A precariedade, mais do que uma consequência, deve ser interpretada como uma forma de induzir o trabalhador a realizar constantes injeções de capital em si próprio, responsabilizando-o pelos frutos desse investimento. Por José Nuno Matos

A questão do trabalho, e das suas relações sociais, atravessa uma grande parte da obra do jornalista e teórico austríaco André Gorz (pseudónimo de Gérard Horst). Não tendo como objetivo realizar uma análise exaustiva das suas teses (as quais, por exemplo, englobam o ambiente e a ecologia), este artigo concentra-se na análise da evolução do pensamento de Gorz em torno destes temas [1].

Eles encontram-se presente logo nos seus primeiros escritos, à altura profundamente influenciadas pelo existencialismo de Jean Paul Sartre. Em O Envelhecimento, epílogo daquele que foi o seu primeiro livro publicado, O Traidor, Gorz expõe, numa nota com laivos autobiográficos, a descoberta do caminho irreversível para o trabalho por parte de um adolescente tardio de 36 anos de idade. “A experiência foi desagradável. Mobiliza retroativamente pilhas de pequenos pensamentos instantâneos a que ele não havia prestado atenção e que, à luz da sua descoberta, ganhavam um significado: ele tinha uma idade. Nem sempre fora assim. Por muito tempo, durante os anos muito importantes da sua vida (expressão que, escapando, o atordoou), ele não teve mesmo idade; recomeçava sem cessar, e os anos não contavam: ele não tinha mais idade aos 23 anos que aos 22, e não era indo para os 24 ou mesmo para os 25 que passaria a ter. Agora isso mudara: 36 anos já era uma idade, 37 ainda mais: trata-se da idade em que (por força de anúncios como «procura-se homem entre 30 e 35 anos» ou «especialmente habilitado, 35 anos») havia-se supostamente feito algo que nos determinasse e traçasse o caminho a ser seguido” (Gorz 2009, 16).

O início deste caminho, ao qual não se pode escapar, surge como uma espécie de marco que separa o jovem do envelhecido. Tal separação, contudo, não é fundada num desconhecimento em relação ao que aí vem, mas sim na sua pre-destinação. Ser jovem, nas suas próprias palavras, “era saber-se destinado a um papel de gestor, não de inventor” (idem, 23). Apesar de tudo, a vida até então permanecia indeterminada e informe, sem essa seriedade de existência garantida pelo trabalho. A partir do momento em que se tem um trabalho, “esta vida […], apagando-se nessa noite anónima, cessa de me pertencer, torna-se a caducidade de projetos de que não serei mais o autor […] e fará de mim pouco a pouco um Outro” (idem, 24).

Desta forma, Gorz descreve a sensação de uma vida que confronta o seu sujeito como um objeto exterior, dotado de uma dinâmica própria; de uma vida que, no fundo, adquiriu uma vida própria, alheia à vontade de quem a produz todos os dias. Estes, na realidade, resumem-se a meros compassos de gestão de uma carreira, compondo uma ordem temporal em que o futuro não é mais do que a concretização, sem margem de erro, de um plano minuciosamente definido no passado: “E porque insensivelmente a tua estátua se adestra e, vivo, sentes já a naftalina, o bálsamo, a honra, a urina do velho” (idem, 32).

Ford_assembly_line_-_1913A eliminação parcial da miséria alcançada pelas sociedades «neocapitalistas» representava a consolidação deste processo. A atribuição de uma cidadania social e política à classe operária, marca dos trinta anos gloriosos vividos após a Segunda Guerra Mundial, veio permitir ao trabalhador não só libertar-se das necessidades mais prementes, como também passar a usufruir de padrões de consumo até então reservados às classes mais privilegiadas. Ao deixar de se basear na exploração máxima do trabalhador, a produção industrial passou a auferir de uma mão-de-obra integrada, institucionalmente representada pelo sindicato, então elevado a parceiro social. À semelhança da mais-valia, a intolerância em relação ao sistema capitalista já não era absoluta, mas relativa.

O acesso a um nível de vida mais cómodo e estável não representa, todavia, o fim da contradição fundamental que atravessa a relação social do trabalho. Pelo contrário, a maior integração do trabalhador no processo produtivo traduz “a contradição formal entre a essência activa, a iniciativa técnica do trabalho e o estatuto do executante passivo que a hierarquia da empresa continua a impor ao trabalhador” (Gorz 1968, 63). Esta essência ativa – que, curiosamente, Gorz designará de «capital humano» – vem, portanto, opor-se “à exigência inerte do capital; aos homens que deram – e que pedem para dar – todas as suas capacidades criadoras para uma tarefa que fora a vida deles […] o capital, repentinamente, declara: «Parem. O que vocês fazem não traz lucro, logo não vale nada»” (idem, 110).

