Trabalhadores do Diário do Pará, grupo de Jader Barbalho, reivindicam o estabelecimento de um piso salarial mais justo, implantação do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração e pagamento de hora-extra, entre outros direitos

Repórteres, repórteres fotográficas/os, editoras/es, diagramadores, revisoras/es, e paginadoras/es do jornal Diário do Pará e repórteres e coordenadoras/es do Portal Diário Online (DOL) decidiram parar suas atividades por tempo indeterminado. A greve será deflagrada nesta sexta-feira, 20 de setembro. Desde abril, o Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA) tenta diálogo, sem sucesso, com a direção do Grupo Rede Brasil Amazônia de Comunicação (RBA), afiliada da Band, da qual os trabalhadores fazem parte. Mesmo com atos públicos, protestos e a visível indignação de seus funcionários, a empresa recusa qualquer negociação.

Posicionado entre os maiores veículos de comunicação do Norte e Nordeste, o Grupo RBA paga um dos salários mais baixos da categoria no Pará. Repórteres e repórteres fotográficos ganham apenas R$ 1.000 brutos, por exemplo. Com descontos, o salário pode chegar a cerca de míseros R$ 800. Não há sequer um Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR). Há jornalistas que estão há quatro anos trabalhando na empresa recebendo reajustes insignificantes, com salários iguais aos que estão sendo pagos a recém-contratados, denunciam os trabalhadores.

Este ano, o Diário do Pará ganhou cinco prêmios no “The International Newsmedia Marketing Association (INMA) Awards 2013″. No entanto, o jornal “mais premiado do mundo”, como o departamento de marketing insiste em frisar, não oferece nem mesmo água potável aos funcionários. “Estamos aqui para denunciar que essas conquistas se devem ao suor de homens e mulheres que sequer ganham o bastante para se alimentar com decência todos os dias do mês. Tampouco deixaremos que a ameaça de demissão e o assédio moral voltem a calar qualquer um de nós”, afirma o grupo, em carta aberta.

Os profissionais denunciam que a água do bebedouro é suja e amarela. As equipes que cobrem Polícia não dispõem de equipamentos adequados de segurança e, diariamente, colocam a vida em risco em busca de notícias. As centrais de ar da redação não têm manutenção adequada. Carros que carregam equipes todos os dias têm problemas mecânicos que demoram meses para serem corrigidos, afirmam. À noite, próximo ao fechamento, no horário de pico, não raro precisam revezar computadores porque não há nem mesmo onde sentar por falta de cadeiras e máquinas suficientes.

O grupo exige o piso salarial da categoria e melhores condições de trabalho (vide carta aberta em anexo). Já foi conquistada a adesão da maioria absoluta da redação do Diário e do site DOL. Profissionais de cadernos inteiros vão parar.

AMEAÇA

O Grupo RBA é controlado pela família Barbalho, que faz parte do oligopólio que domina os meios de comunicação no país. A comissão de trabalhadores, que integra o movimento “Jornalista Vale Mais”, encabeçado pelo Sinjor-Pará, está desafiando empresários e administradores que, além da pressão psicológica, exercem enorme influência política nos mais diversos setores. Na última semana, a produtora da TV RBA Cristiane Paiva, foi demitida após reproduzir no Facebook uma cópia de seu contra-cheque. A segunda demissão ocorreu logo em seguida. O repórter Leonardo Fernandes foi dispensado sem justificativa, tendo trabalhado cinco anos na empresa – dois deles sem carteira assinada. O assédio moral também já está se tornando mais visível no DOL, afirma o grupo.

“À sociedade em geral, que diariamente consome a informação que produzimos, reafirmamos o compromisso com a qualidade do nosso trabalho, porque entendemos que a informação séria, produzida com responsabilidade, é a base para a sociedade democrática que todos desejamos construir”, diz a carta aberta. “Conclamamos todos os colegas de profissão, trabalhadores, estudantes, movimentos sociais e sindicais para que nos ajudem a ampliar nossa voz diante de todas as mazelas expostas. Queremos que a família Barbalho entenda que o compromisso com a informação de qualidade não pode ser menosprezado e, com isso, se disponha a garantir um mínimo de condições decentes para que seus funcionários cumpram com sua função social de informar bem a nossa população”, finaliza o grupo.

Carta aberta à direção do grupo RBA de Comunicação

Nós, jornalistas do Diário do Pará e do Diário Online (DOL), com o apoio do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor), declaramos à direção do grupo RBA de Comunicação que estamos em franca campanha por melhores condições de trabalho, remuneração, pelo fim da superexploração da nossa mão de obra, da intimidação e assédio moral que enfrentamos diariamente. Exigimos a abertura imediata das negociações entre a direção desta empresa e seus trabalhadores para a avaliação da nossa pauta de reivindicações, anexa a esta carta. Também exigimos a imediata interrupção dos processos de demissão em curso e todo tipo de retaliação a funcionários que se manifestam a favor de melhores condições trabalhistas.

