Desde a tarde do dia 14/04 a Reitoria da UFG está ocupada pelos estudantes moradores das Casas de Estudantes (CEUs), que reivindicam melhorias e ampliação da assistência estudantil. São ao todo 314 residentes nas CEUs. Agora, a reitoria pediu a reintegração de posse do prédio, sem ter dado nenhuma resposta para os estudantes. Fizemos essa carta no intuito de apoiar os estudantes, esclarecer a situação e exigir uma postura diferente da administração.

A administração tecnocrata da UFG, por sua vez, apresentou uma vaga carta de intenções, completamente desprovida de elementos concretos, capazes de atender minimamente aos legítimos anseios dos estudantes. E cabe perguntar: que estudantes são esses? Certamente não são os filhos da classe mé®dia e da elite, que fizeram a educação básica em escolas privadas de alto padrão e moravam com os papais em assépticos condomínios fechados. Ao contrário, são estudantes filhos de proletários, oriundos de escolas públicas, das periferias e cidades do interior, que superaram um oceano de dificuldade para cursar uma Universidade Pública e agora se vêem escorchados por uma falaciosa política de assistência estudantil que não lhes proporciona um mínimo de dignidade e leva muitos a não completar a graduação.

Para se ter uma ideia da justeza do movimento, basta citar que tais estudantes sobrevivem com uma bolsa alimentação de R$200,00 mensais, que devem ser suficientes para café da manhã de domingo a domingo, jantar sábado e domingo e almoço no domingo. Almoço e jantar de segunda a sexta e almoço no sábado são fornecidos pelo famigerado RU (Restaurante Universitário), terceirizado, e sobre o qual não há um efetivo controle por parte da UFG, o que resulta em unânime reclamação sobre a qualidade das refeições. Muitos, por sua vez, não possuem recursos para adquirir livros e tirar cópias de textos, o que traz enorme prejuízo ao seu desempenho acadêmico. Não bastassem esses aviltamentos, as Casas de Estudantes enfrentam enormes problemas de estrutura. Uma delas tem apenas uma pia, um fogão e uma máquina de lavar para atender a 150 estudantes.

Todavia, tais condições parecem ser insuficientes para obter compromissos efetivos de melhorias, por parte da administração da UFG, que segue a tergiversar com os infinitivos “ampliar”, “analisar”, “aumentar”, “autorizar”, “intensificar” (vide carta disponível). Ademais, e como era de se esperar de tecnocratas neo-liberais e autoritários, o Reitor “encerrou” as negociações até que a Reitoria seja desocupada. Isso significa a repetição tediosa do mesmo filme: os mandantes não aceitam o conflito, querem sempre apelar para o consenso, pois que este interessa sempre ao pensamento dominante e às forças que imperam nas as relações sociais e institucionais. Agora, além de tudo, pediram uma reintegração de posse, judicializando o debate político.

Há que se louvar, acima de tudo, a coragem e a atitude “insurrecional” tomada pelos estudantes, pois há uma profunda carência de atitude política na sociedade brasileira, que encontra-se em um estado de letargia profunda, provocada pelo arrefecimento dos movimentos sociais – em boa parte derivada da cooptação de suas lideranças -, pelo consumismo desarrazoado que seduziu milhões nos últimos anos, pela exponenciação do fundamentalismo religioso.

Os estudantes estão dispostos, ao que parece, a não capitular e manter-se firmes até que a administração da UFG atenda minimamente às suas reivindicações. Repudiamos a postura da administração da Universidade ter pedido a reintegração de posse e conclamamos a reitoria a retomar as negociações com os estudantes com propostas concretas de melhorias para que a ‘normalidade administrativa’, possa, enfim, ser alterada no benefício dos mais necessitados. Chamamos a todos que concordam com nossa perspectiva e posicionamento a assinar e divulgar essa carta.