Num primeiro momento, o capitalismo procura garantir a submissão disciplinada do operariado, desenvolvendo esforços no sentido da prevenção de um desenvolvimento excessivo das suas capacidades. A industrialização do sistema de ensino, visível na sua dualização – mais especializado e técnico para os filhos dos operários, mais «humanístico» para os filhos das elites –, na criação de ciclos mais curtos nas universidades ou na introdução de estágios profissionais, visa, precisamente, mitigar a práxis criadora. Todavia, num segundo momento, essa limitação revela-se ineficaz perante a evolução das tecnologias de produção e a necessidade de uma mão-de-obra qualificada, polivalente, dotada de uma certa bagagem científica e teórica. Este conflito entre “os interesses particulares dos capitalistas” e “o interesse geral do capitalismo” (idem, 128) obterá a sua resolução por via da emergência de uma classe tecnocrata. A relevância do seu papel reside, por um lado, na introdução de novas formas de gestão da força de trabalho, capazes de responder aos ensejos acima mencionados; e, por outro, por se posicionar, em termos simbólicos, fora do campo de luta de classes, uma vez que o seu objetivo não é político, mas sim científico: “Só é verdade para ele aquilo que funciona, só são válidas as proposições imediatamente aplicáveis. O resto é utopia” (idem, 130).

maio 68Face a este desafio, o movimento operário deveria ser capaz de elaborar uma alternativa anticapitalista que partisse de uma noção renovada de pobreza, conforme a actual experiência material de quem trabalha, ou seja, que se defina com base no “conjunto de possibilidades (especialmente culturais, sanitárias e médicas) e das riquezas que são negadas ao indivíduo” (idem, 29). Tal alternativa pressupunha “o controlo sindical, sob todos os aspetos da relação de trabalho, de forma a: 1) subordinar e adaptar as exigências do processo de produção às necessidades dos trabalhadores; 2) reduzir o domínio deixado ao arbítrio patronal; 3) instaurar finalmente um verdadeiro contrapoder operário, capaz de contestar e opor-se positivamente ao sistema de decisão da gestão capitalista” (p. 50). No fundo, algo muito similar à ideia de controlo operário, defendida por autores como Ernest Mandel, a título de exemplo.

Mais tarde, num prefácio à readaptação desta obra, sob o título Reforma e Revolução, Gorz defenderá que as revoltas de Maio de 68 constituirão o reconhecimento deste conjunto de possibilidades. No entanto, este não deixará de ser expressão de uma sensibilidade inconsequente, fruto da ausência de uma organização que, abrangendo todas as dimensões da sociedade, se demonstrasse capaz de “construir a ofensiva metódica e persistente para submeter ao controlo e ao poder da classe operária a condição que lhe é proposta nas fábricas e na sociedade” (Gorz 1975, 24).

Os anos subsequentes, de facto, serão marcados por uma distanciação em relação ao marxismo e por uma aproximação às doutrinas ecologistas. Aquela que é, talvez, a sua obra mais conhecida, Adeus ao proletariado, reflete este percurso. Ao contrário de algumas leituras sociológicas sobre a mesma, esta obra reivindica a abolição do trabalho, encarando tal como um objetivo político, não como algo que corresponde necessariamente a uma evolução no quadro do regime económico prevalecente. Neste sentido, a expressão «Adeus ao proletariado» apresenta um duplo significado político. Remete, por um lado, para a crise do proletariado enquanto classe social, passando os trabalhadores a compor, nas suas próprias palavras, “uma não classe de não trabalhadores que prefiguram, mesmo no seio da sociedade existente, uma não sociedade” (Gorz 1980, 104). Aqui, o termo «não trabalhadores» não deve ser interpretado no seu sentido literal, mas como uma nova força que já não possui uma relação de identificação com o trabalho, como decorria com os operários industriais, então reduzidos a uma minoria. A maioria, segundo Gorz, “pertence a esse novo proletariado pós-industrial dos sem estatuto e sem classe que possuem empregos precários de auxiliar […], de operário de ocasião, de temporário, de empregado a tempo parcial” (idem, 106); aqueles para os quais o trabalho “é um tempo morto, à margem da vida, aonde um se desocupa a ganhar dinheiro” (idem, 106).

A expressão “Adeus ao proletariado” não deixa, por outro lado, de constituir uma espécie de proclamação política. O proletariado, na sua visão, constitui o outro lado da moeda do capital, não a sua oposição, uma vez que o trabalhador apenas produz o capital após ter sido previamente integrado num conjunto de relações sociais heterónomas, pré-determinadas, independentes da vontade de quem nelas se encontra imbuído. Mesmo o controlo operário, anteriormente advogado por Gorz, é reduzido a um ensaio de autodeterminação que ocorre num quadro geral de heterodeterminação, acabando por reproduzir as suas estruturas base. Neste sentido, qualquer proposta política emancipatória deveria cortar com a moral socialista, a qual exige do trabalhador “o amor à despersonalização, isto é, o sacrifício de si” (idem, 20). Ao invés de se partir de uma realidade que era, por si só, pré-determinada e de se construir uma identidade com base nela, dever-se-ia reduzi-la ao mínimo possível, de forma a se libertar o tempo, preenchendo-o de atividades autónomas, realizadas “não pelo dinheiro, mas por interesse, prazer ou qualquer outra razão” (idem, 11).