Informamos aos diretores desta empresa e a todos os colegas jornalistas, de todos os veículos de comunicação do Pará e do Brasil, que não ficaremos mais calados diante de todas as atrocidades que enfrentamos para realizar nosso trabalho. Nenhum de nós se conformará com um salário líquido que não chega a mil reais, com as frequentes horas extras nunca pagas, com cadeiras e computadores sucateados, que prejudicam nossa saúde com cada vez mais gravidade, com a falta até mesmo de água potável na copa e de papel higiênico nos banheiros.

Nenhum de nós reproduzirá novamente o discurso de que “é normal o jornalista trabalhar muito e ganhar pouco”. Uma miséria, na realidade. Não é normal! Não deixaremos mais que nosso sofrimento como trabalhadores seja ocultado por todos os prêmios conquistados a duras penas e que fazem o Diário do Pará se autointitular como “o jornal mais premiado do mundo”. Estamos aqui para denunciar que essas conquistas se devem ao suor de homens e mulheres que sequer ganham o bastante para se alimentar com decência todos os dias do mês. Tampouco deixaremos que a ameaça de demissão e o assédio moral voltem a calar qualquer um de nós.

Com o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará (Sinjor) em nossa retaguarda, denunciaremos toda tentativa de desrespeito à nossa dignidade como seres humanos e trabalhadores. Defenderemos aguerridamente todas as reivindicações contidas em nossa pauta e não arrefeceremos nem nos intimidaremos até que haja uma negociação efetiva entre a direção desta empresa e seus funcionários, com ganhos reais para nossa categoria. Usaremos de todos os instrumentos trabalhistas, políticos e jurídicos para que nossa causa nunca mais volte a ser ignorada.

À sociedade em geral, que diariamente consome a informação que nós produzimos, reafirmamos o compromisso com a qualidade do nosso trabalho, porque entendemos que a informação séria, produzida com responsabilidade, é a base para a sociedade democrática que todos desejamos construir. Conclamamos a todos os colegas de profissão, trabalhadores, estudantes, movimentos sociais e sindicais para que nos ajudem a ampliar nossa voz diante de todas as mazelas aqui expostas. Queremos que a família Barbalho entenda que o compromisso com a informação de qualidade não pode ser menosprezado e, com isso, se disponha a garantir um mínimo de condições decentes para que seus funcionários cumpram com sua função social de informar bem a nossa população.

Pauta de reivindicações dos jornalistas do Diário do Pará e do Diário Online (DOL)

1 – Piso salarial de R$ 1.908,25 para todos os jornalistas que trabalham no jornal Diário do Pará e no Diário Online, lotados nas funções de Repórter, Repórter Fotográfico, Produtor, Webjornalista, Diagramador, Ilustrador e Multimídia. Com progressão a cada ano de trabalho efetivo, partindo da categoria A à categoria C.
2 – Queremos o estabelecimento de um Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR), com estabelecimento de categorias A, B e C para todas as funções referidas no item anterior.
3 – Incluir editores do Diário do Pará e coordenadores do Diário Online no Acordo Coletivo 2013, estabelecendo piso salarial para tais categorias com acréscimo de 40% sobre o piso salarial de repórter.
4 – Instituir o tíquete-alimentação de R$ 253,25. Esta é a estimativa da cesta básica deste ano feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese.
5 – Reintegração ao quadro de funcionários da empresa do repórter Leonardo Fernandes, lotado no caderno Você do jornal Diário do Pará. Esta comissão de jornalistas considera que a demissão do funcionário é uma clara retaliação a nossa iniciativa de reivindicar melhorias salariais e em nossas condições de trabalho.
6 – Propomos uma avaliação dos dados do quadro funcional do Diário do Para e do Diário Online nos últimos 12 meses para saber se foram feitas todas as reposições dos postos de trabalho ou se está havendo sobrecarga de atividades aos jornalistas e estagiários que trabalham na empresa.
7 – Manifestamos nosso desejo de que seja incluído no acordo coletivo o início de uma discussão com a direção do jornal para a construção de uma proposta de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) como forma de recompensa pela nossa participação nos lucros da empresa.
8 – Também queremos que a empresa reinstitua o pagamento de biênio em percentuais de reajuste que diferenciam o salário dos novatos para os mais experientes que o Diário do Pará já pagou para seus funcionários como política de incentivo.
9 – Propomos a participação dos funcionários na implantação do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) que será implantado no grupo RBA.
10 – Igualar as remunerações de quem trabalha no interior do Estado com quem trabalha em Belém.
11 – Equipamentos de segurança para todos os jornalistas que fazem cobertura policial, incluindo os que cobrem somente em escalas.

Trabalhadores do Diário do Pará e Diário Online (DOL)
Belém, Pará, 18 de setembro de 2013

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