descansa em paz enquanto / dedos espumosos te arrastam / através do convés. Por Poeta em Buenos Aires
Palinuro
Palinuro, oh escolhido!,
quantos humanos sorte igual têm,
de serem tão lidos, de serem lembrados?
A honra do teu nome transborda o tempo,
batizará tua jazida.
(será algum dia um túnel ou alguma
avenida?)
Palinuro, oh companheiro!,
contarão tua história nos saraus,
o homem comum tocado por deuses.
Qual mortal não almeja este dom,
partícipe de minhas bravas proezas?
(o nome de um grêmio estudantil, talvez dum
centro cultural).
Palinuro, oh diligente marujo!,
fecha os olhos agora,
deixa que o mar opere o timão,
descansa em paz enquanto
dedos espumosos te arrastam
através do convés.
(e não se esqueça
de confirmar o voto
com o verde botão).
Aplauda o poeta
Calado, caipira estúpido!
Senta-te aí!
Aplauda no ritmo,
ou te desço o cacete!
Agora grite, agora venere o imperador!
Vai, de joelhos,
não está vendo o resto
das pessoas, caipira?
Te quebro as pernas, anda!
Olha, pega este copo, bebe
mais vinho. Aplauda o grande ator,
aplauda o poeta.
No ritmo certo,
seu burro!, não consegue
entender a música?
Você ganhará uma bordoada para cada segundo
que não estiver imitando as pessoas ao seu lado,
proletário de merda!
Ilustrado com uma obra de Mário Cesariny de Vasconcelos.