Presente em toda a sua obra, a relação dialética entre autonomia e heteronomia assume uma relevância acrescida no estudo do pós-fordismo e das mudanças operadas no trabalho. Em Crítica da Razão Económica, publicada em finais da década de 90, Gorz analisa aquela que considera ser a “última ideologia do trabalho”. Inspirada em parte pelas reformas de gestão introduzidas na indústria automóvel nipónica, esta pretende responder à divisão da força de trabalho em diversos núcleos, com base na importância das suas funções. De modo a ser funcional, esta fragmentação deveria ser legitimada, em termos ideológicos, pela ideia da empresa enquanto comunidade de partilha (o patriotismo de empresa, para utilizar uma expressão do autor), à qual pertencem todos os trabalhadores, independentemente do seu estatuto; e pela atribuição de maiores responsabilidades no processo de produção, algo garantido, a título de exemplo, por círculos de qualidade, grupos semiautónomos onde os trabalhadores podem tecer considerações sobre métodos de trabalho e de organização. Estas mudanças, todavia, representam não a eliminação da heteronomia, mas sim a sua deslocação, dado que se limita a uma secção específica do processo, sem qualquer intervenção ao nível da definição do tipo de produto a produzir e das suas quantidades. Ainda que demarcada, esta medida pretendia usufruir da auto-organização, da engenhosidade e da criatividade, encarando tais traços como recursos a serem desenvolvidos e explorados pela empresa; e, ao mesmo tempo, delegar no grupo descentralizado o controlo sobre a conduta de cada um dos seus membros.

A cada vez maior dependência do capital em relação ao trabalho vivo será, posteriormente, desenvolvida por Gorz nas suas últimas obras, em particular Misérias do presente, Riquezas do possível e O Imaterial e, entre este período, um pequeno artigo intitulado «A pessoa transforma-se numa empresa»: Notas sobre auto-produção. Neste, Gorz procura ilustrar o seu argumento através da seguinte citação, realizada pelo director de recursos humanos da Daimler Chrysler: “«Os colaboradores da empresa fazem parte do seu capital… A sua motivação, o seu savoir-faire, a sua flexibilidade, a sua capacidade de inovação e a sua atenção aos desejos da clientela constituem a matéria-prima dos serviços inovadores… O seu trabalho deixa de ser medido em horas, mas de acordo com a base dos resultados realizados e a sua qualidade… Eles são empreendedores autónomos»” (Gorz 2003a, 71).

A primeira parte deste trecho remete-nos, em primeiro lugar, para o conceito de capital humano, o qual concebe a produção de mais-valia como crescentemente assente num conjunto de qualidades humanas que não apenas a propulsão corporal. Neste âmbito da sua análise, é notória a influência do grupo editorial da revista Multitudes (Antonio Negri, Yann-Moulier Boutang, Maurizio Lazzarato) no seu pensamento, uma influência, de resto, que será mútua, não unidirecional. À semelhança destes autores, Gorz recorre ao conceito de intelecto geral, proposto por Marx nos Grundrisse, o conjunto de capacidades gerais do cérebro humano, alimentadas tanta pela formação profissional, como pela artística e científica, ou outro tipo de formação exercida no tempo livre, posteriormente aplicadas no processo produtivo. Noutras palavras, a força de trabalho opera por via da imaginação, da reflexão, do conhecimento, da comunicação, até da emoção, algo que corresponde “simultaneamente um capital social, produzido por toda a sociedade, e um capital pessoal, na medida em que existe somente porque a pessoa conseguiu apropriar-se deste capital social, e pô-lo em prática desenvolvendo na sua base um conjunto de faculdades, capacidades e saberes pessoais” (idem, 72).

Os critérios que presidem a aquisição deste conjunto de faculdades, capacidades e saberes estão, no entanto, longe de serem objeto de uma decisão autónoma. A partir de conceito de mobilização total, de Combe e Aspe, Gorz defende que no novo mundo do trabalho, as pessoas vêem-se forçadas a “transformar-se em capital”, interiorizando em si próprias os critérios exigidos pelas empresas. De uma dominação exercida de forma direta, a estratégia patronal desloca-se “para a dominação sobre a autoprodução, isto é, sobre a extensão e divisão das capacidades e saberes que os indivíduos devem adquirir, e sobre as condições e modalidades da sua aquisição” (idem, 72). Não se trata, neste sentido, de considerar que a relação entre o capital e os trabalhadores passa a ser mediada pela renda (uma tese defendida por Negri e Hardt), dado que “o capital permanece genericamente exterior ao processo de produção do comum” (Hardt 2012, 14), ou seja, que a produção resulta de uma cooperação social entre trabalhadores autónomos, exercida dentro e fora do local de trabalho, limitando-se o capital a apropriar os frutos de uma produção realizada em comum. Gorz, pelo contrário, mantém a tese da heteronomia, identificando nas novas relações de trabalho a supressão da autonomia do trabalhador, por exemplo, através da imposição de objetivos e metas que lhe são exteriores. Esta cooperação, este comum, são ambos organizados pelo capital.

