Conforme noticiado ontem pelo jornal O Popular (aqui), o governo estadual pretende abolir o subsídio da tarifa do Eixo Anhanguera, desfrutado por todos os usuários e usuárias do transporte coletivo na Região Metropolitana de Goiânia, até o começo do próximo semestre, substituindo-o por um subsídio direcionado apenas aos usuários e usuárias de baixa renda.

Atualmente, o governo estadual repassa à Metrobus um subsídio de R$ 6 milhões, que serve para custear a tarifa reduzida paga pela população em geral. Segundo o Presidente da Metrobus Eduardo Machado, empresa de capital misto que detém a concessão do Eixo Anhanguera, essa medida beneficiará 40 mil usuários de baixa renda, fazendo com que aqueles que não se enquadrem nessa categoria sejam obrigados a pagar o valor inteiro da tarifa. O presidente da Metrobus argumenta ainda que o valor inteiro, a ser pago pelos usuários de renda mais alta, será revertido para o benefício da população mais carente, chegando ao cúmulo do ridículo ao dizer que há “[…] casos que a pessoa ganha R$ 8 mil por mês e anda no Eixo em razão do trânsito e falta de estacionamento. Essa pessoa pode pagar a tarifa cheia”.

Ou seja, nos deparamos com mais um aumento da tarifa do transporte coletivo na Região Metropolitana de Goiânia, ao mesmo tempo em que o governo estadual pretende, novamente, dividir os usuários e usuárias do transporte coletivo por critério de renda, colocando-os uns contra os outros: o Governador Marconi Perillo recorreu à mesma manobra quando propôs a concessão de um passe livre estudantil que discriminasse os estudantes segundo o mesmo critério, critério que, por sua vez, sempre se mostra incapaz de abarcar os trabalhadores e trabalhadores que gastam boa parte de sua renda com o transporte coletivo. Como sempre, a promessa feita aos usuários e usuárias do transporte coletivo é a de que a medida levará à melhoria dos serviços prestados. Da mesma forma que sabemos que a grande maioria dos usuários e usuárias do Eixo Anhanguera não recebem R$ 8 mil por mês, sabemos também que a medida não levará à melhoria das condições de transporte na Região Metropolitana de Goiânia, tal como todos os aumentos tarifários anteriores.

É importante frisar que o acesso ao transporte coletivo incide diretamente no direito à cidade. Isto é, é por meio do acesso ao transporte público que temos acesso a hospitais, escolas, trabalho, lazer e outros serviços. Assim, quanto maior é a tarifa, mais penoso se torna o transporte coletivo e, portanto, mais restrito é nosso acesso a cidade. Tais medidas, que prometem a redução da tarifa por critérios de renda, são sempre medidas que restringem a quantidade de viagens mensais por passageiro, geralmente limitando-a a duas viagens por dia, como se somente precisássemos do transporte coletivo para ir e voltar do trabalho, além de serem incapazes de abarcar todas as pessoas prejudicadas com o aumento tarifário, pois, ainda que muitos usuários e usuárias não apresentem alto indíce de pobreza, não se beneficiando dos programas sociais do governo, o reajuste do Eixo Anhanguera implica numa reorganização dos gastos mensais, que implica necessariamente num maior peso na renda de toda a classe trabalhadora, fazendo com que esta tenha que fazer vários sacrifícios para conseguir pagar esse preço.

Para piorar, o governo estadual pretende ainda privatizar a Metrobus ou terceirizar a parte administrativa da empresa, tendo em vista a redução de custos. Segundo a reportagem, “a ideia é que se crie um consórcio com a participação da Rápido Araguaia, Cootego e Viação Reunidas […]”. Todos os usuários e usuárias do transporte coletivo em Goiânia e região sabem muito bem que essas empresas prestam um péssimo serviço, sobretudo levando-se em conta que a tarifa do transporte coletivo em Goiânia é uma das que sofreu os maiores reajustes no Brasil ao longo dos últimos anos.

A privatização da Metrobus e a concessão do Eixo Anhanguera a um consórcio formado por essas empresas será um enorme retrocesso para todos os usuários do transporte coletivo na região, que consiste em piorar a única parcela do transporte coletivo de Goiânia e região que, apesar das constantes superlotações, funciona minimamente bem, com alta circulação e um preço menos abusivo na tarifa.

Diante disso, o Tarifa Zero Goiânia participou hoje de uma pequena manifestação no terminal da Praça A, organizada pelos trabalhadores do transporte coletivo a convite do Sindcoletivo. Protestamos, junto com eles, contra a pretensão do governo estadual de aumentar a tarifa do Eixo Anhanguera e privatizar a Metrobus. Manifestamos a mais completa solidariedade para com o movimento dos trabalhadores do transporte coletivo e também a nossa mais completa disposição em construir essa luta, lado a lado, com eles. Convidamos a todos aqueles que se opõem a essas medidas a comporem mais essa mobilização em prol dos interesses comuns dos trabalhadores e trabalhadoas e dos usuários e usuárias do transporte coletivo, que partilham os mesmos inimigos: os governos estadual e municipal e as empresas de transporte coletivo.

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