Você deixaria passar impune o sequestro da história de um movimento?

O Coletivo Tarifa Zero Salvador, federado nacionalmente ao Movimento Passe Livre, esteve, na manhã do dia 17/05/2014 (sábado), na atividade de formação realizada por um grupo que se autodenomina, perante a imprensa e demais movimentos sociais, de MPL-SSA.

Resolvemos ir a esta atividade para dialogar com os grupos que se fizeram presentes nesta formação e denunciar no local o que consideramos um fato gravíssimo, o sequestro da sigla, dos símbolos e da história de um movimento social organizado há quase 10 anos: o Movimento Passe Livre. O Coletivo Tarifa Zero Salvador, ao participar do evento, não teve qualquer intenção de implodi-lo. Pelo contrário, entende como positivo qualquer atividade que busque fortalecer a pauta da Tarifa Zero, mas não poderia deixar de denunciar a forma como esta formação específica estava sendo divulgada.

Além do autodenominado MPL-SSA, o evento contou com o apoio de mais dois coletivos que já não fazem mais parte da Federação Nacional do MPL, o MPL Guarapuava e o MPL Curitiba. Este último expulso da Federação por permitir agressões machistas em seu meio. Já o MPL Guarapuava se afastou da Federação por iniciativa própria, não participando do último Encontro Nacional do MPL e sequer deu um retorno aos demais coletivos da Federação a respeito do autoafastamento. Simplesmente sumiu e reaparece alguns meses depois articulado com estes outros dois coletivos que não fazem parte da Federação Nacional do MPL.

Entretanto, mais estranho que a participação destes dois coletivos que outrora foram do MPL, é perceber o apoio sistemático do Levante Popular da Juventude a este sequestro dos símbolos do MPL. O Levante Popular aponta como prioridade o fortalecimento dos movimentos sociais e, entre eles, o movimento feminista. A legitimação deste desrespeito ao MPL e a aliança com um coletivo com um histórico de agressões machistas é uma contradição que deve ser levada aos seus militantes.

O argumento sustentado pelos sequestradores da sigla MPL é o de que todo e qualquer grupo que foi às ruas nas Jornadas de Junho de 2013 é legítimo para se apropriar do MPL, independente das suas práticas e interesses, como se um movimento social se resumisse a uma pauta ou a um momento da sua história. Imaginem se a moda pega?

Esta prática abre espaço para a apropriação indevida da história de todos os movimentos sociais brasileiros e, se agora é feita por um grupo que se autoidentifica de esquerda, nada impede que logo a frente seja feita também por grupos ainda mais conservadores. Nenhum movimento social é dono da pauta que dá sentido a sua existência, mas a sua história, com erros e acertos, não pode servir de abrigo àqueles que nunca se propuseram a construí-la.

Além disso, os movimentos sociais não são acessórios aos partidos políticos. Os movimentos sociais surgem para denunciar relações de exploração e propor um novo modelo de sociedade a partir de demandas concretas dos trabalhadores, como o direito à moradia, à terra, à saúde, a uma mídia livre, direito ao transporte público e tantas outras demandas sistematicamente negadas pelos governos e pelo poder do capital. Transformar o MPL em uma frente partidária e vinculá-lo ao jogo político pré-eleitoral é uma das maiores distorções que este grupo que sequestrou a sigla MPL vem cometendo.

É preciso que os demais movimentos sociais fiquem atentos. Esta prática oportunista não deve se generalizar! É hora de somar esforços para barrar este processo que vem acontecendo em Salvador através de uma ampla campanha pública para alertar aos desavisados e denunciar os envolvidos.

Que se entalem com as catracas aqueles que não tiverem a coragem de queimá-las. Oportunistas não passarão!

COLETIVO TARIFA ZERO SALVADOR

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