O trabalhador, categorizado enquanto empreendedor, confronta-se com um mercado que o avalia conforme os seus critérios – aquilo que hoje em dia surge comumente designado por empregabilidade – e lhe concede oportunidades a partir desse cálculo. Neste sentido, a precariedade, mais do que uma consequência, deve ser interpretada como uma forma de induzir o trabalhador a realizar constantes injeções de capital em si próprio, responsabilizando-o pelos frutos desse investimento: “Cada um deve sentir-se responsável pela sua saúde, pela sua mobilidade, pela sua aptidão para horários variáveis, da actualização dos seus conhecimentos. Ele deve gerir o seu capital humano ao longo da sua vida, não cessar de investir através de cursos de formação e compreender que a possibilidade de vender a sua força de trabalho depende do trabalho gratuito, voluntário, invisível” (Gorz 2003, 25). Apesar de poder exigir o desenvolvimento de qualidades humanas específicas, de orientar a conduta da pessoa, o capital revela-se, porém, incapaz de enquadrá-las por completo: “O conhecimento, inseparável da capacidade de conhecer, é produzido ao mesmo tempo que o sujeito conhecedor. Ela é um valor verdade antes de ser um meio de produção. (…) Na medida em que toda a forma de conhecimento, mesmo instrumental, contém necessariamente uma relação implícita com o conhecimento-verdade e com as capacidades de conhecer e de aprender, todo o conhecimento, mesmo técnico, é não apenas fonte potencial de riqueza e de sentido, mas também riqueza em si.” (idem, 76, 77).

167333-occupy-wall-street-brooklyn-bridgeExiste, portanto, uma impossibilidade da parte do capital de definir, de forma absoluta e incontornável, o uso e sentido que se dará a uma determinada qualidade ou saber, mesmo que estes tenham sido produzidos num quadro de relações sociais heterónomas. Assim, “quanto mais o trabalho apela aos talentos, à virtuosidade, à capacidade de produção de si próprio que “define, a seus próprios olhos, o valor” do colaborador, mais as suas capacidades tenderão a exceder a sua execução limitada a uma tarefa determinada. (…) Ele investirá a sua dignidade no exercício gratuito, fora do trabalho, das suas capacidades: jornalistas escrevem livros, designers gráficos publicitários criam obras de arte, informáticos demonstram a sua virtuosidade como hackers e como agentes de software livre, etc., diversos modos de salvar a sua honra, de «salvaguardar a sua alma»” (idem, 24).

O autor identifica, deste modo, um potencial de mudança proporcionado pela massa de trabalhadores precários, mas que por isso não deixam de ser dotados de um conhecimento adquirido e desenvolvido socialmente. Este potencial deveria ser incentivado, entre outras medidas, pela atribuição de um rendimento de existência, universal e totalmente independente da situação de cada um. A este nível, ele distancia-se da proposta de rendimento universal garantido advogado por autores como Yann Moulier Boutang ou Carlo Vercellone [2], o qual tem contornos essencialmente distributivos: “esta concepção [rendimento de existência] não considera simplesmente o acto de aplicação laboral de toda a pessoa. Ela legitima-o: se o rendimento de existência “remunera” o trabalho invisível, que é a fonte de produtividade do trabalho visível, esta remuneração autoriza a exigir-se que o trabalho invisível torne efectivamente o trabalho visível, o mais produtivo possível. Mantemo-nos assim sobre a esfera do valor trabalho e do produtivismo” (idem, 30). A proposta defendida por André Gorz vem – não opor-se inequivocamente, pelo menos em termos estratégicos – , mas propor uma outra lógica, bastante próxima da de ideia de reforma revolucionária, defendida na sua primeira obra Estratégia Operária e Neocapitalismo. A reivindicação, seja ela qual for, deve basear-se primordialmente numa reflexão política, sendo à sua luz que se deve realizar um cálculo económico, isto é, a heteronomia do trabalho deve estar ao serviço da autonomia política. Se um dado quadro económico não consegue satisfazer uma reivindicação política, então é esse quadro económico que deve ser dispensado e não o contrário. Assim, “não é necessariamente reformista uma reforma reivindicada não em função do que é possível no quadro de um sistema e de uma gestão dados, mas do que deve ser tornado possível em função das necessidades e das exigências humanas. […] Ela não se determina em função do que pode ser, mas do que deve ser” (Gorz 1968, 13).

