”.

  6. Respondendo ao cartaz nas mãos do jovem negro, paga-se passagem porque é regime de concessão de serviço público. O Estado não tem como dar tudo pra todo mundo sem cobrar, também. Tudo tem um custo, de um jeito ou de outro a gente pagaria, mesmo que dessem de graça, provavelmente com qualidade pior ainda.

  7. Daiana, você está certa, tudo tem um custo e alguém tem que pagar. Mas a questão que fica é: porque só quem usa é que tem que pagar? Ou melhor, porque só os pobres pagam a conta? Isso seu comentário nem toca.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here