Assinam, Márcio Antônio Cruzeiro – CGA Mariana Lopes Barbosa – DDRH

Victor Hugo Viegas de Freitas – BC

Aline do Carmo – CEPAE

Renato Cirino – FAV

Euler Araujo

Daisy Caetano

Narrira Lemos

Nayara Cristina

Maurício Ferreira Borges Júnio – CEPAE

Tarsilla Couto de Britto – Faculdade de Letras (FL)

Rafael Saddi Teixeira – Faculdade de História (FH)

João Lúcio – Faculdade de Informação e Comunicação(FIC)

Michely Coutinho – FEFD

Lídia Freitas – IQ

Milena Ferreira Lemes – Prograd

Francisco Vieira dos Santos – Prograd Francisco Tavares – FCS

Regiane Miranda – DMP

Meirilayne Oliveira – FEFD
Iêda Arriel – FEFD
Gabriela Domiciano – FEFD
Cleuber Cruz – EMAC
Karla Avanço – EVZ

Thaise Cristiane Prudente – FEFD

Sinval Filho

Prof. João Alberto da Costa Pinto Faculdade de História – UFG

Fernando Lacerda Junior – Faculdade de Educação

Alysson Fernandes Garcia – CEPAE

22 COMENTÁRIOS

  1. Também assinam,

    Maurício Ferreira Borges Júnio – CEPAE
    Tarsilla Couto de Britto – Faculdade de Letras
    Rafael Saddi Teixeira – Faculdade de História
    João Lúcio – FIC
    Michely – Coutinho – FEFD

  2. assino esse manifesto em apoio…. Pertenço a prograd

  3. Morei na CEU V entre 2010 e 2012 e essa situação que a companheirada se insurge agora já estava em questão. Aliás, foram várias tentativas de negociação nesse período, anterior a ele e que continuaram desde então. Em uma manifestação envolvendo falta de água e a péssima condição de alimentação no Restaurante Universitário, caminhamos da casa até a Reitoria trajando apenas toalhas de banho e fizemos um barulhaço na entrada do gabinete do reitor de então para conseguirmos reunião com toda a equipe da reitoria em busca de solução. Não foi sem muita pressão e só depois de vencer cada “argumento” da equipe, inclusive o atual reitor, que conseguimos minimamente resolver a questão da água e um acordo de que cada estudante que optasse poderia receber uma bolsa de R$ 350,00 para custear a alimentação onde quisesse. Desde então, a Procon vem desrespeitando esse acordo e constrangendo estudantes a não optarem pela bolsa ao mesmo tempo que a diminuindo. Todo apoio à luta da companheirada! Sem ela não haverá alternativa às péssimas condições de permanência na universidade que deveriam ser garantidas pela assistência estudantil. Na hora de fazer publicidade sobre inclusão na UFG, todo recurso necessário é utilizado, na hora de efetivar essa inclusão via assistência estudantil, não há recursos.

  4. Assino a carta-manifesto. Prof. João Alberto da Costa Pinto (Faculdade de História – UFG).

    Duas indagações:
    1) O que o DCE da UFG teria a dizer sobre a questão?

    2) Aspecto central a considerar: os dados oficiais referem-se a 23 milhões de reais anuais para UFG destinados às Casas dos Estudantes (dos campi – capital e interior). Pelo que sei, são 314 estudantes atendidos por essa verba. Considerem-se as contas: 23 milhões divididos por 314 é igual a 73.248,40 reais = o que cada aluno “receberia” por ano. Esse valor dividido por 12 (consideremos o ano fechado) teríamos um total per capita/mês de 6.104,00 reais. É óbvio que esses dinheiros são distribuídos em rubricas setorizadas, mas todas para atender esses estudantes. Contudo, as bolsas individuais são de 200 reais, junte-se a isso a ausência de condições razoáveis de habitação. Pelo que soube uma das casas os estudantes estavam sem água quente, claro que neste Goiás infernal, banhos de água fria são recorrentes, mas institucionalizá-los é que me parece uma afronta. O ponto chave da organização estudantil teria que ser este: controlar através de uma comissão permanente junto a reitoria (sem qualquer intermediação com o DCE ou qualquer outro órgão de representação estudantil da UFG [as representações pelegas, evidentemente]) a distribuição mensal desses dinheiros (como são verbas oficiais, o movimento deveria constituir essa representação com todo o apoio jurídico para se fazer valer como comissão permanente de moradores das CEUS), assim poderia interferir nas decisões de investimento ou ao menos saber exatamente para onde vão tais valores…

  5. ótimas colocações Prof. João Alberto e demais colegas!