Notas:

[1] Apresentação realizada no âmbito do curso “Pensamento Crítico Contemportâneo”, organizado pela UNIPOP no ISCTE-IUL, em Lisboa, no passado dia 11 de outubro de 2014.

[2] Ver, por exemplo, Vercellone, Carlo, Mounier, Jean-Marie (2007), «Fondements et faisabilité du revenu social», em Multitudes «Bioeconomie, Biopolitique, Biorevenu», n.º 27 [online]

Bibliografia:

Gorz, André (1980), Adieux au prolétariat, Paris, Galilée.

Gorz, André (2003), «A pessoa transforma-se numa empresa. Notas sobre trabalho da autoprodução», em Manifesto, «A minha política é o trabalho», n.º 4.

Gorz, André (1968), Estratégia Operária e Neocapitalismo, Rio de Janeiro, Zahar Editores.

Gorz, André (2003a), L´immatériel, Paris, Galilée.

Gorz, André (2009), «O Envelhecimento», em Revista Tempo Social, Vol 21, N.º1 [online]

Gorz, André (1975), Reforma e Revolução, Lisboa, Edições 70.

Hardt, Michael (2012), «O comum no comunismo», em Imprópria, n.º 1, 1.º semestre.

13 COMENTÁRIOS

  1. Muito interessante a chamada do artigo: “A precariedade, mais do que uma consequência, deve ser interpretada como uma forma de induzir o trabalhador a realizar constantes injeções de capital em si próprio, responsabilizando-o pelos frutos desse investimento”…

    E estas injeções de capital não se limitam à produção do trabalhador pelo próprio trabalhador. Contemplam também a própria instrumentalização e operacionalização do sistema, presentes, muitas vezes, nas pautas e nas práxis de luta dos próprios trabalhadores, principalmente em sua forma institucionalizada, mas também em sua forma autonôma.

    Uma cangalha mais acolchoada e macia não altera a condição das bestas. E quantas não são as vezes que se luta não pela abolição da cangalha, mas pela melhoria da cangalha? Afinal, dizem, temos que cangalhar, ou melhor, tripaliar…

  2. Padaqui,

    tenho acompanhado seus excelentes e pertinentes comentários em outros textos.

    Mas qui vou problematizar. Qual seria a luta para abolir o trabalho? Qual forma ela poderia ter hoje?

    As lutas dos trabalhadores historicamente sempre foram lutas para fugir do trabalho. Ganhar mais, trabalhar menos.
    Melhorar as condições de trabalho não poderia ser visto também como lutar para tornar o trabalho menos penoso, tornar o trabalho menos trabalho?

  3. Caro Leo Vinicius,

    também acompanho seus comentários e também os considero muito pertinentes. Do ponto de vista pragmático, você tem razão: as lutas dos trabalhadores sempre visaram atenuar as nefastas condições impostas pelo capitalismo. É justamente aí que reside uma das várias contradições das lutas dos trabalhadores. À medida que vão conquistando melhorias em suas condições de vida, o fazem mediante à lógica do sistema capitalista, e não sob a lógica da sua classe. Conforme vão adquirindo bens e propriedades, sua tendência é se distanciar de seus pares, perpetuando a alienação e criando um estranhamento não só no âmbito do local de trabalho, mas fora dele também. Por exemplo, um trabalhador que às duras penas consegue adquirir a casa própria, estará numa situação material melhor, mas muito provavelmente verá com outros olhos aqueles que não têm casas. Seu olhar agora será de um detentor de propriedade privada, e, possivelmente, conservará e defenderá sua propriedade do mesmo modo que a defende o capitalista…

    Não sei se consigo me expressar adequadamente, mas minha crítica se situa na direção em que as forças e energias dos trabalhadores são empregadas, por isso foi muito pertinente a indicação de leitura do Ulisses: “Portanto, o que se chama de “trabalho socialmente útil” é toda a atividade que mantém a sociedade capitalista e reforça suas estruturas hierárquicas” (O QUE É TRABALHO SOCIALMENTE ÚTIL? http://www.oocities.org/autonomiabvr/trabutil.html). E um importantíssimo dado do mesmo texto: “noventa e quatro por cento de tudo o que a humanidade produz são usados para manter e perpetuar hierarquias” (ibidem). Não sei se a informação é exata ou verdadeira, mas faz todo o sentido, pois se mais de 1/4 de todos os recursos do planeta são utilizados somente pelos EUA (que usa metade dos impostos arrecadados com gastos militares); se 10% da população mundial detém 90% da riqueza mundial e os outros 90% dividem os 10% restantes da riqueza, então a realidade não deve estar muito longe deste dado. Assim, grosso modo, o trabalho se reduziria drasticamente à medida que os trabalhadores não mais canalizassem tanta força para produzir, reproduzir e ampliar o sistema capitalista. Uma cangalha mais confortável tende a que produzamos mais e em melhores condições, ao mesmo tempo que ratifica nossa condição de mula…

