Navego em ti / Como quem ama o mar. Por Bruno Vilas Boas Bispo

“o poeta é um ente que lambe palavras”
Manoel de Barros

Águas se entranhando por seixos
Minha língua, teu sexo
Na beira do abismo uma cachoeira
Cá, eu, sem eira
Abocanho a origem do mundo…
Tua boca geme um som originário
Seu Som Enleva meu corpo
Relevo revela um arrepio
Com velo, te escorre
por entre as pernas
uma seiva
feita em saliva, mel e desejo:
………..>..Consubstanciação

Navego em ti
Como quem ama o mar
Com zelo, um raio irrompe o quarto
E te rompe a alma ao meio
Destruir a existência é função última do gozo
axioma primeiro da vida é findar-se
Eu rio, tu ri, nus, nós a nos…

(Foz)

a-mar

Ilustrado com uma obra de Carybé.

3 COMENTÁRIOS

  1. Bonito poema. Parabéns. Gostei sobretudo da aliteração que conseguiu dar a sensação sonora do caminho narrativo para o «a-mar».

  2. Parabéns pelo poema, ele é de uma sensibilidade tamanha, que nos inspira (e nos permite) poetizar nesses momentos turbulentos.

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