    Força aos estudantes, pois amanhã é segunda-feira e provavelmente o alto clero da UFG não vai deixar barato!

  6. Desde já, estão convocados: Ernst Bloch, corifeu da esperança & Thomas Munzer, teólogo da revolução.

  7. Ora, com ilustres companheiros de jornada, o Ulisses também está convocado, mas caso não possa participar das negociações ao menos poderá jogar amendoins e algumas bananas para os macaquinhos que perambulam pela mata do campus II, local do prédio ocupado. Quem sabe possa até tirar uns selfies com eles, as fotos ficariam muito bem no seu livro de memórias.

  8. Do espetáculo ativista ao ativismo espetaculoso, haja
    passeatasprocissõespetiçõesabaixassinaturasmanifestividades & outras misérias…
    “Se os proletários só querem divertir-se em manifestações de rua, plantando ‘árvores de liberdade’, ouvindo discursos políticos, já se sabe o que acontecerá com eles: primeiro, água benta; depois, insultos. Por fim, a metralha. E a miséria, sempre.”
    Louis Blanqui (1851)

  9. Guilherme Borges da Silva – Doutorado em Sociologia pela FCS

  10. E o Ulisses esqueceu-se do ativismo espetaculoso dos “dândis”. O ativismo do tipinho que saltita aqui e acolá sempre com uma citaçãozinha muito esperta subtraída de páginas eruditas em sarcasmo; saltita Odisseu do criticismo de salão, saltita que os macaquinhos te acompanharão na miséria desses teus selfies literários bacaninhas…

  11. RACKET ou o clã dos …berto
    Era o Um, sem H; foram dois, sem memória ou sobrenome; Zé Ro morreu de susto, dizem que excelia na apneia.
    Al – (Mr.FamousNobody) plays a selfucked caricatura agachoassinada & autoproclamada de liderança – adentra o futuro, de costas…
    «A vitória pertencerá aos que souberem provocar a desordem, sem a amar.» Guy Debord, Internationale Situacionniste, número 1, 1968.

  12. Trecho de um pequeno conto do qual o Ulisses não conhece a autoria (é bem verdade que se trata de péssima literatura, não perde nada em não o conhecer), mas como gosta das pequenas vertigens literárias (e mais ainda das inocuidades debordianas) e como deve estar ansioso por mais um arroto d’além mar, das cavernosas profundezas dos que andam para a frente tendo que olhar o futuro para trás, lá vai:

    “Odisseu agora que já tens todo o futuro dentro de ti, diz-me lá, afinal, o que fizeste com a minha brilhantina se és careca?”

  13. Não querendo ser fiscal de debate, mas a coisa está descambando, e já que o comentário do ulisses em que ele cita Blanqui incomodou tanto podiam(os) parar de disputar a brilhantina e falar como camaradas sobre o tema das formas de luta e ativismo.

  14. Pablo, a frase do Blanqui é muito bonita e não incomodou ninguém em nada, ao contrário. Mas é curioso que o digas assim. Não há nenhum debate. O que há é a presunção dos sarcasmos do cavalheiro que assina “Ulisses” e aqueles assinados por “João Alberto”. Se você reler as missivas perceberá que o dandismo do “corifeu” antecede em muito o que você aqui diz: “e já que o comentário do ulisses em que ele cita Blanqui incomodou tanto…etc”. Repito: o tal comentário não incomodou em nada, muito ao contrário. Como o Ulisses havia feito a convocação ao “Bloch” e ao “Munzer”, apenas estendi o convite ao corifeu que tu achas que nos incomodou tanto… ora. Ele usou, sim senhor, todo o pote de brilhantina. Abraços aos dois. Encerro por aqui, ilustres camaradas.

  15. Por oportuno, repito um trecho de comentário (24 de maio de 2014 12:11): “Entre o escoliasta e o polemista, declaro minha preferência pelo primeiro – por razões de estilo e outras menos altissonantes.
    Entrei na roda para chacoalhar, sem chacota, uma dinâmica que me parecia – salvo equívoco – apologética e recuperadora”.
    Bertoal (“encerro por aqui…”) se foi. Farei o mesmo, deixando-o à vontade para, se mudar de ideia, monologar com o próprio umbigo sua ultratediosa Batracomiomaquia.

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