O maior ladrão rouba oito horas do seu dia. Inscrição num muro.

1 COMENTÁRIO

  1. IDEOLOGIA, NEUROSE E REVOLUÇÃO SOCIAL

    O pendor sacrificial do militante que pretende se tornar um “herói da classe operária” está fundado em alguns equívocos. Um deles, talvez o maior de todos, consiste em pensar que as massas não se revoltam por falta de informação acerca dos dispositivos econômicos e políticos do capitalismo. Comprovadamente, o discurso militante – isto é, todo aquele que pretende explicar aos proletários a injustiça e a irracionalidade do sistema capitalista – dirige-se a surdos.

    De fato, aqueles que se levantam às cinco horas da manhã para trabalhar – e, além disso, passam duas ou mais horas por dia indo e voltando (de metrô, ônibus e/ou trem) de casa para o local de trabalho – têm de se adaptar, seja como for. Assim, se quiserem continuar suportando a vida de merda que levam, têm de afastar do pensamento toda e qualquer veleidade crítica.

    Se, repentinamente, os proletários concluíssem que estão destruindo suas vidas a serviço de um sistema absurdo, enlouqueceriam ou cometeriam o suicídio. Para evitar essa angustiante consciência, racionalizam e recalcam tudo que poderia perturbá-los, engendrando uma estrutura de caráter adaptada (leia-se: neurótica) às condições mercantis. Conclui-se, pois, que tentar convencer os proletários de que eles são explorados é uma tarefa inútil. Simplesmente, porque eles tiveram que recalcar a consciência da exploração para torná-la suportável.

    Mas os militantes se julgam revolucionários e querem provocar “tomadas de consciência”. A experiência mostra que raramente o conseguem. Por que? Porque se chocam contra todos os mecanismos de defesa inconscientes e todas as racionalizações que os proletários elaboram para não tomar consciência da exploração e do vazio de suas existências. O discurso militante, ainda que pareça revolucionário, escorrega sobre a couraça psíquica das massas proletárias, sem produzir qualquer efeito conscientizador, porque repercute ameaçadoramente tudo que elas tiveram de recalcar para suportar o cotidiano de embrutecimento e miséria em que sobrevivem.

    (Esta discussão está apenas começando…)

    Publicado em Rizoma Autonomia, ano 1, nº #0, Outubro de 2001

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