Simpósio Internacional – Ficção e Realidade: para além do Big Brother

Centro Cultural de Belém. 14, 15 e 16 de Novembro.

Depois dos simpósios internacionais sobre “Direitos de autor na era da internet” e “Arte vs. cultura e indústrias culturais” em edições anteriores do festival, este ano, em colaboração com a associação La Quadrature du Net, o Lisbon & Estoril Film Festival organiza, nos dias 14, 15 e 16 de Novembro, um simpósio internacional sobre uma das grandes questões do nosso tempo, a da vigilância, em que participarão activistas, criadores e pensadores de renome mundial.

Contaremos com a participação de Julian Assange, de algumas das pessoas que têm trabalhado com Edward Snowden, do juiz Baltasar Garzón, de Noam Chomsky, do presidente do grupo Prisa, Juan Luis Cebrián, do professor e fundador do Software Freedom Law Center, Eben Moglen, do sociólogo Edgar Morin, da advogada Jennifer Robinson, dos escritores Céline Curiol e Eric Sadin, do historiador Rui Tavares, dos activistas da Quadrature du Net Philippe Aigrain e Jérémie Zimmerman. E muitos outros (activistas, jornalistas, realizadores, escritores, artistas).

Ficção e Realidade: para além do Big Brother

“No momento actual em que a realidade ultrapassa a ficção todos os dias, a tarefa do escritor é a de inventar o real.”    J.G. Ballard

Ficção e realidade. Eis talvez a ligação que Edward Snowden tenha desfeito com mais durabilidade. Os alertas jà tinham  sido lançados: a revelação do sistemas Echelon no final do século passado; multiplicação das leis terroristas, oligarquização progressiva do ecosistema da internet durante os anos 2000… Mas ao revelar, ou seja ao tornar reais, os dispositivos de vigilância que controlam cada aspecto da nossa vida, em massa e sem o menor critèrio, Edward Snowden transformou uma inquietação pelo que virá num terror presente.

Ficção e realidade portanto, mas também e talvez sobretudo ficção e (i)materialidade. Porque se ninguém tinha conseguido imaginar, ou antecipar a arte, a dimensão da vigilância à qual somos submetidos, é essa mesma desmaterialização da vigilância que nos deve interrogar. Como é que o cinema, a literatura, podem captar o que irá deixar o corpo, essa circulação de bits que não podem ser controlados? Como contar essas vidas que se afastam cada dia mais do mundo físico ao qual fomos habituados? Que laços se tecem entre a resistência técnica dos activistas para reconstruir a nossa autonomia e a nossa soberania e as novas narrativas que se apropriam do universo digital?

Teremos nós regressado à casa de partida, a de Ivan Illich e de alguns pensadores críticos que descreviam a informática como veículo de uma sociedade de vigilância e de controle, e  que Michel Foucault descrevia como a natureza profundamente securitária dos nossos Estados modernos? Será necessário refrear o entusiasmo com que os indivíduos se apoderaram do digital para que se exprimam, comuniquem e se construam num novo espaço?

Enquanto que a nossa relação com o mundo parecia definida, são o invisível e o monstruoso a aparecerem subitamente para nos lembrarem o cerco a que somos submetidos pelos poderes. Como responder a isso? Ter-se-à que utilizar a figuração para melhor denunciar – expondo esses corpos mutados em ciborgues e interdependentes – ou será preferível a sugestão dessa influência impalpável que nos cerca, nos domina e nos ameaça com todo o seu peso?

É afinal de contas a relação da resistência com a arte que este assunto interroga. Pois se existe alguma lição a tirar das revelações contínuas sobre a vigilância massiva a que somos sujeitos, é a de que o simples facto de mostrar se tornou num acto de resistência por si. Mostrar aqueles que querem ver tudo, somente se não forem vistos. Mostrar também como poderemos construir as nossas próprias narrativas, desenhar um outro universo digital, independentemente ou em resposta ao seu olhar.

Neste tempo de poderes sem rosto, como estructurar essa resistência? Em quem nos poderemos  apoiar no futuro para defender as nossas liberdades, além dos meros sinalizadores de emergência? Serão os artistas, eternos reveladores de imagens,  visados? Não terão eles uma palavra a dizer nesta luta infinita? A própria criação não estará ela ameaçada por esta avalanche de bits, de algoritmos e de aparelhos de restricção automatizados cuja obsessão é a de fazer desparecer a imprevisibilidade, o risco, a anomalia? É a estas questões que iremos tentar responder reunindo alguns dos arautos desta luta virtual (Julian Assange, Jérémie Zimmermann, Jennifer Robinson…) e alguns dos criadores e pensadores convidados pelo festival. Pois afinal, uma vez que a luta dos invisíveis se iniciou, haverá melhor que um festival feito de imagens e de fazedores de imagem para abrir o debate?

1.Quem vigia os vigilantes?  – 15:00 Sexta 14 no CCB
2.Resistir, criar e mostrar num mundo de previsibilidade. Que narrativas face à vigilância e aos algoritmos? – 10:00 Sábado 15 no CCB
3.Da vigilância “feliz” à vigilância “medrosa”. Responsabilidade e reacção da sociedade civil – 15:00 Sábado 15 no CCB.
4.Julian Assange estará em directo em discussão com o público no Domingo às 10:00 no Centro de Congressos do Estoril

Centro Cultural de Belém
Praça do Império, 1449-003 – Lisboa

Mais informações aqui.

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