    Se eu não estiver enganado, a práxis e a teoria devem caminhar juntas. Muito embora a realidade e a correlação de forças atuais não nos seja favorável, especialmente nessa fase tão “espetacular”, conforme Guy Debord denunciara há quase 50 anos, cabe a nós trabalhadores insistirmos não no socialismo da miséria, mas no socialismo da abundância, mas não da abundância dos moldes capitalistas ou tão somente dos moldes capitalistas: que abunde nossa emancipação e nosso poder criativo e criador! Já produzimos riquezas demais (as constantes crises do capital estão aí para confirmar esta realidade), mas reivindicamos o direito à preguiça de menos. Não basta só distribuir mais ou melhor a riqueza que produzimos. Não faz sentido que, com tantos avanços científicos e tecnológicos, ainda trabalhemos tanto, e, pior, lutemos para continuar trabalhando. Na verdade o trabalho só faz sentido dentro deste sistema capitalista que aliena o trabalhador e cria o estranhamento entre si, ou seja, a tal luta de todos contra todos…

  4. A moral capitalista que unia e dava sentido último ao trabalho nas empresas americanas em que trabalhei por mais de 20 anos assemelha-se muito à descrição da moral socialista de Gorz: o amor à despersonalização, o sacrifício de si.
    Só conseguia obter resultados – ou, em outras palavras, trabalhar bem – a equipe cujos membros soubessem transcender a sua subjetividade (e as neuroses decorrentes de subjetividades infladas) em prol das metas objetivas que lhes impunha a alta gerência, tendo por pano de fundo, as metas da empresa.
    Creio que é deste lugar de validação moral que os capitalistas (e refiro-me aos operários que creem no capitalismo, que sustentam o capitalismo, que rejeitam o socialismo, que votam pela manutenção do capitalismo, que se recusam a falar em revolução, que rejeitam a condição de explorados, enfim, aos meus colegas de empresas americanas de ponta) retiram a força e a coesão, assim como provavelmente é dessa validação moral que os socialistas retiravam a sua.
    O individualismo, quando entendido como egoísmo, também não tem vez numa empresa capitalista de ponta.
    Talvez seja por isso que tentativas de demonização moral do capitalismo e dos capitalistas surtem tão pouco efeito nas massas.

  5. Mas Padaqui,

    Você fala de avanços tecnológicos, de alta capacidade criativa, como pressupostos e indícios históricos da possibilidade do socialismo da abundância. Teríamos chegado a essa compreensão sem as lutas reivindicatórias?

    E inversamente, você acredita que a melhoria das condições de trabalho seja um fator inibidor dos impulsos revolucionários?

  6. Camarada Padaqui,
    esse dado de 94% destinado à manutenção das hierarquias é um completo absurdo, a não ser que se considere que quase tudo que a classe trabalhadora consome é a ela permitido consumir para manter as hierarquias. Além disso, o gasto militar dos USA está longe de representar 50% do Orçamento estatal (mesmo se pensarmos nos gastos secretos) e quanto aos reconhecidos corresponde a “apenas” 3,9% do PIB. Elaborei uma tabelinha sobre o tema, se interessar a alguém:

    https://www.dropbox.com/s/xpbly98xahch2iy/Tabela%20dos%20gastos%20militares%20-%20pablo.docx?dl=0

    No mais, reitero as perguntas do Taiguara. Inclusive, tendo a pensar o inverso da sua colocação “Uma cangalha mais confortável tende a que produzamos mais e em melhores condições, ao mesmo tempo que ratifica nossa condição de mula…”: a meu ver o aumento do nível de consumo, decorrente do aumento de produtividade e das concessões necessariamente feitas pelo capital via mecanismos de mais-valia relativa leva os trabalhadores a ampliarem cada vez mais suas demandas de consumo (sempre integrando o que ontem era luxo ao que hoje será “básico”), inclusive do ponto de vista cultural. Não dá pra dizer uma lei geral disso, até porque se fosse tão simples teríamos no Welfare State lutas cada vez mais radicais, o que não ocorreu, mas penso que de modo algum a gente pode interpretar isso como um processo em que os trabalhadores ratificam sua condição de mula. Alguns intérpretes de Junho, geralmente de base petista, ficaram abismados justamente com isso, e formularam a questão do seguinte modo: como um país que teoricamente estava em processo de melhoria permanente de sua estrutura social, redução de desigualdades, etc., acaba dando lugar a protestos e uma insatisfação popular tão grande?

