Por Campos Roxos

O ato estava marcado há mais de uma semana e, apesar de parte do Movimento ter um dia antes ocupado a Câmara de Vereadores, que fica do outro lado da cidade, foi mantido para a mesma data e local. A deliberação deste ato foi tirada no Passeio Público, espaço onde acontecem as assembleias das mobilizações que se iniciaram em junho em Salvador, e deveria ter por destino o Centro Administrativo da Bahia – CAB, onde ficam vários poderes do governo estadual responsáveis pela realização das reivindicações dos manifestantes, principalmente a Governadoria.

Devido ao horário e local, não era esperada muita gente, e na hora que se iniciou o ato tinha aproximadamente 140 pessoas, muitos estudantes de escolas próximas ao ponto de saída, além dos já conhecidos “P2”. Depois outros se agregaram. Saímos do ponto de encontro aproximadamente às 10h, pela av. Luís Viana Filho (conhecida popularmente por “Paralela”), no sentido Aeroporto, e fizemos a volta em frente à quarta via do CAB, por um “tour burocrático”: Secretaria de Segurança Pública, Assembleia Legislativa e Governadoria.

Ao chegar na praça, eu e dois compas vimos um garoto com farda de colégio sendo enquadrado pela polícia num ponto de ônibus próximo, então seguimos em direção a tal situação para entender o que acontecia. O policial disse que soube que o garoto estava nervoso e queria depredar o ônibus. Eu tentei conversar com um policial dizendo que o garoto já estava calmo e que eles poderiam liberá-lo. Mas isto gerou uma confusão ainda maior e um deles quase senta a mão em mim. O clima ficou tenso, fui ameaçada, mas no final todos nós fomos liberados.

Logo no início do ato, na sua frente e “dando a linha”, estavam o Levante [juventude ligada à Consulta Popular] e a UJS [Juventude do PCdoB]. Era clara a intenção de fazer daquele ato uma maratona: correr por todo aquele deserto que é o CAB, uma Brasília em miniatura, sem incomodar muito e terminar o mais rápido possível. Daí alguns setores começaram a puxar palavras de ordem problematizando esta pressa do bloco governista. As palavras de ordem puxadas por eles eram as já conhecidas e recuadas, que mais se autopromoviam do que expressavam os objetivos daquele ato.

Mesmo com a galera dando o gás para ser a diretoria da maratona/manifestação, conseguimos dar uma segurada no trânsito da classe média, que estava chateada fazendo buzinaço. Claro que em respeito ao buzinaço sentamos no chão e gritamos palavras de ordem expondo que não tínhamos carro e que queríamos passe livre geral. Aí o bloquinho governista veio brigar com a gente, alegando que o ato era onde eles estavam e em direção, o mais breve possível, ao CAB. Cerca de dez minutos depois nos juntamos a eles, mas já estava claro que aquele ato era composto por dois blocos. Passamos a chamá-los de burocratas e rolou algum tensionamento.

Mas o bloco da frente, mesmo depois das reclamações sobre a velocidade da manifestação, continuou a passos largos, o que nos forçou a sentar novamente no chão, e desta vez, seguramos por vinte minutos. Fizemos a volta pela grama, em frente à quarta via do CAB, e paramos lá durante dez minutos, mas desta vez apenas com quinze pessoas, pois a galera seguiu correndo para chegar logo ao destino final.

Ao chegar à Secretaria de Segurança Pública – SSP, encontramos uma barreira policial. Uma das pessoas puxou um jogral e fez uma fala dizendo que estávamos ali, na SSP, para simbolicamente demonstrar nosso repúdio à repressão da policia, tanto às manifestações quanto nas quebradas.

Já na Assembleia Legislativa o mesmo sujeito fez outra fala, dizendo que queria que o governador da Bahia [Jaques Wagner, PT] e o prefeito de Salvador [ACM Neto, DEM] se mostrassem dispostos a marcar uma audiência para implementar o passe livre e usou como exemplos as vitórias em Porto Alegre e Goiás. Apareceu o deputado Marcelo Nilo [Presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, PDT] e se comprometeu a realizar uma audiência pública no dia 8 de agosto, às 14:30.

Por último, na Governadoria, pela terceira vez o mesmo sujeito tomou a fala, desta vez dizendo que só estávamos ali para saber se o governador topava a audiência do dia 8 de agosto. O secretário de Comunicação [Robinson Almeida] ficou enrolando, gaguejando e até se passando da gramática normativa, principalmente porque houve muitas vaias e acusações de “mentiroso”. Pressionamos por respostas também sobre a truculência da polícia. Inclusive denunciamos que ali mesmo entre nós havia policiais sem identificação.

Fomos embora, fizemos passe livre [colocar as pessoas para dentro dos ônibus sem pagar a tarifa] na saída do CAB, com o indicativo de irmos à Câmara de Vereadores às 14h, em solidariedade à ocupação que acontece neste lugar.

Os leitores portugueses que não percebam certos termos usados no Brasil
e os leitores brasileiros que não entendam outros termos usados em Portugal
encontrarão aqui um glossário de gíria e de expressões idiomáticas.

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