o riso que vês em minha face não é fácil / é fruto de siso, infortúnio e amargura. Por Bruno Vilas Boas Bispo
Que não se leve a sério este poema
Porque não fala de amor, fala da pena.
Hilda Hilst, in Sonetos Que Não São
odeio escrever. a vida,
suponho, tem mais possibilidades
o que me compele é apelo de sangue
palavra: que se entranha, se exaspera
algo só conhecido por demônios que me habitam
e cri que os crio. cravo. sou mangue
berço da maré: vida,
lama, morte, vida, morte. lama
poemas são feitos de rugas, restos e lágrimas
não se espante com minha pouca idade
o canto é pranto de séculos
praticado – amiúde – lá no Recôndito
amarantos, alaúdes, crisântemos, ataúdes
o atavismo do poeta se confunde à vida
ou o é
dos aedos aos neoconcretos
sonetos perfeitos servidos sem cerimônia
em casquinhas de sorvetes, ressoam
amalgamam o sofrimento humano
nem todo amor nem todo mar
nos dariam as asas necessárias
e que não recordes desses versos
quando amares, quando tua boca povoar
o sexo de alguém, ou o justo reflexo
o riso que vês em minha face não é fácil
é fruto de siso, infortúnio e amargura
são tormentas arrebatando firmamentos
creia: é duro aprender a sorrir, dói
locomotiva, a História me atropela
me suga as tripas, e as expõe na feira
afetos expostos não valem nada
dia a dia, no turno, continuo produzindo,
e é o que me dá de comer
no mais,
as portas da casa estão abertas
às pragas e às primaveras
tias-avós, trazem
tempero e temperamento,
cuja arrebatadora visita é certa
Fotografias de Robert Mapplethorpe
MÚLTIPLA ESCOLHA FACTOIDE
H maiusculada, a locomotiva denominada história atropela
o poeta – quiçá vate.
O musculoso & másculo maquinista, supostamente genial, era:
a) bolchevique
b) fascista
c) burguês liberal-conservador
d) gestor vétero-iluminista
e) crítico enfezado