  7. Caros Taiguara e Pablo,

    Em relação aos 50% dos impostos dos EUA destinados aos Militares, esta informação consta quase no início do documentário “The History of Stuff – A história das Coisas” (https://www.youtube.com/watch?v=zlaiQwZ2Bto), e assim como em relação aos 94% destinado à manutenção das hierarquias, reitero minha afirmação que, embora em não saiba se estes valores são exatos ou verdadeiros, para mim eles fazem sentido, não na idêntica medida com que são afirmados, mas em termos que de alguma forma expressam a realidade das grandes desigualdades inerentes ao sistema capitalista.

    Neste sentido, entendo que grande parte do que a classe trabalhadora consume é sim para manter as hierarquias, afinal do berço à morte, somos “produzidos” para um mercado de trabalho como mercadorias ou “recursos humanos”. Assim, quando passamos mais de vinte anos na escola, passamos não para nos educarmos (educar, do latim educere, ex (fora) + ducere (conduzir, levar), ou seja ‘conduzir para fora’ de nós nossas potencialidades), mas para nos formar (por na fôrma- ser formatado) segundo a demanda do mercado de trabalho. Aliás, se analisarmos atenciosa e friamente o quanto gastamos de nossos salários para que nos mantenhamos trabalhando, veremos que quase nada nos resta para utilizarmos segundo a nossa LIVRE vontade, nem mesmo no que nos deveria ser mais sagrado, o ócio:

    “De início os trabalhadores gozavam o seu lazer num quadro económico exterior ao capitalismo ou que, pelo menos, não era directamente capitalista. Nessa fase os bens e serviços consumidos nas horas de folga eram produzidos no âmbito doméstico ou em pequenas empresas de carácter familiar. Hoje, porém, nos países e regiões economicamente mais desenvolvidos a reconstituição da força de trabalho e a produção de novos trabalhadores passou a fazer-se inteiramente, ou quase inteiramente, dentro da esfera do capitalismo. Por um lado, recorre-se para isso ao serviço de empresas, tais como escolas, restaurantes de fast food, centros comerciais, casas de jogos e muitíssimas outras. Trata-se ainda de um dos aspectos da extensão da proletarização, porque serviços que antes eram executados por membros de profissões liberais ou pela criadagem encontram agora um equivalente nos serviços prestados por empresas cujos trabalhadores obedecem em tudo aos critérios da proletarização. O capitalismo apoderou-se das grandes oportunidades de mercado oferecidas pelos ócios”. (João Bernardo – disponível em https://comunism0.wordpress.com/desemprego-ou-crescimento-doproletariado/)

    E esta apropriação do ócio, custeada pelos próprios trabalhadores, se realiza até mesmo nas atividades consideradas as mais simples e inocentes:

    “ (…) E foi assim que os lazeres ficaram convertidos numa oportunidade de qualificação da força de trabalho. A tecnologia electrónica fornece o exemplo mais flagrante, pois sem a difusão súbita e maciça de variadíssimos jogos electrónicos teria sido impossível formar num tão curto período toda uma enorme quantidade de jovens aptos a laborar com a nova tecnologia.” (João Bernardo – idem)

    Estes apontamentos parciais mostram, do meu ponto de vista, que nem a integração maior de nós trabalhadores ao mercado de consumo no sentido amplo (alimento, vestuário, moradia, cultura, saúde, educação, etc) nem as conquistas de melhores condições de trabalho nos aproximaram de nossa real emancipação, ou barrarram a expansão da proletarização, ou impediram o estágio superior e inevitável à proletarização, a precarização. Isso não significa que eu penso que os direitos e melhorias conquistadas à duras penas por nós trabalhadores seja algo sem importância. Ao contrário, são vitais. Mas, insisto, muito dos valores pelos quais lutamos não representam nem nossas necessidades reais nem nossos anseios verdadeiros, muito embora a ideologia dominante nos leve a crer o contrário.

    Minha preocupação maior é que em nossas demandas e através de nossas lutas não sejamos levados à reforçar ainda mais as amarras que nos prende ao sistema capitalista, como muito comumente o aparato institucionalizado (mas não só ele) nos leva a fazer:

    “Foi a classe operária que, com as suas lutas contra a mesquinhez e estreiteza de espírito da capacidade capitalista, contribuiu para estabelecer as condições de um capitalismo normal. Sem parar, deve bater-se para preservar este precário equilíbrio. Os sindicatos são os instrumentos destas lutas, por isso preenchem uma função indispensável no capitalismo. Alguns patrões menos espertos não compreendem isto, mas os seus chefes políticos, mais avisados, sabem muito bem que os sindicatos são um elemento essencial ao capitalismo, e que, sem esta força reguladora que são os sindicatos operários, o poder capitalista não seria completo. Finalmente, se bem que produzidos pelas lutas dos operários e mantidos vivos pelos seus esforços e sacrifícios, os sindicatos tornaram-se órgãos da sociedade capitalista” (Anton Pannekoek – http://guy-debord.blogspot.com.br/2009/06/anton-pannekoek-o-sindicalismo.html)

    Abraços a todos, Padaqui.

