Casa Viva: Histórias infantis politicamente correctas

E se a Branca de Neve fosse feminista? E se o capuchinho Vermelho não deixasse que o caçador interferisse na cadeia alimentar? Leitura das histórias de sempre, à luz de novos princípios e com novos objectivos.

Entrada livre.

3 COMENTÁRIOS

  1. Tenho andado desde há alguns dias a pensar neste evento, organizado por uma associação cultural anarquista ou libertária. Numa primeira leitura imaginei que a intenção seria irónica, mas alguma coisa me soou mal, voltei a ler e reli de novo. É mesmo a sério.
    Stalinismo sem Stalin é o mais aterrador de tudo. O Big Brother já não precisa de ser exterior, é interiorizado por aqueles mesmos que antes se destinavam a ser apenas vítimas. E chegamos assim a esta lastimável versão do autonomismo: Seja você mesmo o seu próprio Big Brother. É o que a chamada esquerda tem hoje para nos oferecer.

  2. Não adianta expulsar a realidade pela porta que ela volta pela janela. Alguns exemplos:

    a) Na história da Chapeuzinho [Capuchinho] Vermelho, tal como originalmente recolhida por Charles Perrault nos Contos da Mamãe Gansa, o lobo come a menina. E não há caçador algum para salvá-la; morta ficou, morta permanece, e com ela morta a história se encerra. A cadeia alimentar foi respeitada, mas a “moral da história” recomenda às menininhas que jamais confiem em estranhos. Sai a quebra da cadeia alimentar e entra a opressão de gênero?

    b) Na história da Branca de Neve dos irmãos Grimm ela não é posta a dormir por uma maçã enfeitiçada, mas sim por sufocação: a maçã entalou em sua garganta. Sequer foi despertada pelo beijo amoroso do príncipe encantado: o que houve, na versão dos irmãos Grimm, é que o príncipe achou-a tão bonita morta que quis levar o caixão para seu castelo, e com o solavanco da carroça a maçã desentalou de sua garganta e ela pôde respirar e voltar a viver. Sai a opressão de gênero e entra a necrofilia?

    c) No Japão, onde a morte ocupa outro lugar no imaginário social que não o de grande inimiga a ser postergada a todo custo (dietas, remédios, cirurgias plásticas, etc.), é comum, mas muito comum mesmo, que gente morra nas histórias. Mesmo nas histórias mais “fofinhas”, sempre há alguém que morre, e em geral é de morte “matada”, não de morte “morrida”. Apologia ao assassinato?

    d) Como contar uma história de piratas sem assassinatos, mutilações, maquiavelismos e coisas horrendas como o keelhauling? Seriam politicamente corretos apenas aqueles da Ilha dos Piratas, nos parques da Disney?

    Moral da história: muito melhor que contar histórias politicamente corretas é lidar, junto com as crianças, com as opressões do cotidiano. Na prática, e não no mundo da fantasia.

  3. DA FARSA COMO PRELÚDIO À TRAGÉDIA ou
    Do autonomismo caricatural ao neojdanovismo cultural: [in ?]voluntário deboche/homenagem ao realismo socialista, de triste memória…

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