  8. acredito que existem limites para os aspectos econômicos de qualquer luta proletária de postura revolucionária.
    Não obstante, segundo a tradição do pensamento materialista dialético, qualquer horizonte revolucionário só poderá ser forjado no seio de uma dada classe econômica e em sua auto-organização.
    Sem uma mobilização que tenha fundo econômico capitalista, os grupos revolucionários são apenas abstrações. Abdicando-se da verve revolucionária, as mobilizações comumente se reduzem a um entrincheiramento no próprio capitalismo.
    Mas se queremos apresentar nossa proposta sem sermos “dirigistas”, ainda assim o aspecto ideológico depende das lutas econômicas, pois são o solo mais fértil para a crítica do capitalismo.

    sobre a reflexão dos petistas trazida por Pablo, gosto de pensar no contexto da Argentina em 2001: uma massa de desempregados dificilmente lutará pelo fim do trabalho, pois antes do que pensar sobre a nova sociedade, eles pensarão na comida dos filhos. E isso faz muito sentido quando pensamos que a abundância capitalista vem dos processos de divisão do trabalho e coletivização do trabalho. A união dos trabalhadores também é resultado de uma união física, compartilhamento de um espaço comum (ainda que seja a fábrica, mas também a escola, o centro de saúde, etc).
    Por estimo que, embora por vezes se mostre como um labirinto com muitos becos sem saída, a luta econômica ainda é capaz de buscar novos caminhos coletivos; mas a didática de nossas posições críticas não suporta atalhos — as massas de trabalhadores não amarão a abolição do trabalho enquanto isso para eles representar de forma mais próxima a fome do que a libertação.

  9. Será que o proletariado está finalmente “integrado”? Duvido…

    Segundo o discurso ideológico do capital e do Estado, não há classes, todos são “classe média”, ou seja, vendedores e compradores livres, iguais, concorrentes, “capitais humanos”, com mais ou menos “sucesso” ou “méritos recompensados”, e com interesses mais ou menos “corporativos”, “colaborativos”. Quanto menos resistência a classe dominante enfrenta, mais essa utopia burguesa parece “realidade”… Porém, qualquer patrão conhece perfeitamente a realidade de que, por si mesmos, ou seja, sem ameaças nem recompensas, os trabalhadores não trabalham, e satisfazem suas paixões tomando tudo de graça… isto é, os patrões tem perfeita consciência de que todos os proletários do mundo formam uma classe, a classe dos que querem, saibam ou não, o comunismo pleno, luxuriante e universal.

    É certo que o proletariado é “ambíguo”. Mas isso não é para se lamentar. Sem ambiguidade não haveria contradição e toda mudança seria impossível.

    Então, que uns trabalhadores ganhem 10 mil e outros 1 real, ou que uns tenham uma cultura (ou estilo de vida, ou raça ou gênero…) e outros tenham outra “oposta”, esse é o status quo que importa à classe dominante estabelecer e estimular, para que seus escravos se massacrem por “méritos” e se sujeitem por “livre e espontânea vontade”. Então, o que importa? Na minha opinião, não holismos, espiritualidades, caridades, militâncias, autosacrifícios, culturas e identidades, sutilezas que só servem para definir estereótipos e culpar bodes expiatórios, mas exatamente o oposto: o materialismo egoísta e prático de resistir a se sacrificar por prêmios e chicoteamentos oferecidos pelos poderosos… egoísmo “chão” que é a única base da solidariedade de classe e único fundamento para uma livre associação universal dos indivíduos (comunismo) que possa superar o capital, a mercadoria, o trabalho e o Estado.

    É contra o trabalho que o proletariado, enquanto classe, age, isto é, por uma sociedade em que a atividade humana não assuma mais a forma de “trabalho”, mas sim auto-realização material e auto-produção dos desejos, pensamentos e paixões de indivíduos livremente associados, graças ao fim da propriedade privada dos meios de vida. Isso é o que os proletários de todo o mundo e de todos os tempos querem. A realização desse desejo material é impedida apenas pela má correlação de forças com a classe dominante, situação que os força a aceitar instituições mediadoras (sindicatos, partidos políticos, ongs…), reduzir a luta e “conversar” com a burguesia, para ao menos trabalhar o mínimo possível pelo máximo possível de meios de consumo (reformismo). Mas o menor acidente pode virar essa correlação de forças de uma vez por todas…

  10. olá!
    gostaria apenas de fazer uma pequena correção; André Gorz ( pseudônimo de Gérard Horst ) na verdade nasceu em Viena,portanto,um austríaco.
    Embora tenha escrito a maioria dos seus textos em francês.

    Obrigada!

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here